CAPITULO 29

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— Ele, basicamente disse que ficou com medo de voltar e causar mais danos a família. - suspiro pela vigésima vez. — Zach, como ele pode achar que voltando causaria um dano pra mulher e os filhos? - pergunto indignada. Ele está calmo, escorado na cama enquanto eu ando pelo quarto prestes a abrir um buraco no chão.

— É compreensível. - diz. Paro e o olho perplexa. — Não adianta me olhar assim. Pensa comigo - ele senta na beirada da cama e me sento na cadeira a sua frente para escuta-lo — como ele do nada aparece na porta de casa e fala "oi família, eu não morri?". Provavelmente ele tem um plano pra voltar, ele não pode simplesmente chegar, isso vai causar um baque muito grande neles. - permaneço com meu olhar intrigado e perplexo. — Como você reagiria a essa situação? - respiro fundo.

— Assim! - aponto para nós — Olha quem eu procurei pra falar sobre isso, meu psicólogo. - ele fecha os olhos e assente.

— Exatamente. Agora imagina a Gwen, a Srta. Rivera e seu filho. Seria muito pior. - levo minhas mãos até meu rosto. Perdida no turbilhão de informação e acontecimentos.

Meu coração quase, na verdade, parou, quando o Sr. Rivera disse quem ele era. Precisei me sentar e retomar o ar. É claro que ele já esperava tal reação. O que eu acho estranho é ele me conhecer, já que minha amizade com a Gwen só começou após seu "falecimento". Ele me levou até uma área privada do hotel e lá conversamos; depois de sofrer uma contusão cerebral com a queda do penhasco, o Sr. Rivera foi resgatado por uma mulher de uma vila próxima que cuidou de seus ferimentos e o salvou da morte. Sem se lembrar do que aconteceu, ele passou meses com essa mulher, foi um romance momentâneo já que ele alegava ter flashs da sua vida e do acidente. Como a mulher era médica local, não precisou de leva-lo ao hospital. Eu penso que ela não queria expô-lo, com medo da família o reconhecer e leva-lo para longe. Anos se passaram e o Sr. Rivera se curou. Ele, com frequência se lembrava das coisas e com isso conseguiu encontrar um de seus advogados e se "realocar". Logo, ele me explicou como soube de mim e minha conexão com Gwen; com detetives e investigadores, ele descobriu muita coisa, até mesmo sobre o prédio em que eu e ela frequentamos, ele disse que sempre tem um carinha de moto atrás de mim. Supus que fosse Carter. É medonho só de pensar. O que não entra na minha cabeça é o fato dele estar estudando tudo e todos e não se aproximar, nem tentar.

— Ele pediu pra eu não contar nada pois tudo estava ocorrendo como planejado - dou de ombros sem entender. — Mas eu não posso esconder isso dela. - minha voz assume um tom embargado devido o choro preso dentro de mim — Isso é demais pra mim. - não consigo segurar e desmorono. Ele corre até mim me puxando e se ajoelha me abraçando.

— Somos cúmplices agora. Não carregue esse peso sozinha. - murmura. Zach deposita vários beijos em minha cabeça. — Olha pra mim - pede, com os olhos vermelhos e embargados o olho. Seu olhar é esperançoso, em nenhum momento ele desfaz seu semblante firme afortunoso. Tento retribuir mas falho. — Que tal vermos um filme? Pedir algo pra comer, sei lá, vamos distrair essa cabecinha sua. - ele acaricia meu rosto limpando minhas lagrimas enquanto sorri.

O beijo, sem cogitar, apenas por vontade e instinto. Não é um beijo caloroso, de segundas intenções mas um beijo de agradecimento, sereno. Colamos nossas testas e sorrio. Não posso estar sentindo o que eu acho estar sentindo. Ainda mais agora.

— Obrigada. - sussurro e ele retribuiu com um sorriso doce e singelo.

7:00 p.m

Acordei num sobressalto, a TV está ligada passando mais um episodio de Gravity Falls, - sim, um desenho - noto o moreno com suas roupas despojadas dormindo todo torto ao meu lado. Ele nem se mexe. Dou pausa no desenho e me levanto, já está escuro, e o quarto está apenas iluminado pela TV. Mordisco um donuts que está na mesinha e vou até o banheiro, faço minhas necessidades, tiro minha roupa e entro pra tomar uma chuveirada. Meu corpo ainda está pesado devido os acontecimentos de hoje. Depois que conversei com o pai de Gwen, não consegui nem comer, liguei no mesmo segundo pra Zach que apareceu rapidamente e foi então que eu me recuperei. Previsível. Escuto um barulho e me assusto ao ver a silhueta de Zach refletida sobre o box. Apenas escuto o barulho da torneira sendo aberta e água sendo mexida. Ele permanece em silêncio, levanto-me na ponta dos pés para vê-lo e ele me assusta com um "buh".

— Maldito. - bato de leve contra o vidro. O box do banheiro é daqueles que é embaçado embaixo e transparente em cima, cobrindo apenas o corpo da pessoa.

— Termina ai, vamos dar uma voltinha no parque - murmura do outro lado. Desligo o chuveiro, abro uma fresta do box e pego a toalha me enrolando. Saio e o olho intrigada. Seu rosto está molhado, e sua feição cansada é visível. Seu cabelo está todo desgrenhado e rosto inchado.

— Tome um banho. Aqui deve ter umas roupas do Theo, pode vesti-las. - dou um tapinha em seu ombro e saio.

Entro no quarto e fecho as portas, já que a suite é dividida por "cômodos". Visto mais um moletom da minha coleção e fico deitada o esperando acabar. Não demora muito pra ele sair em meio a nuvem de fumaça devido a água quente do chuveiro, o acompanho, a cada passo, meu olho parece dar um zoom e notar cada gota escorrer de seu peitoral, barriga e chegar até a toalha branca enrolada em sua cintura. Ele vem caminhando em câmera lenta até mim, mexendo em seus fios molhados deixando mais gotas cair em seu corpo. Deus!

— Onde fica as roupas? - ele pergunta, apenas aponto pro guarda roupa, sem dizer nada pois meu cérebro não assimilou as informações. Pane no sistema.

—Meu Deus, Zach, vamos transar. - falo sem nenhum pudor. Ele se vira e gargalha. — Sério mesmo. - ele caminha até mim com as roupas em mão, se inclina se escorando no colchão. Seus fios molhados caem sobre seu rosto. Vou perder o controle.

— Vamos - diz, tão perto que pude sentir o cheiro do meu shampoo. Não, espera. Quê?

— Você usou o meu shampoo? - pergunto quebrando o clima. Ele abaixa a cabeça e ri alto.

— Você é louca, Cooper. - ele sai me deixando encabulada. Usar meu shampoo já é apelação. Ele volta rapidamente, devidamente vestido. Semicerro os olhos, chocada com o fato dele ter pego meu shampoo caríssimo. — Vamos? Ou você vai ficar se remoendo porque eu passei seu shampoo de marca?

— Cretino. - rosno.

Rimos e saímos do quarto. Assim que cruzamos o elevador pro hall de entrada damos de cara com o Sr. Rivera. Ele parece agitado. Ao notar minha presença o mesmo caminha até mim, sorrio forçadamente. O homem nota a presença de Zach e o analisa de cima a baixo. Isso não é bom, nada bom.

— Esse não é o cara que anda saindo com minha filha? - pergunta intrigado. Merda! O que ele faz aqui com você?

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