SEIS | * IGNORANCE *

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SAÍ DAQUELE QUARTO e fechei a porta atrás de mim, aturdido

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SAÍ DAQUELE QUARTO e fechei a porta atrás de mim, aturdido. Não pode ser. Como pude ser tão burro? Lorenzo se encaminhou para o bar do Perverse calmamente, como se descobrir que um de seus maiores inimigos estava vivo e dormindo embaixo do seu nariz, não fosse nada demais.

O movimento no clube estava começando a aumentar. Então até que ainda não tínhamos prejuízo. Isso, e o fato dos pais de Lorenzo terem deixado uma fortuna para ele. Lorenzo só pôde pegar a herança depois que completou dezoito anos.

Ele guardou-a e usou um pouco para pagar a faculdade do irmão e do próprio, além de investir no Perverse Killers. Falando nisso, não podia esquecer de ir lá e cancelar a matrícula de Gabriel. Afinal, ele não voltaria tão cedo as aulas.

Tantos problemas... Nenhuma solução...

Batuquei os dedos na mesa de vidro, inquieto, e deixei os olhos fitando o nada enquanto preparava uma pequena lista mental do que ainda faltava fazer. Começando com...

— Ei — encarei Caio, que estava vestido com uma camiseta preta e o colete do clube. Ele serviu uma dose de vodka para mim sem eu ter pedido. Bom garoto. — Tem como você me dar um pouco de comida para levar a Scott?

Ele fez uma expressão de insatisfação, mas assentiu. Passando pela porta ao lado do bar, que levava a cozinha.

— Você não acha que até um cachorro moribundo poderia levar a comida dele? — Lorenzo sentou no banquinho ao meu lado e deixou a nuca descansando na palma da mão. — Por que tanta preocupação, Pietro?

Engoli o líquido que passou queimando por minha garganta.

Um filho de Milla. O filho do segundo amor da minha vida. O passado voltou depois de tanto tempo para me atormentar, quando pensei que já estivesse livre dele.

— Não é nada, Lorenzo. Me deixe em paz.

— Uh, nossa. Alguém aí viu a faca que atingiu o meu coração? — Fez uma expressão indignada e colocou a mão livre em cima do peito. — Me magoou, Pie. Não faça assim.

Rolei os olhos no mesmo instante em que Caio colocou uma bandeja, contendo uma vasilha com sopa e um copo de suco de laranja, na minha frente. Lorenzo e sua ironia. Bom sinal, ele estava melhorando. Lutando contra sua dor.

Eu tinha que fazer o mesmo.

— Cuide um pouco daqui, faça o seu papel de líder. — Mandei, recebendo um bico de pato em resposta.

— Vai lá, vovô. Faça o seu trabalho de babá.

Não respondi a sua provocação. Estava muito ocupado pensando em Scott, para revidar.

¥¥

Eu tinha vinte e dois anos e muitas mortes nas costas.

Mas não queria ter mais uma. Ou queria? Quem sabe, a do meu irmão mais velho. Tudo porque o maldito roubou Milla Walker de mim, a única mulher que cogitei entregar meus sentimentos e os dois passaram por cima deles.

E agora, ela me encarava com vergonha, as lágrimas banhando seu lindo rosto.

— Você está dizendo que está grávida? De quem? — Gritei, parcialmente descontrolado.

Por que se estivesse completamente fora de mim... cabeças rolariam, eu não conseguiria pensar em nada coerentemente e faria uma besteira que certamente me arrependeria depois.

Milla se encolheu. E mais outra parte de mim se quebrou por fazê-la sofrer e ter medo. Ela deveria sentir medo de Sadrack. Não de mim.

— De quem é?

O seu choro aumentou, mas não houve resposta. Sentei no sofá e respirei fundo. Tudo bem, acalme-se, Pietro. Já passou. Acabou. Mas era difícil reprimir meu lado assassino. Eu queria encontrar Sadrack e enforcá-lo.

Nós dois tínhamos ficado com ela. E embora fosse muito jovem para ter filhos, não queria que Sadrack tivesse colocado mais uma criança no mundo. Oliver já bastava, e aquele menino precisava desesperadamente de um pai.

Mas também, uma criança não merecia ter um pai como eu. Um dos melhores assassinos treinados. Um monstro pior do que todos que já conheci até pior que Sadrack, se me esforçasse.

— Você precisa me proteger dele — os soluços chegaram em ondas até meus ouvidos.

Levantei a cabeça, encarando-a.

— Então é dele?

Mas seu olhar tirou o meu fôlego.

¥¥

Como pude ser tão burro e imbecil? Como pude esquecer... Eu era um jovem idiota e inconsequente... Abri a porta e o encontrei na janela.

Scott Walker.

Olhando de perto, ele não era parecido em nada com Sadrack, porque herdou todas as características físicas da mãe. A não ser em alguns olhares bárbaros e selvagens que lançava quando estava sendo afrontado ou amedrontado — isso sim era uma herança de nossa família.

O barulho o fez se virar em minha direção. Ele cheirou o ar, erguendo o queixo.

— Espero que não esteja envenenado — falou. — Estou morrendo de fome.

Deixei a bandeja em cima da cama e o observei. Ele era realmente igual a ela — como nunca notei? — Os olhos castanhos e amendoados, os cabelos da mesma cor. Era a marca registrada quando Carmen Milla fazia os seus joguinhos de sedução.

E eu caí em todos eles.

Scott sentou na cama e provou a sopa, soltando um som de agrado logo em seguida.

— Obrigado.

— Você não é filho de Sadrack desembuchei, me sentindo enjoado.

A colher que estava em sua boca voou para o chão enquanto um acesso de tosse dominava o seu corpo. Scott se curvou, fez uma careta de dor e me olhou como se tivesse criado duas galhadas gigantescas na cabeça.

— O que? O que está dizendo?

Que deixei você sofrer porque estava sofrendo, porque fui egoísta, porque perdi pela segunda vez, quem amava. Que não o protegi quando deveria. Que não estava lá para salvar você de Sadrack e aquele clube.

Não havia mesmo como fugir do passado. Mas nunca fui muito bom em enfrentá-lo.

— Quando sua mãe contou para mim sobre a gravidez, prometi proteger você. Mas já tinha esquecido o juramento quando ela morreu hesitei, envergonhado, vendo sua expressão de raiva. Eu mereço isso. — Eu sabia que o conhecia de algum lugar. Mas ainda não tinha me dado conta.

— O que? — Repetiu, consternado.

Por que nunca me dei ao trabalho de saber quem era o garoto ao lado de Sadrack? Tomara que Scott não tivesse um ataque cardíaco ali na minha frente. Não depois das reviravoltas que estavam consumindo a minha vida. Na verdade, era eu quem tinha que cair duro no chão.

Porque quase o perdi novamente. Se não fosse tão forte, ele poderia ter morrido em meus braços!

Sentei na beirada da cama, incapaz de permanecer de pé sobre os joelhos amolecidos.

— Eu, Sadrack e Milla meio que vivemos um triângulo amoroso. Ela teve um filho e um ano depois, uma menina. Não é?

Ele concordou, encabulado e perdido. Por que tem que ser tudo tão difícil? Já passei por coisas piores, entretanto... aqui estava eu, tremendo, nervoso e suando.

— Pois é — cocei a nuca. — Ela é filha de Sadrack e você é... você é meu filho, Scott. 

Death | Vol. IIOnde histórias criam vida. Descubra agora