QUARENTA E DOIS| *VICTOR DIES*

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Horas antes

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Horas antes.

PISQUEI DIANTE DA névoa de poeira em meu quarto. Escutei o latido estridente do celular tocando. Aprumei os ombros, me estiquei na cama, e peguei o aparelho da mesa ao lado.

— Scott?

O que você acha? — Ele parecia revoltado. — O que deu na sua cabeça de raptar minha irmã?

Deitei a cabeça no travesseiro e encarei o teto cheio de teias de aranhas.

— Kananda virou sua irmã do dia para noite e eu não sei? — Franzi o cenho. — Ou agora você voltou a se considerar uma cria de Sadrack?

Ele soltou a respiração, vencido.

Por que, Sanus? Eu sei que Cristina também está aí.

Uma pergunta simples, no entanto, dolorosa. Ele sabia que eu estava sofrendo. Mesmo não gostando romanticamente de Kananda, a reconhecia como amiga. E olha que eu não gostava de pessoas. Porém... era meio impossível não gostar dela.

— Para me salvar — respondi, com a voz estrangulada.

Scott ficou em silêncio. Sei que decepcionei você, gostaria de ter dito, mas para pedir desculpas, preciso ficar vivo. Mas as palavras continuaram trancadas na garganta.

Ouvi o timbre inconfundível e irritante de Lorenzo.

Você vai precisar de mais para salvar sua miserável vida, Sanus —disse. — Quero você aqui imediatamente. É uma ordem.

Soltei uma risada seca.

— E, com certeza, a minha coleira está em suas mãos, Lorenzo — alisei as unhas na camiseta velha que estava vestindo. — Não comece com ameaças vazias. Esqueceu que posso contar a Sadrack sobre seu paradeiro e estragar a farsa de morto-vivo? Que, para começo de conversa, fui eu que ofereci o plano para salvar a sua pele?

Um, quem planejou tudo foi esse tal de L2. Caso não lembre, foi você quem disse isso. Dois, você já revelou a verdade. Não se faça de cínico, Sanus. Ele sabe que estou vivo.

— An? — Estranhei, sentando na cama e pondo os pés para fora. — Eu não disse nada. Como Sadrack descobriu?

Eles ficaram em um silêncio perturbador do outro lado da linha.

Será que Sadrack sabia de que lado eu estava? Mas por que continuava respirando? Por que ele não me prendeu junto com as meninas ou falou alguma coisa? Não era do feitio de Sadrack descobrir uma traição e permanecer calado.

Sanus? — Scott chamou.

— Sim?

Venha para cá. Por favor.

Fechei os olhos.

— Daqui a trinta minutos estou aí.

¥

— Foi você quem contou? — Empurrei L2 para dentro do seu quarto e fechei a porta atrás de mim. — Se foi, juro que o mato e jogo aos cachorros os restos do seu corpo. E duvido que eles vão querer sua carne podre.

Ele entreabriu a boca e ficou encarando a porta, os olhos claros arregalados.

— Primeiro, minha carne deve ser bem saborosa. Segundo, contei o que exatamente?

— Que Lorenzo está vivo. Foi você quem disse isso a Sadrack?

L2 voltou a atenção para mim e ficou visivelmente em choque. Não, ele não tinha contado. Conseguia ver quando as pessoas estavam mentindo e L2 parecia arrebatado somente pela informação.

— Ele não morreu?

— Não — cruzei os braços —, mas você já sabia. Afinal, você contou o plano e me ofereceu uma saída para não matá-lo.

Ele sentou na cama, ignorando meu ataque.

— A notícia se espalhou por Jacksonville e você foi muito convincente com Sadrack — L2 engoliu em seco. — Dado o estado de Enzo, imaginei que a mentira pudesse ter se tornado realidade.

Parece que não tão convincente para fazer Sadrack acreditar. Me encostei na porta.

— Você ficou mais tempo na presença de Sadrack. Tem mais alguém na jogada que possa ter descoberto isso? Que eu lembre, Scott era o melhor rastreador. Até você também é, admito.

Ele passou a língua pelos dentes antes de me encarar com um olhar debochado. Não pude deixar de notar as olheiras escuras e a postura curvada. Seria pela suposta morte de Lorenzo? O que aquele homem tinha com o dono do Perverse?!

— Você esqueceu de quem treinou Scott e a mim, certo? Sadrack se aposentou, mas garanto que quando quer algo, vai atrás e descobre. E para descobrir que você está jogando no time inimigo... Era só uma questão de tempo. O que você ainda está fazendo aqui?

Fixei os olhos na paisagem de sua janela, para uma terra árida. Onde havia somente as cicatrizes de uma árvore morta.

— Eu preciso salvá-la.

— Salvar alguém que você colocou aqui?

— Foi você quem a trouxe do hospital — lembrei.

L2 balançou a cabeça, os cabelos negros e revoltados girando ao redor da nuca.

— Porque você não conseguiu fazer o trabalho direito.

— Eu nem tive a chance — resmunguei. — Você já estava no quarto quando entrei.

Ele suspirou.

— E me deixou escapar. Você escolheu um lado, Sanus. Agora lide com as consequências.

Passei as mãos pelos cabelos e encarei o rosto frio e pálido. L2 era a personificação da chatice quando queria. Abri a porta e me voltei para ele.

— Quando resolver contar sobre seu passado, venha me dar uma lição de moral.

— Apenas estou dizendo — ergueu os ombros —, que se permanecer aqui, será morto.

¥

Estacionei na frente do Perverse Killers e me senti observado. Ah, ótimo. Desci do carro normalmente. Esse homem me seguindo só poderia ser a mando de Sadrack e isso significava que ele estava desconfiado de mim.

Não era para menos.

Nem eu estava mais conseguindo disfarçar minha insatisfação nesses dias. Como alguém que não aguenta mais trabalhar e está pedindo para ser demitido. No meu caso, estava pedindo, praticamente, para levar um tiro no peito.

Pelo canto do olho, enxerguei Victor, um dos brutamontes de confiança de Sadrack. Fui pelo outro lado, não entrando no Perverse, mas dando a volta e o cercando.

Quando cheguei por trás, ele ainda estava ali parado, bisbilhotando o movimento.

Lentamente, tirei uma adaga do coturno e passei por seu pescoço. Simples assim. Não fiz perguntas, não o subornei e nem tentei me explicar. Apenas fiz o que sempre fui ensinado a fazer em situações semelhantes.

Limpei as mãos na blusa azul que usava e liguei para Scott. Ele atendeu no segundo toque.

Você já está aqui?

Cocei o pescoço, distraído.

— Temos um corpo para enterrar. Sugiro que venha aqui embaixo.

Death | Vol. IIOnde histórias criam vida. Descubra agora