QUARENTA E UM | *PRISON*

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— QUANDO FAZÍAMOS TRABALHOS juntas, seu sobrenome não era Hall ou Walker — lembrei, com o olhar vago

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— QUANDO FAZÍAMOS TRABALHOS juntas, seu sobrenome não era Hall ou Walker — lembrei, com o olhar vago. Isso está mesmo acontecendo? — Era "Evans". Cristina Evans.

Ela soltou a respiração.

— Meu pai registrou meu sobrenome assim. Não sei o motivo, nunca perguntei. Ele me ameaçava, sabe?

Sei. Scott dissera isso.

Meu pai. Ele disse que éramos irmãs. Isso significava que Kristin se envolveu com Sadrack. Que desse relacionamento esquisito, eu nasci. Será que ela me abandonou por que eu recordava ele?

Encostei as costas na parede e abracei os joelhos. Meu corpo reclamou de dor e os músculos ficaram ainda mais tensos.

— Acredita em mim? — Cristina perguntou.

— Sobre ser sua irmã? Ou sobre o sobrenome burlado? Ou ainda mais, sobre estarmos presas aqui e você não estar surtando? — Ensaiei um sorriso. — Claro que sim.

Cristina soltou um suspiro e sentou no chão, a metros de distância.

— Não tenho culpa se fiquei sabendo minutos atrás — piscou, desorientada. — Mas gostei da notícia, Kananda. Sério. É muito boa a sensação de ter você como uma irmã mais nova.

Como ela pode permanecer tão calma? Fechei os olhos e me concentrei em contar as batidas do meu coração.

Estava com fome, fraca e cheia de dor, mesmo assim, nada — absolutamente nada — superava a notícia de ser filha de Sadrack. O líder do Ruthless Killers, o homem que arruinou a vida de Lorenzo, Pietro, Scott e quem sabe quantos mais.

O meu pai.

¥¥

Estava vendo as crianças brincarem, mas sem nenhuma vontade de ir com elas. Não hoje. Não queria ser chamada de menina-baleia ou gordinha novamente.

Sempre voltava chorando para casa, somente para ser escorraçada por minha avó, por ser fraca e me intimidar os "elogios". Era tão difícil, às vezes, ver as crianças acompanhadas dos pais. Até ali, nos meus dez anos de vida, não tinha uma figura masculina para chamar de pai.

O único que poderia ter servido... Minha mãe pegou para ela e correu para longe de mim.

Assisti a um homem seguindo sua filha e fingindo não vê-la atrás de uma árvore. Será que meu pai não me queria? Será que ele poderia estar me vigiando agora?

? — Chamei.

Ela levantou os olhos da grama e me encarou.

— Onde está meu pai?

Sara fez uma careta e voltou sua atenção para um passarinho que estava próximo de nossos pés, o biquinho tentando penetrar a terra para conseguir minhocas.

— Espero que bem longe, Kananda — respondeu. — Bem longe.

¥¥

Sara sabia. Minha avó sempre soube de Sadrack. Mas eu era a última a saber, até disso.

Cocei o pescoço, desatenta, quando passos se aproximaram. Levantei meio tonta e deixei que Cristina me apoiasse. Só podia ser a fraqueza de não ter comido há... Quanto tempo estávamos ali? Um dia? Dois? Uma semana?

Não, nem tanto, eu já estaria bem mais fraca e morta.

Chegamos perto da grade, apenas para dar de cara com Sanus.

— Ah — disse.

— Calma — ele cochichou e deu duas latas tampadas e talheres para Cristina. — Comam, enquanto falo.

Voltamos a sentar no chão. Antes mesmo de Sanus começar, nós duas tínhamos devorado o arroz com carne mal passada e salada de alface. Parecendo duas selvagens que não comiam direito há um mês e não... dias, chutei.

— O que você quer? — Indaguei.

Ele ficou sob os calcanhares.

— Quero dizer que fui obrigado a sequestrar você. Ou perderia a cabeça. Tinha que provar de alguma maneira — girou para trás e murmurou —, que estou do lado de Sadrack, e não de Lorenzo. Mas isso é apenas fingimento.

Aquele nome... despertou uma forte onda de agonia e aflição em meu peito. Abafada, salvo, pela raiva. Sanus era um mentiroso. Ele tinha virado a casaca tantas vezes, que não admirava que estivesse confuso sobre qual lado estar.

No de Sadrack, ou de...

— Lorenzo está morto, seu animal — informei.

Sanus soltou uma risadinha e olhou para a porta de saída.

— Isso — sussurrou, ficando de pé e se afastando —, é o que você pensa.

A lata de plástico escapou da minha mão. Segurei as barras com força, erguendo as pernas até que estivesse levantada, o coração acelerando a cada segundo. Meus olhos estavam arregalados e a esperança brigava com o medo.

Encarei diretamente Sanus e procurei por alguma mentira.

— Sanus...

— Eu estou do lado dele, e do seu, Kan. Vai dar tudo certo — sorriu e foi embora.

Escorreguei pelas barras até o chão. Senti a presença de Cristina ao meu lado, mas não registrei suas palavras.

Lorenzo está vivo?

Death | Vol. IIOnde histórias criam vida. Descubra agora