UM | * IMCOMPETENCE *

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A CHUVA CAÍA.

O enterro de Gabriel machucava a cada segundo, como espinhos se enroscando em meu coração lenta e gradativamente. Mas não tinha coragem de mover um pé, nem para sair dali, nem para ir pedir perdão a Lorenzo e Pietro.

Os dois estavam vestidos de preto e ensopados, um do lado do outro.

Eu estava escondida no meio de dois túmulos enquanto o seu caixão era baixado para a terra. Tinha muitas pessoas ali. Não reconheci nenhuma delas. Também não importava. Baixei os olhos quando um soluço escapou de meus lábios.

Ah, Gabriel. Por que? Por que ele entrou em minha frente e brigou com Aaron? Por que não deixou que o filho de Sadrack plantasse uma bala na minha testa?

Queria que tivesse sido eu a morrer na noite passada.

Aquela cena nunca sairia de meus pensamentos — não enquanto corria daquela bagunça de corpos e brigas, minhas pernas mais rápidas do que nunca foram. Tudo minha culpa. Sua queda. O sangue. Os olhos acusadores em cima de mim.

Eu era a responsável e sabia disso.

Mas por que não criava coragem e me dirigia ao julgamento que Lorenzo daria? Porque sou covarde. Com certeza, ele tinha a mesma opinião que eu. Ele me mataria. A arma em sua cintura era a prova de que me juntaria a Gabriel em breve.

A noite que ficamos juntos, o clima leve conquistado por fazermos amor e por perdoá-lo depois do que fez naquele corredor e no Perverse... tudo foi jogado no lixo quando Aaron Hall apontou uma arma para a minha cara e Gabriel se jogou em minha frente.

Apertei o sobretudo em volta do corpo, sentindo frio. A chuva passeava pelas curvas do tecido, deixando minhas roupas extremamente pesadas. Depois de trinta minutos, as pessoas começaram a se afastar com guarda-chuvas cobrindo as cabeças e olhos cabisbaixos.

Será que todo aquele pessoal chegou a conhecer o sorriso de Gabriel? Ou seu lado doce e sarcástico ao mesmo tempo?

O que eu estava pensando?!

Conhecia o irmão de Lorenzo há menos de um mês. Não sabia quase nada sobre ele e... meu príncipe tatuado. Mas éramos parecidos, de alguma forma. Dois fodidos. Dois fumantes. Dois quebrados.

Ou seriam três?

Lorenzo não passava longe de nossa situação, acho até, que ele era emocionalmente pior do que nós. Ainda mais agora, que tinha perdido o irmão mais novo. Levantei os olhos quando vi ele e Pietro se afastando do túmulo.

Eles não estavam chorando — talvez tivessem esgotado a cota de lágrimas antes de enterrá-lo, ainda naquele ringue. Do ringue que fugi por puro e cru reflexo de sobrevivência.

Porque sou covarde.

Eu não queria guardar a imagem de Lorenzo em minhas lembranças, daquele jeito. Pálido, com olheiras fundas e escuras embaixo dos olhos verdes puxados para azuis e não mais selvagem, desgrenhado. Até as tatuagens estavam sem brilho.

Death | Vol. IIOnde histórias criam vida. Descubra agora