PRÓLOGO | * CONFUSION *

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PIETRO


Anos antes.

ERA INCOMUM SABER que agora não passava de um nada.

Que Sadrack tratou seu filho mais velho como se ele também não se importasse. Que fizera aquilo comigo, como se eu não passasse de um rato. E o que sou? Além de um assassino fugindo dos problemas, se afogando em álcool?

As taças que o garçom ainda fazia vontade de me servir, livrava um pouco da agonia de não conviver mais com meu irmão e meu sobrinho. Fiz tudo pelo Ruthless, o criei praticamente, mas... quando o clube conseguiu sair do subúrbio, ganhar fama, tudo o que recebi em agradecimento foi uma rede de traições envolvendo Sadrack.

Onde fui me meter, Milla. Onde?

Eu fiz de tudo para protegê-la dele também. Tudo que estava ao meu alcance torto. Mas não foi o suficiente. Fazia tempo que ela tinha sido atropelada e morta, no entanto. Minha paixão de adolescência. Minha única missão falha.

Sadrack fez questão de usá-la e jogar fora. Para dizer que tinha esse poder. Para esfregar em minha cara que eu nunca seria páreo comparado a ele.

Engoli o — quinto? —, copo de tequila e meus olhos arderam. Sem dinheiro, sem lugar para dormir, sozinho. Vida de merda. Tudo o que tinha depois do Assassin's era meu irmão, meu sobrinho e o Ruthless. Mas ele o matou. Sadrack matou o próprio filho.

E esse foi o estopim para brigarmos e eu me separar definitivamente dele. De Sadrack, do meu irmão e daquele clube. Meus dedos ainda latejavam por nossa última briga.

Um jovem sentou ao meu lado e ficou me olhando.

— O que é? — Perguntei ríspido. — Nunca viu alguém bêbado, criança?

Ele não deveria ter mais de dezesseis anos. Os olhos verdes, levemente puxados para azuis perto da pupila, me examinaram de cima a baixo com ceticismo. Só não corei de vergonha, porque já estava no fundo do poço.

— Não acredito que você seja o famoso Pietro Hall — disse —, o Terror dos Ringues. Estado deplorável o seu.

Rolei os olhos. Como se eu não soubesse.

Somente o que faltava agora, era ter que dar satisfações de minha antiga vida. Eu, o maior assassino que a Liga já viu. O homem que matou mais pessoas do que lembrava. Levantei e coloquei o resto do dinheiro que tinha em cima da mesa e saí daquele bar.

Nem sei qual era o nome dele.

Onde vou dormir essa noite? No chão ou em uma parada de ônibus? Cambaleei um pouco, mexendo a língua em um dos quatro piercings do lábio inferior. O metal gelado e conhecido me acalmou. Até que... mãos me empurraram para dentro de um beco e uma arma colou em minha testa.

Pela névoa de confusão, consegui ver o mesmo garoto de mais cedo.

— Você quer me roubar? — Indaguei. — Péssima escolha. Não tenho dinheiro.

Ele suspirou dramaticamente e um menino mais novo saiu de trás de seu corpo. Os olhos arregalados em nossa direção. Dava para perceber, por incrível que pareça, pelo olhar morto do moleque que segurava a arma... que ele já tinha matado e faria o mesmo sem remorso.

Quase senti algo. Talvez pena por sua alma manchada.

— Vai demorar muito para me matar?

— Acha que se quisesse matá-lo, já não teria feito? — Retrucou. — Gabriel, se afaste.

O menino mais novo fez o que o mais velho ordenou. Estava tão bêbado, que a força daquela criança era suficiente para me manter de pé e parado. Talvez possa deixá-lo me matar.

Minha mão coçava para pegar a adaga presa em minha cintura. O treinamento dissipando a névoa de bebida de meu organismo em rápidas lufadas. Mas ainda não.

— O que quer então? — Perguntei.

Ele deu de ombros.

— Ouvi falar sobre o Ruthless. Quero criar o meu próprio clube de lutas ilegais, que ofusque o dele e que o enterre nas profundezas do inferno. Tenho dinheiro. Nome. Lugar. Você só precisa fazer o resto. Quero que o meu clube seja famoso.

Olhei-o intrigado. Isso sim era interessante.

— E por que eu faria isso?

Ele sorriu. E que Deus me ajudasse, vi a promessa de sangue e violência naquele sorriso. A promessa de que se o Assassin's o pegasse, ele seria treinado e viria a ser um assassino brutal.

— Porque você está na lama e com uma Glock 9mm apontada para a sua cabeça — respondeu honestamente. — Eu posso ajudá-lo e você fará o mesmo por mim. Uma via de mão dupla. Hm? O que acha, Pietro?

Como ele soube onde me encontrar? Como soube da minha história? Pelo menos, parece que o garoto sabe onde perguntar as coisas. Talvez, ele seja valioso.

Talvez, minha vida não esteja tão perdida.

A arma em minha testa não tremeu. Soltei a respiração, não acreditando no que estava acontecendo.

O que tenho a perder? Se tudo já foi tirado de mim?

Tudo bem — pisquei. — E como devo chamá-lo?

Ele guardou a arma na cintura, levantando o moletom preto e o baixando logo em seguida para escondê-la. Gabriel — presumo que fosse seu irmão —, deu um passo em nossa direção. Os olhos da mesma cor do mais velho se arregalando.

— Meu nome é Lorenzo — ele disse. — Lorenzo Willer.

Death | Vol. IIOnde histórias criam vida. Descubra agora