CAPITULO 36

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O final de semana passou como um flash. Esperei, todos os dias, a cada segundo que passava que Gwen me mandasse uma mensagem, qualquer sinal de vida mas nada. As únicas notificações que chegava no meu celular eram de Zach, twitter e instagram. Nada mais.
Recusei todas ligações e ignorei todas mensagens que Zach me enviara. Com aperto no coração mas, ao mesmo tempo, com uma sensação de consciência limpa. Não posso mais manter contato, não ser que seja o essencial, entre paciente e psicologo. Só mais dois meses, Jade.

Cheguei na clínica pela manhã com o pouco de força que ainda me restava. Passei por Felicia cabisbaixa e me direcionei ao elevador, indo para o andar do consultório do Dr. Montes.
A porta está aberta, então, sem cerimônias, eu entrei e logo tomei um susto quando os braços calorosos dele me laçou, me prendendo em um abraço repleto de saudade.
Tentei, pela última vez, absorver aquela sensação. O coração dele batendo contra seu peito, saltando junto ao meu em um ritmo perfeitamente sincronizado. Zach se desvencilhou do meu corpo e correu até a porta para fechá-la. Um sorriso largo surgiu em seu rosto assim que ele, por fim, parou e olhou para meu rosto, mas logo se desfez.
Ele me olhou intrigado, sem entender o motivo do meu desanimo e da minha não demonstração de afeto. Não disse nada, apenas me sentei na minha poltrona de habitual e esperei que ele fizesse o mesmo.

— Você está me preocupando. - seu tom é receoso.

— Não podemos mais - embarguei. Ele franze o cenho. — fomos longe demais, não da mais. - concluo. Ele parece não acreditar, pois sua feição permanece intacta.

Recosto no estofado, buscando o oxigênio que falta em meus pulmões. O sofá afundou ao meu lado. Não abaixei meu olhar, não me movi, permaneci respirando fundo. Buscando a paz.

— Não. - diz num suplício. Merda! Meu olho fica embargado, meu rosto queima anunciando uma enxurrada de lágrimas que está por vir. — O que aconteceu? Me fala, Jade. - implora. Prendo a respiração na intenção de não derramar em lágrimas.

— Mal consigo dormir com essa culpa. - soluço. — O Theo - pauso com a lembrança horrenda que me atormenta.

Meu corpo se estremece e Zach nota meu desconforto. Ele se aninha ao meu corpo, depositando sua mão sobre as minhas, elas estão quentes e sempre que sinto seu toque, é como se fora a primeira fez. É uma onda elétrica que me atinge em cheio, explodo como fogos de artifícios no revéillon, eu morreria com essa carga de eletricidade. Com isso, não consigo conter o líquido preso dentro de mim.

— O que ele te fez? - pergunta calmo.

Não consigo responder, meu cérebro parece parar de funcionar e acaba virando um amontoado de coisas, uma bagunça. Meu peito parece querer abrir, como se explodisse uma bomba nuclear dentro dele e não me restasse mais nada, nem mesmo ar para respirar.

— Jade, o que ele te fez? - ele refaz a pergunta, agora impaciente.

Seu tom de voz é como o daquele dia em que contei a ele o que Carter tinha me feito, feito ao meu braço. Perturbado, nervoso, posso sentir sua ira pelo seu toque, que se desconecta de meu corpo afastando-se. Ainda não consigo olhá-lo. Não quero demonstrar fraqueza, medo. Não quero me perder na imensidão de esperança do seu olhar, sei que se eu o olhasse agora, eu me perderia e me entregaria, pois é isso que ele transmite, calmaria, conforto.

— Ele contou a ela? - induz mas eu nego. Desesperada com o flashback que me assombra.

— Ele me obrigou a - desabo. Aflita. — transar com ele. - digo entre soluços.

Desmoronei sobre seu corpo, abafando minhas lágrimas, meu desespero. Apertei meus dedos sobre seu braço coberto pelo seu terno até eles ficarem pálidos. Falando em voz alta percebo o risco que corri, noto que me arrisquei exageradamente quando aceitei os termos que Theodore havia proposto. Ele poderia ter me abusado naquele quarto, me machucado, acabado com o resto de dignidade que ainda me restara, por vaidade, pra inflar, mais ainda, seu ego de pavão. Eu serei pra sempre sua refém se não acabasse com isso e provasse a ele que não me envolveria mais.
O corpo de Zach está rígido, quero olhá-lo mas nem se quer consigo me mover para isso. Estou com vergonha de mim mesma por ter me permitido ser usada de tal maneira. Suja, entorpecida, totalmente, desmoralizada por um desejo torpe.

O DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora