QUARENTA E SETE | *BROTHER*

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EU SONHEI COM você

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EU SONHEI COM você. Você estava morto. Você não é real. Estou sonhando, certo?

Caí de joelhos, mal sentindo a dor em minhas costelas maltratadas. Eu não conseguia acreditar no que meus olhos estavam vendo. Era uma miragem. Talvez... não sei, não havia explicação, era demais para o meu cérebro aceitar.

— Não.

— Não? — Sadrack saiu lá de trás, onde acendeu as luzes e veio caminhando lentamente em minha direção, admirando meu estado com alegria. — Não, Lorenzo? Você não está feliz em reencontrar sua amada e seu irmão?

Agora sim a dor estava vindo em ondas fortes, incontrolável. A emoção de vê-los ali era indescritível. Os três, sendo sincero. Até ver Sanus com uma trouxa amarrada na boca e com sangue no rosto foi um alívio. Mas onde está a outra irmã?

Kananda não parecia ter sofrido nenhum maltrato, tirando os cortes da explosão. Meu anjo. Os cabelos ruivos estavam amarrados em um rabo de cavalo apressado e sua expressão era de pavor misturado com felicidade?

Por saber que estava vivo, quem sabe?

Ah, Kan, eu não mereço você. Fiquei com vontade de gritar seu nome e dizer que tudo se acertaria. Que tudo voltaria ao normal. Mas não tinha como isso acontecer. Porque nada, a partir daquele momento, voltaria a ficar normal.

A minha maior surpresa daquela manhã foi ver meu irmão mais velho. Vivo.

Ele claramente estava mais velho depois de sete anos. Mas os cabelos continuavam pretos, como lembrava, mas mais curtos, e os mesmos olhos azuis puxados para verdes. A herança de nosso pai para nós. Alto, magro e olhos azuis que constantemente mudavam para verdes.

Encarei-o, e vi quando uma lágrima caiu e foi parar no pano em sua boca. Meu Deus. Eu "perdi" um irmão, e estava ganhando outro — dado como morto há anos.

— C-como? — Gaguejei, sentindo o ar evaporar dos pulmões.

Sadrack ficou atrás de Kananda e colocou suas patas nos ombros dela. Levantei, um pouco mais recuperado, deixando as mãos próximas a cintura e me certificando de que elas estivessem prontas para meu reflexo. Vou matá-lo.

— Não estamos com tempo — ele remexeu a boca de um lado para outro. — Mas você vai morrer, então por que deixá-lo no escuro, certo?

Os dois estavam chorando, desesperados. Sirius e Kananda. Já Sanus parecia resoluto. Aceitando a situação. Ele fora criado para não ter medo da morte, como mesmo disse. Já tinha estado muitas vezes do outro lado da linha, matando, para se importar.

Escorreguei o olhar pelo local deserto. Era uma sala iluminada por cinco lâmpadas, e tinha somente as três cadeiras no centro. Não enxerguei saída além da porta pela qual entrei.

— Quer saber de tudo, não é mesmo? — Ele sorriu, se deliciando com a situação.

Era o único, pelo jeito.

Fixei os olhos em Sirius. Kananda estava em minha visão periférica, mas ele era minha âncora. Minha salvação. Sempre foi, desde criança. Foi ele que disse que tudo ia ficar bem quando nossa mãe me levou ao médico. Minutos antes daquele acidente.

Mas, como ele sobreviveu? Onde ficou todos esses anos?

— Quero — respondi.

Sadrack trocou o peso de um pé para outro.

— Eu estava passando por lá quando o carro capotou. Eu vi. Sirius não estava de cinto, lembra?

Tentei relembrar a cena de nós cinco no carro. Mas era difícil, estava desbotada e o máximo que conseguia era ouvir o barulho do vidro se quebrando e depois... o sangue em minhas mãos.

Mais nada.

— Não.

— Ah, que seja — Sadrack se espreguiçou e começou a fazer massagem nos ombros de Kananda. Aquela cena me causou náuseas. — Ele não estava usando cinto de segurança e vi quando seu corpo voou para a estrada. Verifiquei se estava vivo, vocês também. Notei você em especial, atordoado. Mas Sirius era mais velho e quase da idade de Scott, seria bom outro menino para treinar.

— Você é doente — rosnei.

Ele riu, sem se alterar.

— Continuando. Ele estava bem machucado, cheio de ferimentos, eu o levei dali e liguei para uma ambulância. Sabia que o carro não tinha perigo de pegar fogo, muito menos de ser encontrado, porque vocês estavam em uma rua quase inabitada.

"Criei-o como um lacaio, sem nome, sem identidade, o coloquei em seu lugar. Naquele tempo você nem existia, Death. Nada. Então você apareceu, começou a me incomodar. Criando seu clubinho idiota com Pietro. E olhe só, descobri a sua árvore genealógica, e não é que você e Sirius eram irmãos? Na época, não encontraram o corpo de seu irmão, mas deduziram que ele estava morto. Encerraram o caso."

Tentei abduzir todas as palavras, mas estava difícil. Rápido. Tudo estava acontecendo rápido demais.

— Sabe como é o nome dessa coisa? — Apontou para ele.

Neguei com a cabeça, zonzo.

— L2. Comecei-o a chamar assim depois de descobrir seu parentesco com Lorenzo Willer — debochou. — E esse tempo todo ele esteve tão perto de você. E sempre soube quem você tinha se tornado, soube até de primeira mão que Gabriel tinha sido morto, não é, L2?

Que?

— Mas chega de enrolar, já estou ficando farto disso — Sadrack tirou duas armas da cintura e encostou-as, uma, na cabeça de Kananda, e outra, apontando para Sirius. — Escolha, Lorenzo, quem você salvará. Somente um. E não esqueça de agradecer, estou lhe dando uma escolha que não me foi dada. Perdi meus dois filhos sem poder fazer nada.

Abri a boca, tremendo. Minha mente sofreu uma parada brusca. O que estava acontecendo mesmo? O que tinha que fazer e como fazer? O mundo pareceu se desenrolar em segundos torturantes.

— Você enlouqueceu? — Completei, desorientado com sua proposta. — Você realmente ficou louco, não é? Sadrack, pare com isso. O seu problema é comigo. Me mate e deixe-os em paz!

Ignorando meu pedido, ele retirou a trava de segurança das duas em um só movimento e encostou na cabeça dos dois novamente.

— Quer que eu escolha por você, Death?

Death | Vol. IIOnde histórias criam vida. Descubra agora