CAPITULO 1

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A semana parece não ter fim quando não se faz nada além de sair, beber, chegar tarde em casa, ou, na maioria das vezes nem voltar. Sei que um dia a monotonia vai acabar me definhando.
Meus ouvidos zumbia e parece que haviam passado com um caminhão de brita por cima de mim, e dado ré pra asfaltar. Não sei por que eu ainda não joguei esse despertador longe, nem tenho a obrigação de acordar cedo pra ter que programa-lo. Como todas as manhãs, quando estou em casa minha mãe me chama pro café da manhã. Faço uma contagem regressiva de cinco segundos esperando Julie me gritar.
Ela não chama, minha testa se franze em estranheza. Me levanto da cama, coloco meu hobby de cetim e desço. Estou tão faminta que nem me lembrei de tomar um banho digno e escovar os dentes. E , minha cabeça dói.

— Suas torradas estão quase... - o som da torradeira a interrompeu — prontas. - sorrio, mamãe as pega e as coloca em um prato me entregando.

Antes de me sentar junto a eles, corro para irritar Emma, a amasso até ouvir seu gritinho estridente de criança me fazendo rir. Papai me da um cutucão no braço e pede pra que eu pare de irritá-la. Sei que vou me ferrar quando ela crescer e tiver tamanho e astúcia de uma adolescente revoltada e se vingar de tudo isso. Mas isso vai levar uns bons anos. Meu bebê tem apenas 3 anos, o máximo que ela pode fazer é chutar minhas canelas.

— Irei palestrar hoje, no museu de artes modernas. - mamãe escuta atentamente enquanto eu devoro minhas torradas. — Estou com um novo projeto e queria toda família reunida pra me prestigiar. - resmungo. Rolê em família, serio?! Em plena sexta-feira.

— Emma não pode entrar nesses tipos de evento, é pra gente grande. - aponto para pequena. — Podem ir, eu fico com ela. Nos damos super bem, né Emm?!

— Já prometi ficar com ela essa noite. - mamãe protesta. Merda! — Então você vai.

Meu pai é sócio majoritário da Sense Psychology Corporation, uma clínica psicotécnica, que atende varias pessoas que procuram ajuda psicológica no geral. Enrico é bem influente em todo país, respeitado por muitos. Os Cooper são conhecidos, além do peso do sobrenome, pelas filantropias, suporte a comunidade carente, e claro, a filha problemática com transtornos de personalidade - eu.

— Nem pensar. - digo ríspida — Ir nesses eventos de gente chata e metida que só sabem falar de si e como a vida é, como tudo é bom e tem solução, é tortura. Não vou mesmo. - como mais uma torrada.

— Aceitaria um "não quero ir pai, tenho compromisso" ou um "não gosto disso, pai" mas você foi muito arrogante dizendo isso. - ele me repreende. Merda! — Você vai! É uma ordem, estou farto de suas malcriações

Poucas vezes na vida eu vi meu pai nervoso. E dessas poucas vezes a única forma de fazê-lo voltar à normalidade é calar e obedecer. O grande Dr. Cooper consegue ser bem cruel e autoritário quando quer, e com quem quiser, mesmo que seja a menina do seus olhos. Vejo isso como uma qualidade e minha mãe diz que sou muito parecida com ele - "a cópia" -, quando quero algo, não importa quem seja, eu me transformo pra ter e não aceito levar desaforo pra casa. Enrico é assim. Determinado.

— Ás sete quero você pronta. - o olho intrigada. Não é possível que ele vai me levar. Pensei que, ao menos, eu poderia ir com as minhas próprias pernas.

Minha mãe é cirurgiã geral no New York Presbyterian Lower Manhattan Hospital e uma médica bastante conhecida no ramo da medicina. Como havia feito plantão no dia anterior, hoje ela ficaria em casa pra cuidar de Emma. Pela primeira vez odiei o fato de minha mãe ficar em casa e olha-la.
Sou a pessoa mais impaciente do mundo e ela sabe disso, mas hoje eu adoraria o fato de ficar fazendo atividades infantis só pra fugir da formalidade de um evento ridículo.
Palestras são intermináveis, infinitas, chatas e entediantes, preciso fazer disso uma diversão, afinal, hoje é sexta feira.

— Gwen bem que poderia ir comigo. - jogo a ideia no ar — Eu iria sem reclamar. - dou de ombros e escuto Julie bufar.

Jade, Jade, você e a Gwen juntas em um lugar como aquele... não não. - faço beicinho.

Depois de muita insistência, chantagens e ameaças, mamãe se rendeu. Pensei que Enrico relutaria como ela pra aceitar eu e Gwen em um evento tão importante mas foi, totalmente, o oposto; não precisei dizer nada para convencê-lo. Já minha amiga não gostou muito da ideia, inventou mil e uma desculpas, e eu, mil e duas soluções, mas, por fim, ela se deu por vencida. Ótimo. O dia não seria tão maçante como pensei que seria. Bom, isso se meu pai não ficar no nosso pé a noite inteira.
Se Enrico está tão empolgado com uma mera apresentação é porquê, de fato, é importante pra ele e pra companhia. Provavelmente, ele irá se ocupar durante o evento e não na cola da filha adolescente. Até que não vai ser tão ruim assim.

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