QUARENTA E NOVE | *REVENGE*

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EU SABIA QUE esse dia chegaria

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EU SABIA QUE esse dia chegaria. Finalmente. O dia em que me vingaria de Sadrack Hall — sem ter medo de ser abatido como um porco, posteriormente.

Apertei a IMI Desert Eagle com força, sentindo o suor escorrer por minha espinha. Me apertei contra a parede e esperei. Estava preparado para entrar ali e matá-lo com todas as balas da pistola. Abatê-lo como o maldito bicho que era.

Que, imagino, sempre foi.

Não consegui nada indo disfarçado ao Ruthless, então tive que recorrer ao meu pai. Com muito custo, tinha conseguido arrancar a informação de Pietro hoje pela manhã. O encontro de Sadrack e Lorenzo seria às 10:00h em ponto.

Ele tinha falado isso às 10:30h.

Corri com o intuito de ajudar Lorenzo, mas o silêncio lá dentro era assustador. Escolhi entrar pela saída dos fundos. Era provável que ninguém me notasse. Daria somente um tiro em suas costas ou testa, dependendo muito da situação e pronto.

Acabaria com o problema ali.

Então, depois, se Cristina e Kananda não estivessem vendo, provavelmente aproveitaria para descarregar o pente e me certificar de que Sadrack não levantaria mais. Que aquele inferno acabaria de uma vez por todas.

Quando estava praticamente levando a mão para abrir a porta, escutei dois tiros. O que? Em quem? Pulei para trás com o súbito som, tropecei em uma pedra e caí de bunda no chão.

Ah, perfeito.

Um homem treinado levando susto por barulho de tiros. Mas é que a situação requeria. Eu me tornei uma pilha de nervos. Minha irmã estava em perigo. Meu namorado estava em perigo e Kananda também. Todos estavam.

Até Lorenzo.

Fiquei de pé a tempo de ver Sadrack abrindo a porta com tudo e fechando-a atrás de si. Foi quando seus olhos recaíram sobre mim.

— Oi, pai — usei todo meu autocontrole para não fazer nada de errado ainda.

Vi a mudança de sentimentos em suas feições rústicas. Dor, confusão, tristeza, reconhecimento. Tudo passou pelos olhos verdes, iguais aos do irmão. Agora que parei para pensar que Sadrack era meu tio. Não mais meu pai.

Eca.

Scott? Impossível.

Ouvi muitos desses quando voltei dos "mortos". Mas o dele pareceu bem sincero. Sadrack realmente não sabia que eu estava vivo? Merda.

Em quem ele deu os dois tiros?

A curiosidade estava me corroendo, mas era o único ali impedindo sua fuga. Esperava sinceramente que quem tivesse sobrevivido fosse Sanus, Kananda e Cristina. Tudo bem que Lorenzo tinha melhorado significativamente.

Mas ainda escolhia minha família a ele. E Kananda seria mais feliz quando o visse morto com duas balas plantadas no cérebro atrofiado.

— Impossível, pai? — Aquela simples palavra fazia minha língua pingar veneno e arder. Sorri diabolicamente. — Não, estou vivo e vim te salvar. Mas primeiro, onde estão minhas irmãs e meu irmão?

Claro que ele não sabia que tinha sido eu a matar o querido Aaron. A mão fora a de Lorenzo, óbvio, mas eu tinha ajudado com prazer. Por ele ter iniciado a confusão no Perverse e atirado em mim para matar quando teve a chance — e sem remorso.

Os segundos passavam lentamente na frente dos meus olhos. O suor agora brotava da testa e os pingos corriam livremente para os olhos.

— Me salvar?

— Claro. Ou você acha que vai muito longe tendo matado Lorenzo? — Chutei.

Ele riu. E aquela risada quase foi capaz de gelar meu sangue e parar meu coração. Nunca tinha visto um louco de corpo e alma. Mas era capaz de imaginar que Sadrack se enquadrava naquela situação.

— Você matou Lorenzo, certo? — Perguntei, me certificando. — Onde estão meus irmãos, Sadrack?

Digamos que o jogo estava ficando perigoso demais para o meu gosto. Precisava mantê-lo entretido, mas o silêncio lá dentro estava começando a me assustar.

— Não, não tive esse prazer, sabe? De matá-lo. Cristina está segura no clube. Aaron... morreu. E Kananda me traiu ao engravidar daquele verme. Minha melhor menina me traiu. Somente você é o meu orgulho, Scott. Fugiremos juntos, não é?

Minhas mãos começaram a tremer violentamente e escondi, finalmente, a pistola atrás de mim. Kananda... grávida?! Meu Deus, Enzo sabia dessa novidade? E Sadrack tinha tido a coragem de...

— O que você fez?

— Eu atirei em L2 e em Kananda.

Dois tiros. Minha garganta trancou. Ele tinha atirado nela. Em sua própria filha e no neto. Covarde.

Trinquei os dentes.

— Vá primeiro, vou matar todos ali e depois vou atrás de você. Lhe encontro onde estiver — forcei a voz a sair e não falhar, aparentando seriedade.

Eu queria tanto meter uma bala na cara de Sadrack.

— Mas e você? Tem quatro lá dentro, se bem que Kananda e Sirius já devem estar mortos agora. Não precisa se dar ao trabalho de voltar lá. Vamos agora. Que tal Texas? Sempre gostei da ideia de viajar para lá com você.

Você é um doente, Sadrack. Nem parece que acabou de matar a própria filha. Jesus.

Não fazia ideia de quem era esse tal de Sirius, talvez o nome verdadeiro de L2? Cresci com ele, mas como meu serviçal, nunca aprendi a amá-lo como um irmão. Mas Kananda... morta... Mordi o lábio até senti-lo pinicar de dor e, mesmo assim, não o soltei.

Ele a tinha assassinado. A sangue-frio.

Não, lembrei, Sadrack matara a própria filha e o neto por serem de Lorenzo, seu rival. Aquele homem à minha frente era simplesmente uma mistura de crueldade e podridão. Nada mais de bom restava em sua alma negra.

— Esqueceu que sempre quis matar Lorenzo? Essa é a minha chance. Vá. Texas está ótimo para mim — respondi, engasgando.

Ele sorriu, veio até mim a passos lentos, me olhou como se ainda não acreditasse que estivesse renascido e deu um beijo na bochecha. Fiz força para não demonstrar nojo.

— Vai ficar tudo bem, não é, Scott? Depois você vai me explicar como está vivo. Volte lá e o mate. Aproveite e faça o mesmo com Sanus.

Sanus. Isso significava que ele ainda estava vivo. Que a esperança que estava tentando sufocar estava certa. Soltei a respiração presa.

Pode deixar — falei. — Agora vá, depressa, antes que alguém chegue.

Ele assentiu e começou a andar.

Trouxe a pistola para junto do peito, destravei e fechei os olhos. Eu o perdoo pelo que fez comigo. E não serei mais o monstro que criou, não torturarei mais ninguém. Mesmo que você mereça. Vou deixá-lo para trás, com você. Não acreditei que estava chorando por alguém que pensei ser meu pai por todos esses anos.

Escutei os passos na grama, pesados e decididos. Apontei a arma e fiz um único disparo. Escutei o barulho surdo do corpo caindo na grama, nenhum gemido. Nada. Abri os olhos, apenas para ver a bala enterrada em sua cabeça — sem dor ou sofrimento.

Não merecia mais esse peso nos ombros, mas era preciso. Ou ele nunca nos deixaria em paz. Por eles, pela nossa família, vou carregar esse fardo pelo resto da minha vida.

No fim das contas, Sadrack teve um final mais digno do que merecia.

Death | Vol. IIOnde histórias criam vida. Descubra agora