Capítulo 9

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– Marcos, acorda! Não vai pra escola? – disse minha mãe.

– Nem ouvi meu celular despertar! – eu disse coçando o olho.

– Que cordão é esse? – perguntou ela.

– Ah, eu comprei. – eu disse segurando o pingente.

Levantei da cama rapidamente, peguei meu uniforme e corri pro banheiro. Tomei um banho e me vesti... Cheguei um pouco atrasado na escola, mas consegui entrar no primeiro tempo antes da professora chegar. Sentei perto dos meus amigos e ficamos lá conversando sobre nossas férias até a professora chegar para fazer a chamada e dar a aula. Comecei a organizar meu material para a aula e então ouvi a professora chamar o nome.

– Christiano Vianney... – na mesma hora eu prendi a respiração.

Continuei olhando pro interior da minha mochila sem me mover, pude sentir que boa parte da turma estava olhando para mim... Levantei o rosto lentamente e olhei para a professora.

– Christiano! – repetiu ela com a voz grave e depois pulou para o próximo nome.

– Para de ficar me olhando assim gente. – eu disse e voltei a pegar meu caderno dentro da mochila.

Percebi que todos estavam tensos pelo que tinha acontecido. Me arrepiei inteiro e meu coração disparou na mesma hora que ouvi a professora chamar o nome dele, a sensação que tive quando me arrepiei era de que meu corpo tinha sido inteiramente furado por pequenos alfinetes. Depois daquele susto demorei pra relaxar e conseguir prestar atenção na aula.

Durante mais dois dias, os professores chamaram o nome do Christiano na sala de aula. Por mais que eu soubesse que aquilo era um erro no diário escolar, eu sempre ficava tenso ao ouvir o nome dele ser chamado em voz alta.

Na quinta feira eu estava extremamente cansado de não fazer nada dentro de casa, então me arrumei e fui para a praia assistir o pôr do sol. O que não era uma boa prática, já que toda vez que fazia isso sozinho eu pensava no Christiano e como sentia sua falta.

Até quando eu viveria com aquele fantasma do Christiano? Até quando eu iria me perder nas lembranças? No fundo eu sabia que jamais iria esquecê-lo, Christiano estaria sempre vivo em minha memória.

Era estranho toda vez que tentava lembrar de seu rosto. Eu não conseguia mais visualizar o rosto dele nitidamente, era só uma vaga lembrança, como se fosse um borrão... Eu me esforçava pra tentar lembrar de mais detalhes, pra conseguir lembrar nitidamente, mas nada adiantava. Tinha algumas coisas que não dava pra esquecer... Como aquela voz grossa, mas ao mesmo tempo suave chamando meu nome, aquele abraço apertado que me deixava sempre seguro e aquele sorriso lindo que eu tanto amava...

O vento estava bem forte e parecia que ia chover, mas eu não estava me importando com o tempo. Ali na praia ficava sempre muito escuro em certos pontos e era ali que eu queria ficar. Sozinho.

Fiquei tanto tempo perdido nas lembranças que acabei perdendo a noção da hora e quando olhei para o relógio ele marcava dez horas da noite. Com certeza era melhor eu voltar para casa, pois a praia estava deserta e algo ruim poderia acontecer.

Conforme eu me distanciava do mar e ia em direção a calçada eu vi que tinha uma pessoa parada um pouco mais a frente. Estava escuro e eu não tinha como ver quem era. Logo fiquei com medo de ser algum assaltante ou algo do tipo, pois já estava tarde e tudo estava deserto. Continuei andando, mas dessa vez mais lentamente e tentando fingir que aquilo não estava me assustando, mas foi aí que eu percebi que havia algo muito familiar naquela sombra alta. Minhas pernas travaram na mesma hora e eu não consegui prosseguir com a caminhada. Me perguntei se eu estava ficando maluco. Apertei os olhos pra tentar enxergar melhor, mas não adiantou nada. A pessoa começou a andar bem lentamente como se também estivesse tão inseguro quanto eu e ali eu tive certeza do que estava a minha frente. Comecei a andar e a cada passo o meu coração acelerava mais e mais.

Quando cheguei perto o suficiente para ter certeza de que era o rosto que eu sentia falta minhas pernas pararam novamente, minha pele se arrepiou e uma lágrima não hesitou até chegar ao meu queixo.

Ele estava um pouco diferente. Estava bem mais forte, seu cabelo estava um pouco maior e jogado para trás do jeito que eu sempre gostava. Sua expressão estava séria, parecia até que estava com raiva, mas suas sobrancelhas tremiam demais e os olhos brilhavam muito.

– Chris? – minha voz quase não saiu, falei como se estivesse engasgado.

Nossos corpos bateram de encontro um com o outro e por mais estranho que isso pareça, eu me senti mais confortável do que nunca naqueles braços. Ele passou a mão em meu cabelo enquanto me olhava nos olhos e eu mal conseguia acreditar que ele estava ali comigo.

– Você não sabe o quanto eu senti sua falta. – eu disse ofegante.

– Eu também. – ele disse segurando meu rosto com suas duas mãos geladas e continuou olhando pra cada pedaço do meu rosto.

Enfim minha cabeça estava repousada naquele peitoral macio novamente... Passamos alguns minutos abraçados, com a respiração ofegante e chorando. Olhei para aquela boca rosada e carnuda, aquelas bochechas coradas e ele abriu um sorriso pra mim, me fazendo querer gritar.

O beijei e a sensação que tive era de que estava no paraíso. Aquele era o beijo que eu queria, o beijo que eu amava. O melhor beijo sem dúvida alguma...

– Eu... te... amo. – disse Christiano entre um selinho e outro.

– Eu não to acreditando nisso... – eu disse. – O que aconteceu? Voltou com seus pais pro Brasil?

– Depois a gente fala sobre isso. Eu quero matar a saudade. Vamos lá pra casa?

– Que casa? – perguntei confuso.

– Minha casa, a de sempre. Agora ela é minha de novo.

– Hã?

– É. Depois a gente conversa sobre tudo isso. Eu só quero deitar na cama contigo, te abraçar e ter certeza de que não estou sonhando.

Caminhamos até lá ainda abraçados porque aquilo parecia irreal demais e nenhum de nós dois tínhamos coragem de nos desgrudar um segundo sequer com medo de que tudo pudesse acabar como um sonho. Era ótimo poder senti-lo junto de mim novamente, na verdade era mais que ótimo... Nada poderia descrever o quão bom era tê-lo novamente ao meu lado. A felicidade estava extremamente visível. Sorrisos e gargalhadas das coisas mais bestas, abraços repentinos e beijos a qualquer momento interrompendo frases.

O apartamento estava quase como sempre. A maioria dos móveis estavam lá e eu não entendia como isso era possível. Christiano deu a ideia de fazer lasanha no microondas para nós dois e então me perguntei há quanto tempo ele devia estar de volta, já que os móveis estavam lá e os armários estavam abastecidos com comida. Jantamos enquanto conversávamos sobre qualquer coisa e em seguida fui tomar banho para depois sim conversar e saber o que estava acontecendo.

Com o chuveiro ligado eu estava boquiaberto com o que estava acontecendo. Eu de novo naquele box que eu tomava banho quase todos os dias.

– Senti falta de poder fazer isso com você... – ele disse com uma voz suave enquanto entrava no box.

Christiano me olhou nos olhos enquanto a água que caía sobre mim respingava em seu corpo nu. Passou seus dedos sobre meu rosto tirando o meu cabelo da testa e depois fez carinho em minha bochecha enquanto aproximava seu rosto do meu. Seus movimentos eram lentos e desconcertantes. Senti o toque suave da sua boca na minha e aquilo me fez arrepiar novamente. O mundo parecia estar em câmera lenta naquele momento, nossos lábios se tocavam com uma lentidão e delicadeza de outro mundo.

Agora sim eu estava completo.


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O Amigo - 2ª TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora