Uma vez, li que o mar é inconstante, cheio de mistérios. Soberano. O verdadeiro significado de liberdade, é o mar. Tudo em nossa vida tem limites, menos o mar, ele é tão vasto, infinito – como eu queria que minha liberdade fosse – sem limites.
O barulho do mar se anuncia quando chegamos em Hamptons, desço do carro e vou até a areia, com os pés descalços, sinto a areia fina tocar minha pele. Fecho os olhos e me permito sentir o cheiro da maresia, escutar o barulho das ondas rebeldes que se chocam na superfície, chegando até aos grãos brancos de areia, os inundando e trazendo uma nova cor a eles. As vezes eu me comparo com o mar, apenas pela inconstância. O vento sempre sopra mais forte no litoral, e eu juro, se abrirmos os braços, com os pés sentindo as ondas indo e vindo, e focar os olhos no horizonte, nos sentimos, como se estivéssemos voando.
Pedi ao meu pai que me liberasse dos meus compromissos, eu preciso de um tempo pra pensar, sem divagar. O ar de Nova York me impossibilita refletir, lá sinto minhas ideias confusas, e nada melhor do que me afastar de todo esse turbilhão caótico que me aterroriza todos os dias. Enrico nem se quer cogitou meu pedido, ele concordou logo de cara, ele, assim como eu, constou que eu precisava de paz. Eu irei ficar uma semana por aqui, Vince não teria jogos e se disponibilizou a vir comigo, talvez seja bom.
— Ta tudo bem? - seu toque em minhas costas me fazem abrir os olhos e voltar a realidade. Assinto e dou um breve sorriso.
Passamos duas horas e meia no carro até chegar em Hamptons. Meu pai comprou uma casa em Main Beach, costumávamos passar as ferias de verão aqui, antes de Julie ganhar Emma, ou seja, faz muito tempo que não vinha aqui.
A casa nem aparenta que estava "abandonada" a três anos, os móveis nem se quer estão empoeirados. Provavelmente, meu pai pediu para o caseiro dar uma ajeitada para minha chegada, as janelas até estavam abertas quando entrei, sinal que alguém esteve aqui. O local é bem tranquilo, bem como, a vizinhança. Vincent pegou nossas malas e as trouxe para dentro, lhe mostrei a casa e o mesmo ficou encantado com a graça do local. Aconchegante, assim eu definiria. Subi até a suíte de casal em que ficaríamos e vesti meu maio vermelho. Trouxe um livro que peguei na casa de Zach sem que ele visse, um que falava sobre o inconsciente, do Freud. Não, eu não estou gostando de psicologia e nem querendo me aprofundar nela, só estou curiosa. Aquele trecho que li no livro da faculdade de Zach me instigou, apenas. De frente a casa há umas espreguiçadeiras de madeira, fica bem de frente pro mar, a brisa bate forte contra meu rosto quando saio para fora. Me sento em uma das cadeiras e começo a folhear o livro.
— Você vai ficar ai lendo? - pergunta.
— Vou, estou de repouso. - o olho apontando para meu braço. Vince se abaixa até mim e me da um beijo. Antes de me aprofundar na leitura o vejo se distanciar pela areia.
O sinal aqui é bem fraco, o que eu acho ótimo já que eu queria ficar longe de todo o caos que minha cidade traz. Pelo menos aqui eu posso correr, gritar, estar off e ninguém vai me apontar o dedo por isso. Assim como o mar, eu quero ser livre, guardar meus mistérios e me "revoltar" com dias difíceis.
Eu fico pensando, como seria se tudo não tivesse acontecido, se tudo fosse real como eu pensei que fosse, eu e Carter estaríamos juntos ainda? Mesmo eu tendo contado pra ele o que eu tinha pra contar? Isso me perturba todas as noites, me tira o sono. Só de imaginar que tudo poderia ter sido diferente, mas ao mesmo tempo igual. A única certeza que eu tenho é que ele não mudaria seus hábitos por mim e nem por nada que eu dissesse. Steven é um viciado em drogas, cheio de problemas na vida, um abandonado. Eu poderia lhe prometer o mundo e não adiantaria. O normal das pessoas, é dizer que o amor nunca acaba mas isso é tudo que eu queria. Não que ainda haja amor dentro de mim, não mesmo, mas eu queria que tudo isso caísse no esquecimento total, que acabasse de vez. Problema é que eu carrego comigo um trauma irrevivescível, e disso, eu me culpo, e nada vai mudar.
•••
Meu corpo nu e suado desabou sobre o corpo de Vince, nossas respirações entrecortadas entregam nossa falta de folego depois de uma transa sob a luz do luar. Poucas pessoas frequentam essa parte da praia, ainda mais por ser uma parte privada. Ele sai de dentro de mim deixando um vazio. O ar está frio e o barulho do mar toma conta do ambiente. Permanecemos ali por alguns minutos escutando as ondas se chocarem com a terra.
— O Carter não quer olhar na minha cara mais. - ele diz e eu reviro os olhos, me levanto impaciente.
— Fala sério, Vincent. - bufo — A gente acaba de transar e você vem me falar de Carter?! Eu não dou a minima se você e seu melhor amigo estão de mal um do outro, se você ta achando ruim, pode ir embora. - caminhando até a casa sinto a mão de Vince me puxar pelo braço, o não fraturado.
— Ele é importante pra mim, entenda. - diz olhando fixo nos meus olhos. — Você também. - acrescenta.
— Não tem nada te impedindo de ir embora. - solto meu braço e entro na casa. — Palavras bonitas não me satisfazem mais a muito tempo.
Sem sinal de Vincent, imagino que ele tenha ido embora. Meu coração aperta por um momento mas acabo deixando pra lá, entro no banheiro, faço todas minhas higienes com dificuldade por conta do braço engessado e saio. Depois de colocar uma roupa confortável, desço pra procurar algo na cozinha pra comer. Ele não me deixaria aqui sozinha, sem ter como voltar pra casa pra ir atrás de um cara problemático feito Steven. Seria demais pra mim.
Noto uma pequena luz vinda da varanda, curiosa, eu vou vou até lá e fico encantada com o que vejo. Vince tinha preparado um piquenique de frente ao mar, o chão está forrado por um pano branco, a sua volta quatro lampiões – os que ficam pendurados pela casa – e no centro varias comidinhas. E eu aqui pensando atrocidades do garoto. Logo quando me vê estende a mão para que eu fosse até ele. Me sento ao seu lado, ainda encantada com tudo aquilo, absorvo cada momento.— Jade, você é muito importante pra mim. Acredite. - ele pega em minhas mãos. Sorrio sem graça com o gesto e suas palavras. — Você disse não se satisfazer com palavras, então espero que você se satisfaça com esse gesto.
Aliança não, aliança não.
Ele tira uma caixinha do bolso e a abre. Ufa! É um delicado colar, aparenta ser prata, com um pingente lindo de concha aberta e dentro dela uma pérola. Real. Fico sem reação, o brilho dos meus olhos dizem por si só. Ele sorri com minha reação. Eu e Carter nunca tivemos uma aliança que gritasse ao mundo que namorávamos, ele era bem seco em relação a formalidades. Nunca, nem mesmo o cobrei por isso. Acho que Vince se inspirou nesse fato e, a sua maneira quis me agradar. Ele volta a segurar em minhas mãos, olha fundo nos meus olhos e noto o nervosismo tomar conta de sua feição. Santo Deus.
— Jade Cooper - prendo a respiração — você quer namorar comigo?
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O Despertar
RomanceVocê já escutou aquela frase que diz: "Nem todo mundo é quem diz ser"? Pois bem, assim é Jade Cooper, uma jovem adulta que se diz tão forte, extrovertida, cercada de amigos e feliz consigo mesma, e que na verdade é tão frágil e traumatizada. Ela bu...