— Você tem certeza? — Alice perguntou inquieta após ter contado a ela tudo o que eu acreditava, guardava esse sentimento incômodo a tanto tempo que chegou a ser um grande alívio dividi-lo com alguém.
— Não tenho certeza de nada, mas sinto como se tivesse algo errado, entende? Algo não se encaixa, preciso saber o que é.
— Muito bem, mas vamos ver como lidaremos com isso, não podemos simplesmente acusá-lo! — Ela exclamou. — Por hora, iremos descansar, amanhã começamos a investigar, tudo bem?
— Está bem. — Suspirei em derrota e voltei a deitar.
Passei a olhar para o teto durante um bom tempo, pensando nas circunstâncias que me levaram a chegar até aqui, não podia deixar de pensar em como algo dentro de mim pareceu ter despertado com o aparecimento de Miguel, afinal, não é algo que deve ser ignorado, havia algo curioso nele que me atraía como um imã, apesar de eu ter medo do que poderia encontrar, não deixaria de tentar.
Demorei para pegar no sono com esse turbilhão de pensamentos, nenhuma posição parecia confortável o suficiente, por mais que eu tentasse minha mente insistia em processar tudo. Joguei as cobertas de lado e me dirigi até o banheiro, passei água em meu rosto e me olhei no espelho, eu estava com a aparência cansada, abaixo de meus olhos olheiras eram visíveis, grunhi irritada e voltei para o quarto.
Impossibilitada de pegar no sono sentei na cama, puxei o cobertor até mim e me acomodei nele, peguei minha câmera e passei a olhar as fotos antigas, cada uma delas contava uma história e eu gostava de revivê-las.
Acordei com a luz da janela batendo em meu rosto, a câmera se encontrava em meu peito ainda ligada, coloquei-a de lado e me dirigi ao banheiro, assim que troquei de roupa, segui porta a fora com Alice ainda dormindo, como de costume fui uma das primeiras a chegar na sala, com minha falta de apetite decidi pular o café da manhã e seguir direto para a aula, coloquei a pintura de Dylan ao lado da mesa virada para mim, a tinta já estava completamente seca, a deixando ainda mais sombria.
Ainda era possível sentir o nó em meu estômago por conta da noite anterior, mesmo eu não sabendo o porquê, meu retrato ainda me dava calafrios. Dylan entrou alguns minutos depois com o rosto tempestuoso.
— Sabia que é falta de educação sair daquele jeito?
— Desculpe. — Balbuciei.
O tempo passou se arrastando com um silêncio constrangedor enquanto a sala ia ficando cheia aos poucos.
— Espero que todos vocês tenham feito um retrato autoexplicativo sobre seu parceiro dizendo-nos quem ele realmente é. Hoje iremos apresentá-los a todos, vocês farão uma breve explicação sobre sua obra deixando-as em exposição logo depois.
Dupla por dupla dirigiu-se até o centro da sala e fizeram suas apresentações, a maioria dos quadros eram coloridos e cheios de vida, mostrando a bondade de cada um, eles falavam bem um do outro, muito diferente da minha obra.
Fomos os últimos a apresentar, colocamos nossos quadros em cavaletes e fitamos a plateia, muitos ficaram de queixo caído, alguns apenas levantaram a sobrancelha em sinal de questionamento, mas ninguém disse uma palavra.
— Nessas obras buscamos expor aquilo que poucos veem, buscamos mostrar sempre aquilo que temos de melhor e ofuscamos o nosso lado mais sombrio, em meu quadro representei a Maya, pintei-a mostrando seus dois lados, sendo opostos um do outro, quero ressaltar que pude perceber sua pureza enterrada em tanta ironia e teimosia, o lado negro é aquele que todos nós temos, aquele que fica submerso no fundo da alma, só esperando para nos controlar. Agora, o lado cheio de luz é ela, Maya conseguiu me mostrar em alguns dias o porquê de ser tão especial, devo ressaltar que tais palavras não são vazias, aprendi muito com ela durante esse tempo, Obrigado.
Assim que Dylan terminou de falar percebi que havia prendido minha respiração, olhei em sua direção e dei um pequeno sorriso, respirei fundo e me pus a falar.
— Enquanto pintava Dylan passei a representar aquilo que ele não tem medo de mostrar. Somos reprimidos pela sociedade a sermos perfeitos, a agirmos de determinada maneira, mas Dylan não é influenciável em relação a isso mostrei seu ego forte, deixei transparecer a arrogância que emana dele e sua coragem em ser ele mesmo, apesar de eu saber que no fundo dessa roupa preta e da máscara de ignorância que você deixa transparecer há uma pessoa boa.
Assim que terminei de falar Dylan sorriu de modo sombrio para mim, o que me fez duvidar das minhas próprias palavras. Todos aplaudiam e a professora nos olhava satisfeita.
Eu havia ficado sozinha na sala, assim que deu o horário todos saíram apressados pela porta, eu observava meu retrato, reparava em como o branco e o preto se fundiam em harmonia, um completava o outro como se fosse um. Dylan tinha razão eu tinha esses dois lados dentro de mim, mas eles fazem de mim quem sou e eu gosto disso.
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A Revolta dos Caídos: A Luz e a Escuridão Irão Reinar
Teen FictionNo princípio, Deus criou o céu e a terra, que era vazia e sem forma, então em meio a escuridão foi criada a luz, feita para separa-la das trevas. Assim o paraíso foi feito reluzente e cheio de anjos gloriosos, tudo funcionava em perfeita harmonia, a...