CINCO | * LIFE *

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ENTÃO QUER DIZER que não estava morto? Que lástima

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ENTÃO QUER DIZER que não estava morto? Que lástima.

Já tinha me preparado psicologicamente para morrer e saltar das garras de Sadrack. Pedira até perdão silenciosamente aos que não conseguira proteger. Kananda, Cris, Carmen Milla... Gabriel... e então sofri pelo tiro certeiro de Aaron.

A escuridão veio, a dor se alastrou por meus órgãos e então... nada. Apaguei.

E acordei com a voz de Lorenzo e Pietro envolvendo meus tímpanos.

— Oi — Pietro disse.

Semicerrei os olhos em sua direção.

— Você é meu tio — revelei.

Não queria mais segurar a língua. Já tinha cansado de segurar os seus segredos.

Eles poderiam notar que não sirvo para nada e me matar. Mas por que me salvaram? Por que se deram ao trabalho? Eu iria contar por livre e espontânea vontade o que sabia sobre Sadrack, se me deixassem ir embora depois.

Pietro engoliu em seco.

— Espere... quer dizer que você é filho de Sadrack? — Lorenzo indagou com uma careta.

Me ajeitei lentamente, sentando e encostando as costas nos travesseiros macios. Meus músculos reclamaram dolorosamente do repentino movimento, mas respirei fundo duas vezes e fechei os olhos, aceitando a dor.

Ela era bem-vinda. Significava que estava vivo. Que tinha algum propósito aqui ainda.

Lembrei que antes de servir como colete a prova de balas de Aaron, tinha procurado Kananda nesse corredor e essa sala estava vazia. Que consideração colocar uma cama enorme somente para o meu corpo moribundo.

— Sadrack tem alguns filhos espalhados por aí — fui evasivo.

Lorenzo não pareceu impressionado. Mas Pietro deu alguns passos incertos para frente, para perto de mim, e sentou na cama com uma expressão aturdida.

— Você é filho de quem?

E por que meu passado interessa a você?, poderia ter respondido. Mas não foi o que fiz. Desviei os olhos de sua atenção intensa.

— Carmen Milla Walker — respondi. Ele engoliu em seco com a menção do nome de minha mãe e empalideceu. — Eu fiquei com seu sobrenome, não adotei o dele. Tenho a leve impressão de que "Scott Hall" não soaria tão bem como "Scott Walker."

— E eu pensando que você era a cadela de Sadrack. Que pena. Era divertida a ideia — Lorenzo sorriu, me provocando. Ele olhou para o homem pasmado a minha frente. — Estamos com um dos filhos de Sadrack e agora fazemos o quê, Pietro? Pedimos uma recompensa?

Mas ele não respondeu, apenas ficou me examinando em estado de choque. Os olhos verdes, iguais aos do irmão, não eram frígidos e nem sádicos, pareciam... o que estava pensando?! Pietro era igual a Sadrack. Eles eram irmãos.

Tinham sido treinados no mesmo lugar por anos. Entretanto, Pietro sabia esconder bem a sua forma e fama verdadeira.

Fitei Lorenzo, que tinha se apoiado na parede e descansava a cabeça nela, fitando o teto, impaciente com nossa demora. Era melhor olhar para aquele inseto do que para Pietro.

— Sinto muito por seu irmão, de verdade. — Mordi os lábios quando ele me encarou. — Também sinto muito pelo fato de Sadrack não se importar comigo. O legítimo herdeiro é Aaron e agora meu pai deve estar soltando fogos de artifícios por minha morte, entende?

Lorenzo riu laconicamente, afastando os olhos mais uma vez para o teto. Pietro pareceu despertar do transe e me encarou.

— Acho que não é verdade — tirou um papel do bolso traseiro da calça jeans e me entregou. Segurei-o com dedos trêmulos. — Interceptei essa mensagem essa semana.

Baixei os olhos para a caligrafia conhecida e reli o bilhete para ter certeza de que ainda não estava sonhando. Franzi as sobrancelhas, não acreditando mesmo assim no que estava escrito.

TENHO SANUS ATRÁS DE LORENZO E PIETRO. ELES PAGARÃO POR TER MATADO O MEU FILHO, SCOTT HALL.

Scott. Hall.

Parecia uma piada.

— Merda. — Xinguei baixinho, irritado. Sanus está atrás dos dois? Sadrack se importa mesmo com a minha morte ou é só mais uma desculpa para declarar guerra?! Que pergunta idiota. É claro que a segunda opção era a mais em conta. — Não sei como ainda não morreu, Lorenzo. Sanus é um assassino treinado. — E meio que meu amante.

Os dois trocaram um olhar inconformado. O mais novo se aproximou como um predador, com passos lentos, os olhos fixos em mim. Se ajoelhou perto da cama, me fazendo abaixar o pescoço e olhar para ele.

— Eu sei. E também sei que você deve servir para alguma coisa, Scott. O que ainda não sabemos que pode ser usado contra Sadrack?

Apertei os lábios e olhei mais uma vez para o papel branco. Trocando de lado? Quem diria que Sadrack me tinha como filho e não como um mero bastardo?

A constatação disso me fez dar um sorrisinho malditamente perverso.

— Ele só tem um herdeiro agora — lembrei. Porque minhas irmãs estão fora de cogitação. — Estou morto, para todos os efeitos, e nós temos que tirá-lo da linha. Temos que matar Aaron, para desestabilizá-lo totalmente, e eu tenho a pessoa certa para me ajudar.

Lorenzo e Pietro se entreolharam mais uma vez, agora despreocupados e meramente satisfeitos. Tudo bem. Se tinha que entrar naquele ninho de cobras, eu entraria.

Mas com os meus jogos e meus segredos — jogando sob as minhas regras. 

Death | Vol. IIOnde histórias criam vida. Descubra agora