VINTE E OITO | *HEAVEN*

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A ESCURIDÃO ME envolvia

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A ESCURIDÃO ME envolvia.

Eu estava em um local completamente cinza, com árvores enegrecidas e tortas. O vento forte bagunçava meus cabelos, fazendo-os ir para a frente dos olhos. Onde eu estava? No Inferno? Sempre tinha ouvido falar que ele era quente.

Mas isso... esse vento estava me congelando.

Claro que também havia poucas suposições sobre o Inferno ser feito de gelo. Mas sempre associei o diabo ao fogo e Deus a paz e tranquilidade de um lugar esbranquiçado. Eu sabia que não merecia ir para o Céu. Tinha tirado muitas vidas.

Dizem que quem mata não vai para junto de Deus. E agora... estava trancado aqui por toda a eternidade.

Nessa imensidão cinza e preta e demasiadamente fria. Essa era a minha penitência? Viver eternamente solitário e passando frio? Pelo menos, ainda não estava sentado no colo de Lúcifer.

— Irmão?

Girei o corpo rapidamente e encarei, surpreso, Sirius — meu irmão mais velho. Ah, não. A lembrança dele iria me perseguir infinitamente? Seria essa então minha punição para todo o sempre? Reviver e sofrer pelo irmão que morreu com meus pais no acidente?

Esse era um modo cruel de passar a eternidade.

— Sirius.

O sorriso radiante ainda continuava o mesmo desde a adolescência. Os olhos azuis que constantemente iam para verdes — como os meus e de Gabriel — se estreitaram levemente.

Ele estava mais velho agora. Um homem alto, musculoso, os cabelos pretos imóveis, como se o vento não ousasse tocá-lo.

— Você não morreu, Lorenzo — informou. — Tem que lutar para acordar.

— É, eu sei. — Não acreditei em nenhuma de suas palavras. O sarcasmo era evidente em minha voz. — Você é Lúcifer, então?

Sirius cruzou os braços e inclinou a cabeça para trás. Mesmo sendo uma miragem, era bom observá-lo. Respirando. Nem parecia o garoto que morrera perto de mim.

Todo quebrado.

— Chega, Lorenzo — disse, inquieto. — Você não morreu. Tem que voltar. Tem que acordar. Precisa cuidar deles.

Deles? Eu tinha que aproveitar a chance de vê-lo. Precisava desesperadamente tirar o peso do meu coração, confessando o que vinha sentindo há anos.

Para o único Willer morto — o único irmão.

— Eu amo você, Sirius. Sinto muito por ter matado aquele colega de classe no colégio. Se não fosse por isso, nossos pais não teriam me levado no médico. Não teríamos sofrido o acidente e você não estaria morto agora. Tudo teria sido diferente

Ele piscou.

— Enzo, ouça com atenção minhas palavras. Você não tem culpa, era uma criança que não sabia o que estava fazendo. Você merece o perdão, se mudar quem você é. Se for atrás de ajuda, se não abandonar o tratamento novamente!

Eu não mereço. Mas não o contradisse, não naquele momento onde estava ouvindo sua voz. Era tão bom estar com meu irmão novamente.

Ele deu um passo à frente. Estava vestido de branco. Totalmente. Dos pés à cabeça.

— Escute — ele disse.

Franzi as sobrancelhas, olhando ao redor.

— O quê?

— Se concentre.

Respirei fundo, fechando os olhos e molhando os lábios com a língua. Foi quando escutei um choro. Senti minha mão esquerda pinicar, como se pequenas agulhas estivessem sendo fincadas em minha pele.

Dizem que as pessoas... assim... — Era Kananda quem estava falando? Impossível. Ela não podia ter sido morta também! — No seu estado, conseguem nos ouvir. Não sei. Mas vou falar algo, pensar que você está dormindo e não vai lembrar de nada quando acordar. — Parou de falar e murmurou em seguida. — Bem, isso se você sair dessa.

Okay... então era verdade? Eu não estava morto?

Senti Kananda perto de mim. Uma sensação de preenchimento quente contra aquele vento gelado. Bom. Como nunca senti antes. Assim como estava tendo com Sirius ali.

Permaneci de olhos fechados.

Sabe a ironia de tudo isso, Lorenzo? É que eu amo você, desgraçado. Por favor, acorde. Por favor. Eu gostaria de dizer isso a você, quando estiver com os olhos abertos.

Eu queria contar que estava escutando, que se conseguisse acordar, faria isso. Mas não movi os lábios. Pareciam grudados com cola.

Por mim, Enzo. Abra os olhos.

Estou tentando! Senti quando se afastou de mim, a dormência em meu coração foi terrível, a sensação de vazio era indescritível. O seu calor estava indo embora e eu não conseguia fazer nada!

Desnorteado, voltei a atenção para aquela imensidão cinza, mas Sirius não estava mais ali. Não. Não! Desesperado, fiquei rodando em círculos, tentando achá-lo. Ele não poderia ir de novo, assim como Kananda foi embora.

Ele tinha que ficar comigo! Eu precisava pedir perdão por todos os pecados cometidos.

Senti o vento amenizar.

Eu perdoo você, meu irmão. — Sua voz me preencheu de alívio. E culpa. — Volte, faça tudo direito, dessa vez. Melhore. Não coloque mais a culpa em sua doença... por mim. Proteja-a.

Quem? Proteger quem? O que estava acontecendo? Minha cabeça estava explodindo de dor. Fechei e abri os olhos, vendo o teto de um hospital. Erguendo o tronco da cama e lutando contra o tubo enfiado em minha garganta.

Eu acordei.

Death | Vol. IIOnde histórias criam vida. Descubra agora