Mais semanas passaram e eu estava começando a me sentir em casa com aquelas pessoas, elas passaram a ser minha família. Uriel mostrou ser bem mais sensível do que aparenta e Sofia era tão doce que era preciso me segurar para não manter ela comigo para sempre, Miguel passa a maior parte dos dias comigo, eu gostava da sua companhia, era reconfortante.
Treinávamos na maior parte do tempo, todos os dias eu aprendia novos golpes e melhorava meu desempenho em batalha, entretanto, todos os dias novos hematomas apareciam pelo meu corpo, por conta das quedas e da surra que eu levava a cada luta.
— Calma, isso vai sumir em algumas semanas. — Sofia me acalma enquanto senta ao meu lado.
— Não é isso, eu não me sinto nem um pouco forte, é como se fosse só eu. — Falo frustrada.
— Tudo ao seu tempo May. — Uriel fala carinhosamente. — Ainda não temos certeza de quando ou com que intensidade virão, então até lá é necessário termos paciência.
Suspiro desiludida e me entrego aos meus pensamentos, apesar de saber a verdade sobre mim, muitas perguntas rondavam soltas pela minha cabeça e acima de qualquer coisa o medo. Afinal, eu era a filha do diabo, o que mais eu seria capaz de fazer?
O sol já havia dado lugar às estrelas, a floresta ficava tão escura que parecia filme de terror, quando eu olhava fixamente para as árvores assombradas imaginava um demônio saindo de lá vindo em nossa direção. Tendo isso em mente me aconcheguei ao lado de Miguel enquanto os outros conversavam.
— Você lembra daquela vez que derrotamos dez anjos caídos de uma vez! — Uriel fala animado. — Aquilo foi tão incrível!
— Foi sim, ficamos de costas um para o outro, enquanto derrotávamos nossos inimigos, aquilo foi excesso de adrenalina. — Sofia complementa.
— E eu não sei!? — Uriel exclama.
Os dois sorriem um para o outro, mas o sorriso logo desaparece quando um barulho incomum ressoa da floresta.
— Algo está errado. — Miguel fala.
Assim que pronuncia a última palavra anjos caídos aparecem correndo em nossa direção com as asas abertas e espadas na mão em busca de sangue. Olho ao redor e entro em pânico, de repente é como se todo aquele treinamento não tivesse servido para nada, diante do real perigo lá estava eu, paralisada de medo.
Percebendo minha reação Miguel vem correndo ao meu encontro, segura meu ombro e faz com que eu olhe em seus olhos.
— Corra! Vá o mais longe que puder e não olhe para trás!
Mesmo incerta de que era o certo a se fazer, corri. Fiz o que Miguel mandou e parti para o meio das árvores encarando a escuridão absoluta, tentei não olhar para trás, mas era impossível não ouvir o barulho das espadas colidindo umas nas outras, ou o som das várias asas batendo contra o vento, o lugar ali estava tomado de inimigos e eu não fui capaz de ajudar minha nova família.
Minhas pernas passaram a reclamar depois de algum tempo correndo sem parar, já havia caído no chão algumas vezes ao tropeçar em pedregulhos ou raízes de árvores, meus braços e joelhos se encontravam em frangalhos, eu estava sem fôlego, era difícil sustentar meu corpo em pé, eu precisava parar. Os gritos aos poucos foram ficando inaudíveis, mas eu não parei, quando achei que estava longe o suficiente me dei ao luxo de sentar por alguns minutos.
A única coisa audível no local era minha respiração entrecortada, minha visão já havia se acostumado com a escuridão, mas ainda era difícil distinguir as coisas ao meu redor.
Antes de ter a chance de recuperar totalmente minhas energias, passei a escutar passos apressados vindo em minha direção, eu sabia que tinha grande chance de ser Miguel, mas eu não iria esperar para ver.
Me pus a correr novamente de forma abrupta, eu não sabia para onde estava indo, só sabia que precisava fugir, eu estava diminuindo o passo, minhas pernas ardiam e eu já não encontrava fôlego suficiente, os passos chegavam cada vez mais perto, quando simplesmente caí.
Fui invadida pela escuridão, eu estava caindo em um buraco sem fundo, pensei estar alucinando, mas eu realmente estava caindo, a temperatura caiu e a floresta desapareceu juntamente com o sujeito que vinha ao meu encontro.
Inesperadamente parei de cair, quando me dei conta estava em um local estranho que nunca tinha visto antes, parecia um palácio.
Eu estava tão deslumbrada que nem percebi um homem moreno de olhos bem azuis sentado em um trono, ele me analisava atentamente, pude ver satisfação em seus olhos quando falou:
— Seja bem-vinda a minha casa, filha.
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A Revolta dos Caídos: A Luz e a Escuridão Irão Reinar
Teen FictionNo princípio, Deus criou o céu e a terra, que era vazia e sem forma, então em meio a escuridão foi criada a luz, feita para separa-la das trevas. Assim o paraíso foi feito reluzente e cheio de anjos gloriosos, tudo funcionava em perfeita harmonia, a...