QUARENTA E TRÊS| *RAY*

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VI A ÚLTIMA pá de terra encobrir o rosto assustado de Victor. Muito bem. Menos um capacho mal treinado de Sadrack andando pelo mundo.

— O que você vai dizer a Sadrack? — Scott encostou o ombro no meu e sussurrou.

Não sei. Não quero pensar nisso agora. Assisti Pietro e Dharck trabalharem com as pás. Eu sabia que haviam muitos corpos do Ruthless e do Perverse ali enterrados (de quando houve aquela confusão por causa de Kananda e Aaron).

Dava quase para montar outro cemitério para a cidade.

Baixei os olhos para a terra.

— Não vou dizer nada. Fazer de conta que ele não me viu.

— Pena que não vai dar certo.

— Como assim?

Scott pegou o celular de Victor e mostrou a conversa com Sadrack. Ali tinha uma foto minha, com a placa do Perverse Killers acima da minha cabeça, inconfundível. Tinha sido tirada após eu sair do carro. E Sadrack visualizou.

— Ele está digitando — vi, com o coração descompassado.

Eu e Scott nos aproximamos mais, seu perfume me envolvendo e me acalmando, como costumava acontecer quando ficávamos juntos no Ruthless, no quarto dele. Lembrar desse momento íntimo me fez perder a resposta de Sadrack, lida em voz alta por Scott.

Pigarreei, vendo os dois terminarem o serviço e jogarem as pás no chão.

— Eu não ouvi.

— Você está do meu lado, Sanus. Como não escutou? — Scott espremeu os olhos castanhos.

Lorenzo fez uma careta ao dar um passo em nossa direção.

— Dê um desconto, Scott — me olhou com um sorriso contido. — Sanus está tão focado em não morrer, que não escuta mais nem os próprios pensamentos.

Olhei-o de cima a baixo.

— Quer fazer uma aposta de quem vai primeiro, Lorenzo? Talvez possa aguentar mais uns dias que você.

Ele me olhou com aquela expressão inequívoca de Quer mesmo apostar? Eu odiava aquele homem com todas as minhas forças. O deboche. Seus gestos. Sua índole, quase pior que a minha. O jeito como se achava superior.

— Parem com isso — Pietro olhou para o filho em seguida. — Repita.

Scott abaixou a cabeça e leu mais uma vez.

— "O que ele está fazendo aí?" O que respondo? — Indagou, olhando para nós.

Principalmente para Lorenzo. O meu ódio multiplicou infinitamente.

— Onde fui me meter — lembrei de L2, sua profecia parecia certa e a cada instante, sentia minha vida se esvair. Encarei Lorenzo, rangendo os dentes. — Isso é culpa sua.

Ele arregalou os olhos.

Minha?!

— Sim e pare de se fazer de desentendido — dei um passo à frente, enquanto Lorenzo continuava no mesmo lugar, me analisando. — Se você não precisasse tanto da minha presença aqui, Sadrack não mandaria um sujeito atrás de mim.

Ele riu, incrédulo. Mais uma risadinha, e podia jurar que quebraria aqueles dentes perfeitos.

— Se você não tivesse sequestrado Kananda — replicou —, para começo de conversa, nem teria pedido a sua presença aqui. Eu não gosto de você, Sanus.

O sentimento é mútuo.

— Aquilo foi um pedido? — Ironizei.

Ele bufou.

— Cale a boca.

— Não, cale a boca você! Já estou cheio de pessoas correndo atrás de mim e me fazendo de capacho. Eu não escolhi ser um assassino, não escolhi ser treinado como um e principalmente, não escolhi fazer parte desse ramo. Então, pare de se achar tanto. Ninguém gosta de você. Kananda...

Antes que pudesse completar minha linha de raciocínio, ele já estava com uma arma apontada para a minha cabeça. Pietro, Scott e Dharck ficaram em uma quietude carregada, enquanto assistia o revólver não tremer.

Dane-se. Vacilei o olhar e desisti. Naquele momento, realmente desisti.

Cansei de lutar por minha vida e torci para Lorenzo puxar o gatilho. Eu sabia que ele enxergava o fracasso em meus olhos.

— Não fale dela, você não tem o direito.

— Abaixe isso, Enzo — Pietro pediu. — Lembre-se, precisamos dele.

Precisam mesmo? Continuamos nos olhando. Ele abaixou a Beretta 950 e colocou-a no bolso traseiro da calça jeans.

— Verdade — concordou, olhando para mim. — Escute bem e desta vez, preste atenção. Nós inventaremos uma desculpa para Sadrack e você contará a Kananda que a ajudará. Até nós invadirmos aquela coisa que você chama de lar e resgatá-la.

¥

Entrei no Ruthless Killers totalmente cansado.

A minha vontade era de jogar tudo para o alto e gritar um grande "foda-se", mas ainda não dava para fazer isso. Sadrack engoliu a desculpa de que eu estava interagindo com o Perverse. Entrando neles e me certificando de que ainda estavam acabados. E que Lorenzo estava vivo.

Mas não demoraria muito para ele notar a ausência de Victor.

Nós tínhamos pouco tempo para agir.

Caminhei diretamente para a cela de Kananda e Cristina, sem que me vissem. Eu ainda não estava com vontade de encarar Sadrack e despejar minhas mentiras mais uma vez.

No meio do caminho de volta, comprei comida para elas. Não sabia como estava sendo o tratamento das duas. Kananda me olhou como se quisesse pular em meu pescoço e Cristina não esboçou nenhuma reação. Ela não me conhecia, então não sabia com o que estava lidando.

Garota inteligente.

Assisti as meninas devorarem a comida.

— O que você quer? — Kananda perguntou depois de secar a sua lata.

Fiquei sob os calcanhares. Deu um aperto no coração vê-la ali, daquele jeito, maltratada. Doente. E o culpado de tê-la colocado ali dentro era eu. Fiz um esforço monumental para não lembrar dela. Da mãe do meu filho morto.

— Quero dizer que fui obrigado a sequestrar você. Ou perderia a cabeça. Tinha que provar de alguma maneira — me virei para a porta, ninguém estava ali ainda, e murmurei —, que estou do lado de Sadrack, e não de Lorenzo. Mas isso é apenas fingimento.

Kananda me olhou com os olhos esbugalhados. A esperança lutando contra o medo de acreditar e ser mais uma mentira. Como ela pode gostar dele? O que ela tem na cabeça?

— Lorenzo está morto, seu animal — rosnou.

Soltei uma risadinha e olhei mais uma vez para a porta de saída. Com toda certeza aquela barata não estava morta.

— Isso — levantei e me afastei —, é o que você pensa.

— Sanus...

— Eu estou do lado dele, e do seu, Kan. Vai dar tudo certo — consegui sorrir.

Será mesmo? Vai dar tudo certo? Por que, então, estou achando que não?

Death | Vol. IIOnde histórias criam vida. Descubra agora