VINTE E CINCO | *PANIC*

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SEGUREI MINHAS MÃOS trêmulas, encarando através do vidro

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SEGUREI MINHAS MÃOS trêmulas, encarando através do vidro. Vendo a paisagem passar como um borrão, de tão rápido que ele estava indo. Perfeito.

Eu queria ver Lorenzo o mais rápido possível.

O carro de Scott era mais do que estava acostumada a andar. Era enorme, confortável... frio. Parecia que ia me perder em meio ao banco estofado e cheiroso.

— Como você conseguiu esse carro, Scott?

Ele riu.

— Impressão minha ou me chamou de pobre?

Tentei acompanhar seu sorriso, mas não consegui. Olhei pela janela, as casas passando velozmente. Nervosa. Eu estava uma pilha de nervos. Somente para me concentrar, já era um problema. Deus, permita que nada aconteça com ele.

Porque, por mais que Lorenzo tivesse dito aquelas palavras cruéis, me ameaçado... eu ainda era idiota o suficiente para sentir algo por ele. Para sentir um aperto ardente no peito ao pensar em seu corpo desacordado deitado em um leito de hospital.

— Impressão sua — respondi, finalmente.

— Seja como for, esse carro não é meu — trocou a marcha. — É do meu pai.

Estava pronta para perguntar como era a sensação de dirigir algo que pertencia a Sadrack, mas milagrosamente lembrei que o pai verdadeiro de Scott era Pietro. Minha nossa, que confusão. Sentia saudades dele. E de Lorenzo também.

Virei para Scott quando ele recomeçou a falar.

— Ele vai ficar bem, tenho certeza. Agora vá lá, não posso descer. Provavelmente, eles ainda estão na recepção.

Me dei conta de que estávamos na frente do hospital. Quando apaguei e não o vi estacionando?

— Sei. Tente não morrer de novo, okay?

Scott piscou um olho castanho.

— Okay.

Dei um forte abraço em Scott e um beijo em seu rosto. Ele está vivo. Ainda é tão difícil de acreditar. Desci, arrumando a bolsa no ombro direito e entrando.

Antes que desse mais um passo para perguntar sobre Enzo, meu corpo foi abraçado.

Fiquei sem reação até notar o perfume familiar.

— Oi, Sanus.

Seu corpo ficou tenso e me separei de seu abraço rapidamente. Minha vontade era pular em seu pescoço, quebrá-lo ali mesmo. Como ele conseguiu me enganar? Por que se passou por meu amigo? Eu confiei em você.

— Já pode parar com o teatro.

— Como? — Ele corou.

Uni os dedos e o encarei seriamente. Não sei como ainda não estava chorando e gaguejando.

— Eu sei sobre tudo. Sobre você não ser Kieran e sim, Sanus, sobre você estar ao meu lado pelas ordens de Sadrack! Como foi a sensação de me fazer de tola?

Vi surpresa em seu olhar, que logo em seguida, foi substituída pela raiva.

— A sensação foi ótima. E já que estamos aqui, por que não me conta sobre o episódio em que ficamos juntos? Não lembro desse dia. Lorenzo quase arrancou minha cabeça por suas mentiras!

Ele o quê?! Tranquei a respiração. Eu fiquei com raiva de Lorenzo, e disse a primeira coisa que passou por meus pensamentos. Dessa vez, foram as minhas bochechas que esquentaram.

— Quer saber? — Resmunguei. — Fique longe de mim!

Sanus ergueu as sobrancelhas escuras. O aperto em meu peito piorou ainda mais.

— Ah, vou ficar — respondeu. — Tenha certeza disso, sua tonta mentirosa!

— Você também mentiu!

— Eu estava trabalhando. Precisava me aproximar de você, não foi por vontade própria. Fique certa disso.

Mordi os lábios, sem saber o que dizer. Foi quando Pietro se colocou em nosso meio.

— Chega!

Girei a cabeça, observando ao meu redor. As pessoas já nos olhavam com curiosidade e incômodo. Isso é um hospital. Era para ser silencioso, e estávamos dando um belo show.

Depois de se certificar que a briga havia parado, Pietro sorriu para mim e me abraçou. Descansei em seu abraço reconfortante e permiti que as lágrimas viessem. Todos os sentimentos reprimidos, agora estavam postos em sua frente.

Na frente deles.

Ele afagou meus cabelos, compreensivo.

— Ei — disse. — Lorenzo já pode receber visitas, e já deixei seu nome na lista. Vá lá. Segundo andar, quarto 36 — deu tapinhas fracos em minhas costas, me encorajando.

Deixei minha bolsa com ele, passei por Sanus sem encará-lo e segui até o elevador. Eu não conhecia aquele hospital. Mas tentei seguir suas orientações.

30, 31, 32...

Caminhei pelo corredor até achar sua porta. Ela estava aberta e Lorenzo era o único no quarto. Entrei, absorvendo seu estado catastrófico e terrível. Ele respirava com a ajuda de um ventilador mecânico, através de um tubo. Enzo estava extremamente pálido, as pálpebras tremeluzindo levemente.

Passei os dedos por sua mão.

Era para estar longe de tudo isso, dele. Mas não conseguia aprender a lição. Eu estava aqui, parada ao lado de sua cama. Olhando-o em procura de algum sinal de movimento, que não fosse por puro reflexo.

Droga de imã chamado Lorenzo Willer.

— Dizem que as pessoas... assim... — não consegui me expressar direito, minha voz estava rouca — no seu estado, conseguem nos ouvir. Não sei. Mas vou falar algo, pensar que você está dormindo e não vai lembrar de nada quando acordar — fiz uma careta. — Bem, isso, se você sair dessa — sussurrei.

As lágrimas começaram a cair novamente, por vê-lo ali, naquele estado caótico. Doente. O pânico apertou minhas entranhas. E se o perdesse para sempre, como perdi Gabriel? E se Enzo fosse embora sem saber que ainda nutria algo por ele? Que eu era uma doente idiota que mantinha sentimentos por uma pessoa que sofria de transtorno de personalidade?

Apertei sua mão e chorei em seu peito. Chorei por não termos dado certo. Pelas coisas que fizemos um ao outro. Por indiretamente ter matado Gabriel. Por tê-lo provocado sobre Sanus. Por ter quebrado uma das sedes do Perverse Killers... Por tudo.

Tudo o que estava sufocando em mim... Foi posto para fora.

Já tinha até perdido a noção do tempo. Segundos? Minutos? Horas? Ninguém apareceu ali para me tirar do quarto, então aproveitei o tempo que restava, lhe observando. Vendo os desenhos de suas tatuagens. Lembrando da nossa única noite.

Uma noite que foi tão boa. Mas que repentinamente se transformou em um prenúncio de guerra.

Fiz carinho em seu rosto.

— Sabe a ironia de tudo isso, Lorenzo? É que eu amo você, desgraçado. Por favor, acorde. Por favor — funguei. — Eu gostaria de dizer isso a você, quando estiver com os olhos abertos.

Esperei mais um pouco. Nada.

— Por mim, Enzo — pedi, desesperada. — Abra os olhos.

Mas ele não acordou.

Death | Vol. IIOnde histórias criam vida. Descubra agora