Capítulo 30

1.7K 166 16
                                    

- Agora eu vou te pegar no colo.

- Chris... - eu disse. - Chris, eu acho que você está ficando doido. O que...

- Marcos - disse ele me interrompendo antes que eu o enchesse de perguntas. -, você confia no seu namorado?

- Confio, mas...

- Confia ou não confia? - senti sua voz perto do meu ouvido e na mesma hora eu me arrepiei.

- Confio.

Christiano me pegou no colo e aquela era a sensação mais estranha do mundo. Eu não via nada e Christiano me segurava no colo como se eu fosse um saco de batatas. Ele deu dois passos firmes ainda me segurando e o passo seguinte foi mais lento e esquisito, pois pude sentir seu corpo tremer de leve. Ele deu mais alguns passos desajeitados e pelo som nós não estávamos mais no asfalto, era qualquer outra coisa que eu não imaginava o que poderia ser.

- Chris?

- Oi.

- Porque você está parado? - perguntei.

- Sua cara ta muito engraçada. Relaxa.

- Eu to assustado, surpreso, confuso... Que barulho é esse? - eu disse enquanto ele me soltava.

- Relaxa. - disse ele novamente.

Senti Christiano bater levemente o corpo em alguma coisa e imaginei que fosse uma parede e que talvez fosse o nosso apartamento, mas porque raios ele iria fazer tudo aquilo e me levar vendado para o apartamento que eu estava cansado de conhecer? Tentei esvaziar a mente e confiar no cara que eu amava. Tateei minha mão às cegas em busca do peitoral dele. Seu coração estava acelerado. Ele me ajudou a subir uma escada não muito grande, mas extremamente difícil de subir estando vendado e depois paramos novamente. Sentia o vento bem mais forte que antes agora.

- Pronto. Já vou tirar a venda.

Mesmo depois que a venda foi tirada, meus olhos se mantiveram fechados por alguns segundos. Quando os abri e vi todo aquele mar a minha volta a primeira coisa que senti foi tonteira. Como eu não tinha percebido antes? Como não senti o cheiro, como não tinha passado pela minha cabeça que estivéssemos em uma lancha? Olhei pra baixo e percebi que estávamos no ponto mais alto da lancha. Olhei pra ele.

- Eu... não acredito... nisso. - eu disse com a voz trêmula.

- Gostou? - disse Christiano me abraçando por trás.

- Cara, você é louco. - eu disse. - Eu não acredito que você bolou isso tudo pra mim.

- Você merece. - disse ele com a boca perto da minha orelha e depois esticou o braço e apontou pra longe. - Daqui a pouco o sol vai se pôr. Eu queria que a gente tivesse um pôr do sol diferente hoje, já que é um dia especial.

- Christiano... Eu não sei nem o que dizer.

- Não precisa dizer nada, só...

Antes que ele pudesse completar a frase, eu beijei seus lábios da forma mais apaixonada que consegui. Suas mãos escorregaram até minha cintura enquanto nossos lábios se encaixavam perfeitamente naquele beijo. Senti meu couro cabeludo arrepiar completamente e naquele momento eu me senti a pessoa mais amada do mundo.

Ouvi um barulho de longe, mas não quis me preocupar, continuei focado no meu beijo, mas o barulho pareceu mais próximo e eu pude identificar o que era... Eram palmas e em seguida veio a canção de parabéns, interrompi o beijo e olhei pra escada. Minha mãe batia palmas e cantava parabéns freneticamente enquanto meu pai segurava a torta com uma vela soltando faíscas...

- Ta de brincadeira, né? - eu disse sorrindo.

Desci rapidamente e abracei meus pais ao mesmo tempo. Não poderia descrever exatamente como eu me sentira naquele momento, eu só sabia que estava muito feliz, mas de uma forma muito intensa e inédita.. Quando percebi, eu já estava chorando...

- Feliz aniversário. - disseram os dois juntos.

- Eu achei que vocês tivessem esquecido... - eu disse tentando limpar as lágrimas. - Vocês não me ligaram.

- Claro que não. - disse meu pai beijando meu rosto.

- Porque você está chorando, filho? - perguntou minha mãe passando a mão em meu rosto.

- Eu não sei. - eu disse sorrindo, mas ainda chorando.

- Eu disse que eles não iriam esquecer. - disse Christiano descendo pela pequena escada.

- Eu ainda não acredito nisso. - eu disse rindo e olhando para a bela lancha que nós estávamos. - Você deve ter gastado uma grana preta pra isso tudo.

- Eu já disse que você merece isso tudo. Hoje é o seu dia... - Christiano olhou pro relógio em seu pulso. - Bom, vamos entrar e experimentar essa torta?

- Entrar onde? - perguntei.

- No quarto. - disse ele, mas continuei olhando pra ele sem entender muito bem. - Tem um quarto aqui dentro. Vem ver.

Christiano me segurou pelo pulso todo empolgado e me levou para dentro.

Dava pra morar naquela lancha tranquilamente. Tinha um quarto pequeno, mas aconchegante com uma cama de casal, frigobar e um banheiro. Nos sentamos na cama e partimos a torta enquanto Christiano pegava as bebidas no frigobar.

- Mas que coisa chique, hein. - disse meu pai.

- E eu nem... - comecei a falar, mas Christiano me interrompeu.

- É claro que eu sei que você não toma champanhe e por isso eu trouxe coca-cola pra você. - disse ele pegando a garrafa de coca-cola.

Claro que Christiano tinha pensado até nos mínimos detalhes e nada saía do seu planejamento.

Ele serviu todos com bebida e então comemos aquela torta incrível que eles tinham comprado. Meus pais estavam pulando de alegria assim como eu e Christiano. Nossa sintonia estava perfeitamente sincronizada e eu não poderia estar mais feliz de estar junto com as pessoas que eu mais amava. Agradeci todo aquele amor que estava recebendo pelos menos umas duzentas vezes, pois eles precisavam sentir pelo menos um pouquinho de como eu estava me sentindo.

Na hora do pôr do sol nós deixamos todas as coisas do quarto e então subimos para onde eu estava anteriormente com Christiano. Nos sentamos na parte acolchoada e ficamos admirando a vista e papeando mais um pouco. O céu estava alaranjado e o sol ia embora lentamente enquanto o vento gostoso nos abraçava, como se já não estivéssemos confortáveis o bastante ali. O dia estava terminando perfeitamente. Quando o sol se pôs o céu deu lugar a uma cor num tom de azul escuro que a cada minuto escurecia mais um pouco. As luzes da lancha foram ligadas e ouvi o som suave do motor fazer barulho, me fazendo voltar para realidade e pensar que havia um piloto conosco naquela lancha, coisa que eu nem tinha parado para pensar de tão maravilhado que estava com aquele dia. A lancha começou a ganhar velocidade e nos seguramos por segurança. Agora voltaríamos para casa, mas tudo o que eu queria era ficar mais um pouquinho lá.

Descemos a escada, meus pais na frente, e andei junto com eles pela estreita passarela que nos levava até terra firme quando Christiano me segurou.

- Você fica. - disse ele.

- Que?

- Agora seus pais vão pra casa e nós ficaremos aqui mais um pouquinho. - ele estendeu a mão pra mim e sorriu. - Seu aniversário ainda não acabou.

- Vai aproveitar o resto do seu aniversário. - disse minha mãe dando tchauzinho.

Segurei a mão de Christiano que ainda estava estendida e andei cautelosamente pela passarela novamente. Christiano me puxou pra junto do seu corpo e se segurou numa alça de ferro da lancha. Fez sinal para o piloto e a lancha voltou a se movimentar rapidamente. Acenei para meus pais enquanto nos distanciávamos cada vez mais...

- Pode ir mais rápido. - gritou Christiano ainda me segurando. - Vamos pra longe.

O Amigo - 2ª TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora