DEZESSEIS | *MEMOIR*

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SEMPRE GOSTEI DE mortes. Esse fato já me tornava uma criança estranha. Ver na televisão proveniente das lojas que me deixavam ficar na porta assistindo o sangue, parecia belíssimo. As pessoas dando seus últimos suspiros. O brilho apagando do olhar.

Eu era assim desde pequeno.

Mas dentro do Assassin's, fui torturado e obrigado a matar os mais fracos. Não era tão bom assim. As circunstâncias não estavam mais do meu lado.

Porque existia uma grande diferença entre assistir a mortes fictícias e provocar a própria morte, invocando seu poder contra os menos afortunados.

Eu fui o único caso (que sobreviveu, imagino). O único pobre a ser treinado para resistir. Para matar. Para ser um monstro.

Uma faca em brasa foi lentamente atravessando o caminho de minhas costas, da escápula a espinha ilíaca. Apertei os lábios e joguei a cabeça para trás, arregalando os olhos. Ah, a dor. Éramos ensinados a amá-la, conviver com ela.

A dor era boa. O sangue escorrendo por nossa pele era bom. Dizia que estávamos vivos.

Quer sair daqui? Kieran, meu mestre, perguntou.

Depende gemi quando a faca fez um "X" em minhas costas. Queimando. Estava queimando. A dor parecia insuportável agora. Se for para matar alguém, eu quero sair. Mas se for para treinar... posso ficar aqui.

Ele gostou da resposta, então me deu um beijo casto nos lábios.

Kieran era bonito, tinha cabelos pretos e olhos azuis chamativos. Eu me sentia atraído por ele, mesmo tendo somente quatorze anos. Ele fazia coisas com meu corpo, eram boas. Melhor do que as sensações das torturas.

Mesmo assim, jurei que quando conseguisse sair dali... do poder iminente da liga... a primeira pessoa que mataria seria Kieran. Mesmo gostando de mim... ele ordenava que eu matasse por prazer, mais do que era necessário dentro do Assassin's.

Kieran me soltou, as correntes em meus pulsos ficaram livres. O alívio me percorreu, mas foi rápido. Extremamente rápido. Em um momento, estava naquela sala branca, em outro... apontando uma arma para um garoto.

Não sabia o nome dele. Nós tínhamos muitos ali. Muitos garotos e garotas da minha idade, fracassados que não suportavam o treinamento. E por isso não sabia o nome daquela criatura. Mas sabia que eu tinha somente uma função.

Estourar sua cabeça sem dó.

E então? Kieran apertou os recentes machucados em minhas costas.

Rangi os dentes e encarei os olhos vidrados. Ele estava com medo, era uma atitude deplorável. Não existia medo no Assassin's. O garoto ruivo lambeu os lábios e se apertou ainda mais contra a parede, escondendo as mãos nas costas.

Mentalmente, imaginei meu coração sendo envolvido por pedra e outra camada de gelo. Contei. Seria minha vigésima morte.

Não perguntei o que ele tinha feito.

Não hesitei.

Não podia. Era eu ou ele. Era aquele garoto já morto ou a tortura com álcool que Kieran passaria em minhas feridas mais tarde. Apertei a Walther P22 e me tornei inflexível. Matei o garoto com cinco tiros.

Deixaria para chorar sua morte mais tarde. Na escuridão do meu quarto. Kieran se abaixou na minha frente, com um sorriso no rosto. Poderia ser minha chance de descarregar as outras cinco balas em seu peito, mas... ainda não.

Eu não estava inteiramente preparado para conseguir escapar.

Você é um dos melhores daqui, Sanus. Parabéns.

Apenas assenti e baixei os olhos. Por que Pietro não me treinou? Ele não era cruel como Kieran, ele poderia ter me ajudado, ao invés de me dar as costas.

Por era obrigado a aguentar isso calado de um rapaz quatro anos mais velho que eu?

O que você é, Sanus?

Levantei a cabeça, sentindo o peso das palavras. Não tinha como fugir. A prova estava na minha frente. Caído aos meus pés, o sangue escorrendo livremente.

Fitei seus olhos.

Sou um assassino.

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— Sanus? — L2 agitou os dedos magros e longos em minha direção. — O que aconteceu? Pensei que estava enfartando. O que não seria má ideia, pensando agora. Hm... por que você não morreu, Sanus?

Passei as mãos pelo rosto, tentando tirar as imagens que sempre voltavam e mostravam o monstro que eu era. A aberração que me tornaram.

— Conte tudo, L2. Por favor.

Ele estreitou os olhos.

— Que seja. Já estou cansado da sua visão, de toda forma. Aaron vai a um carregamento de armas hoje à noite. Descobri que vai ser no porto de Everglades, às 21:00h. Ele vai estar acompanhado de vinte homens armados e de confiança de Sadrack. Afinal... ele não quer que outro filho morra, não é mesmo?

Fiz as contas rapidamente.

— Temos um porto aqui, porque Aaron viajaria mais de quatro horas para pegar uma encomenda?

— Pergunte para ele, se está tão interessado.

Decidi que L2 era bom em me irritar, e estava conseguindo fazer isso novamente.

— Você vai contar para Sadrack?

— Por que eu teria o trabalho de contar a você, se iria espalhar seus planos para Sadrack depois? — L2 tirou a faca da porta e me entregou. — Nunca falei com você. E dormi a tarde inteira. Sozinho, de preferência.

Aceitei a faca e abri a porta.

— Sanus?

Parei.

— Hm?

— Deixe Lorenzo matá-lo. Para vingar a morte de Gabriel.

Franzi o cenho, não entendendo mais nada. Como assim? Como ele sabia que tinha sido Aaron a matá-lo? Eu estava lá naquela noite. Protegi Kananda. Mas não o tinha visto em toda aquela massa de pessoas se debatendo.

Olhei em seus olhos, notando uma breve semelhança com... Arfei. Deus, não era possível! Senti os pelos do meu antebraço eriçando, não podia ser...

Quem é você?

Ele baixou os olhos e virou de costas para mim.

— Uma sombra do passado.

Death | Vol. IIOnde histórias criam vida. Descubra agora