VINTE | *CRIME*

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MINHA NOITE NÃO tinha como piorar

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MINHA NOITE NÃO tinha como piorar.

Ah, não tinha mesmo.

Ou tinha? Bem... isso era óbvio que poderia, mas realmente não queria mais problemas envolvendo Sadrack Hall. Já bastava seu outro filho problemático. Que assassinou brutalmente um estuprador e que agora estava morto.

Que família. Coitado. Dois filhos mortos em um curtíssimo espaço de tempo.

Quase consegui sentir uma ponta de compaixão por aquele carrasco.

¥¥

Deixei Cristina em seu apartamento. O apartamento estava vazio, limpo e aconchegante, e ela me ofereceu uma xícara de café sem açúcar, para recobrar a sobriedade. Aceitei sem hesitar. Se os policiais me vissem bêbado... não queria nem pensar no que aconteceria.

O que aconteceu? Ela perguntou.

Mais problemas.

Alguém morreu murmurei.

— Alguém quem?

Olhei-a seriamente e de forma penetrante. Sua maquiagem estava toda borrada. O batom marcante, desaparecido, os olhos pretos e escorregadios. Mas ela não parecia mais bêbada.

Cristina baixou os olhos e mordeu o lábio, temerosa.

Sei que não temos nada, mas...

Sim, nós temos algo peguei sua cintura e a beijei.

Dane-se o presente, eu queria mais de Cristina. Do seu gosto. Do seu cheiro.

Bem. Mais.

Mas não sabia porque tinha falado tal coisa, tão abertamente, antes de investigar uma cena de crime. Sem intenção. Nunca tinha acontecido isso antes. Ainda mais com uma adolescente/futura adulta como Cristina.

Antes que fizéssemos sexo ali mesmo ou em cima da mesa (porque tinha um trabalho a cumprir), beijei sua testa e me despedi.

Meu celular tocou antes que entrasse no carro. Não vi o número ao atender.

O que foi? Eu disse que demoraria um pouco.

Não estou interessado nisso não reconheci a voz.

Quem é? Encarei a luz de um poste, esperando pela resposta.

Meu estômago embrulhou quando a ouvi.

Scott Walker.

Engoli em seco. Só podia ser uma brincadeira, uma brincadeira de muito mal gosto.

Sei. E eu sou o Batman rolei os olhos. Que insistência em passar trote noturno em um delegado. Scott Walker está morto, engraçadinho. Você sabe que sou um delegado federal? Posso rastrear seu celular e prendê-lo por...

— Okay — interrompeu, nada abismado. — Até lá, quero que faça algo por mim.

Me encostei no carro, disposto a realmente prendê-lo por desacato.

— Você quer? Olhe aqui, seu imbecil... Perdi a paciência.

— Tudo bem — cortou novamente. — Vá até a cena do crime. Foi eu que matei meu meio-irmão. Avise a Sadrack sobre o ocorrido, mas não cite meu nome. Ele ainda não pode saber que estou vivo. Depois venha direto para o Perverse Killers.

Fiquei sem palavras por segundos, abrindo e fechando a boca como um peixe em busca de água.

— E por que eu faria isso?

— Você não quer respostas? Vai tê-las. — O sujeito parou, escutei conversas indistintas atrás de si. — E traga um kit de primeiros socorros. Venha sozinho.

¥¥

Olhei o cadáver com três balas e os homens vestidos de preto ao seu redor. Mortos. Todos mortos. Nunca tinha achado Aaron bonito, mas agora... estava deplorável o seu estado. Fiquei sobre um joelho e discretamente peguei um pouco de seu sangue.

Quente.

Não fazia muito tempo que tinha sido morto. Contive um arrepio.

— Senhor? — Um perito se aproximou.

Levantei e escondi a mão no bolso do casaco, erguendo as sobrancelhas sugestivamente.

— Sim?

— Os resultados ficarão prontos somente amanhã. Você pediu o número de Sadrack Hall?

Por que não tenho o número daquela besta gravado no celular? Somente em uma pasta, com sua ficha, dentro da delegacia? Eu tinha que aprender a ser mais precavido nos próximos casos que fosse investigar.

— De fato.

— Está aqui — esticou a mão, nela contendo um pedaço de papel.

Com a mão limpa, peguei-o e me distanciei dos corpos. O sangue melecara os meus dedos e com nojo, disquei seu número. A tela branca ficou cheia de respingos vermelhos. Mereço.

Sadrack.

Eu sei, porque é para você que estou ligando — meu humor não estava dos melhores, isso deu para notar. Mas depois me arrependi, afinal estava a ponto de lhe dar uma notícia terrível, caso amasse o filho que havia sobrado. — Aqui é Dharck Petkov.

Ele soltou um suspiro. Quase fiz o mesmo.

Você de novo? Até pelo celular vai começar a me incomodar agora?

— Acredite, não estaria falando com você, caso não fosse preciso. Está sentado? Se não está, sente e prepare o coração. Não tenho tempo para lidar com mais cadáveres.

Não era assim que planejei contar sobre Aaron. Mas Sadrack não facilitava para ninguém (nem para mim, e nem para ele).

Do que está falando? — Sua voz soou hesitante.

Fechei os olhos, meu coração parecia apertar e inchar ao mesmo tempo.

— Seu filho, Aaron Hall, está morto. Sinto...

Ele desligou na minha cara. Quer saber? Não sinto não. Guardei o celular com raiva e me distanciei dali. Que cidadezinha para acumular mortos! Acho que ao invés de Jacksonville poderia se chamar Cadáveres. Ficaria muito mais literal.

Encontrei um policial perto do meu carro e informei que queria os resultados em minha mesa o quanto antes.

— Não acredito que vou fazer isso. — Liguei na estação de rádio mais próxima. — Perverse Killers... Aí vamos nós.

Death | Vol. IIOnde histórias criam vida. Descubra agora