Assim que cheguei, Zach tratou da minha contusão colocando uma bolsa de gelo e fazendo compressões com faixa, tomei um anti-inflamatório e dormi feito um anjo.
Como era de se esperar, ele não fez nenhuma pergunta, só me acolheu. O loft de Zach não é nada luxuoso, não comparado aos que estou acostumada a frequentar. É pequeno, com poucos móveis e mesmo assim super aconchegante. As paredes são de tijolos expostos, trazendo todo um ar rústico ao ambiente. Um sofá grande cinza na sala, duas cadeiras estofadas num cinza mais escuro e uma mesinha simples de centro, dando um charme pro cômodo, não tive a oportunidade de conhecer a cozinha. Pra dar acesso ao ambiente de cima, há uma escada de metal preta e para peitos de vidro por todo contorno do segundo andar. O quarto de Zach fica bem ao canto e ao lado o banheiro, bom, são os únicos cômodos que eu tive mais afinidade até agora. Dormimos na mesma cama, insisti para que eu dormisse no sofá mas ele me xingou, eu estava com braço dolorido e devido esse fato ele disse que ficaria de olho em mim a noite toda, sempre que eu me mexia na cama, ele acordava e, sem que percebesse, eu o olhava voltar a dormir.— Vou leva-la você ao medico. - diz assim que acordo.
O encaro na esperança que ele diga que está brincando mas nada, Zach me deixa lá e desce. Me jogo novamente e gemo de dor ao meu braço se chocar com a cama. Fico encarando o teto, me fazendo mil perguntas referente a noite anterior. O jeito que Steven ficou ao ver meu pai é o maior ponto de interrogação em meu cérebro no momento, as demais dúvidas são pequenas e irrelevantes. Enrico nem insistiu tanto pra que eu ficasse em casa, parecia querer ficar sozinho, ou, posso estar ficando louca. Toda essa história, a cada dia que passa, me deixa mais confusa e atordoada.
— VOU TER QUE PEGAR VOCÊ NO COLO PRA VIM TOMAR CAFÉ? - Zach grita chamando minha atenção novamente a realidade. Me levanto e desço do jeito que estou. Com uma nova camisa dele.
Ficamos discutindo a todo tempo em que tomávamos café da manhã. Zach e sua teimosia e eu com minha relutância de ir ao hospital. Não há necessidade de ir ao lugar que vai me dizer o que eu ja sei. Sofri um pequeno impacto no braço e terei que ficar de molho por uns dias tomando alguns remédios. Pra que sair de casa pra escutar o óbvio? Posso muito bem cuidar de mim mesma sozinha. Só que meu argumento não surgiu efeito para ele, e quando vi, já estava sentada na garupa de sua moto a caminho do temível.
•••
— Foi apenas uma contusão, Srta Cooper. Recomendo que você fique de repouso total com esse braço, caso contrario, o quadro irá se agravar. Ai você terá que voltar aqui novamente. - a médica disse depois de enfaixar meu braço com gesso. O óbvio que eu me referia aí.
Zach me levou novamente até sua casa, a intenção era de que eu pegasse minhas coisas e voltasse para Upper East Side mas acebei pegando no sono devido os medicamentos e quando acordei já estava escuro. Beirava lá pras sete quando escutei a tv da sala ligada, me levantei e caminhei ate o para peito de vidro, ele estava lá, sentado no tapete centrado em seus livros e anotações em cima da mesinha de centro. Essas malditas anotações e papéis estão em todo lugar.
Desço na ponta dos pés e cuidadosamente me sento ao seu lado, olhando aquela amontoado de folha e livros. Suas mãos dançam sobre o papel, a caneta desliza com perfeição a cada palavra escrita. Me permito pegar um dos livros que estavam em cima da mesa e o folhe-o. Um trecho de um famoso neurologista me chama atenção:"Muito mais coisas devem acontecer em sua mente, do que aquelas que chegam à sua consciência. Vamos, deixe que lhe ensinem algo sobre esse problema! [...] Volte seus olhos para dentro, contemple suas própria profundezas, aprenda primeiro a conhecer-se! Então, compreenderá porque está destinado a ficar doente e, talvez, evite adoecer no futuro."
— Sigmund Freud - ele diz me tirando o foco. — Ele era um viciado em cocaína - arregalo meus olhos e ele ri. Até os grandes nomes da psicologia tinha seus pontos fracos com drogas.
— Por que a psicologia? - pergunto curiosa. Zach solta um longo e dramático suspiro antes de responder.
— Quero ajudar pessoas, basicamente, ajudar elas e seus conflitos internos. - diz, assinto.
Zach carrega traumas, assim como eu, e, aparentemente, ele não gosta de compartilha-los. Mas eu deveria. Pelo menos eu tentaria. Ele me encara após eu dar uma longa suspirada, buscando coragem.
— Fiquei a beira da morte - olho para cima evitando que as lágrimas escorressem dos meus olhos — Lembra daquele carinha? Aquele que você o nocauteou um tempo atrás - rio —, pois bem, ele é a razão por eu ser assim - desço meu olhar marejado e gesticulo para mim mesma —, cheia de problemas. - pressiono o topo do meu nariz, não conseguindo dizer mais nenhuma palavra.
Um choque térmico causado pelo meu corpo gélido e o calor dos braços de Zach me faz estremecer, ele me aperta forte, como se eu estivesse prestes a desmoronar e ele evitasse isso. Acho que seríamos bons amigos se ele não causasse um reboliço na minha cabeça e mexesse com meus sentimentos. Talvez pudéssemos ser. Apenas isso, amigos.
— Isso que te trouxe aqui? - pergunta ainda colado ao meu corpo trêmulo. Assinto. — Ele que fez isso com seu braço? - assinto novamente.
O corpo de Zach se enrijece com minha resposta. Ele se desfaz do meu corpo e se levanta, com os olhos meio embaçados pelas lágrimas eu os limpo e olho seu andar pra lá e pra cá, inquieto, como se estivesse incomodado. Talvez os traumas de Zach vão além do meu conhecimento. Seus movimentos repetitivos me deixa zonza, ele leva as mãos até a cabeça e puxa seus fios de leve. Me levanto correndo e o paro, seguro seus punhos o fazendo parar de se auto ferir. Zach parece não ver nada a sua frente, seu olhar é de ódio, como se quisesse matar alguém a qualquer momento, suas pupilas estão dilatas e a respiração ofegante. Toco seu rosto e é como se eu tivesse pausado o furacão katrina. Trago de volta o olhar sereno, e mesmo tendo o acalmado, sua respiração ainda é avida. Em um impulso, sem pensar, Zach me puxa pelo pescoço colando nossos lábios em um beijo ardente mas passional, como se fosse arrancar tudo de ruim que há em mim, e nele.
Por um instante eu me desfaço, me desprendo de todas minhas algemas e me entrego a ele. Nosso beijo é um encaixar perfeito de duas peças que juntas completam todo um quebra cabeça. Cada centímetro do meu corpo relaxou com seu toque, com sua língua dançando junto a minha, em um ritmo perfeito, como se fossemos feitos para aquilo. Nos fundir um ao outro. Nos separamos por falta de folego e com as testas coladas, o encaro por longos minutos, ofegante, ansiando por mais e mais, a todo momento, como uma droga.— Me fala que não foi só eu que senti isso. - sussurra, ainda olhando fixamente para os meus olhos.
Os fecho, ainda absorvendo tudo aquilo e me questionando, como isso é possível e o que foi isso. Abro meus olhos, levo minhas mãos até cada lado de seu pescoço, o olho fixamente, dou uma longa suspirada e me afasto, o deixando confuso e triste.
— Não dá. - digo por fim, caminho pelo loft, procurando minhas coisas, eu não poderia ficar mais ali. Não dá. Não dá.
Subo até o quarto, pego meu celular, minhas coisas e volto pro andar debaixo. Zach está sentado em uma das cadeiras estofadas da sala, com a cabeça entre as mãos.
— Obrigada por me ajudar, por ter me deixado ficar. - agradeço, ele nem se move. Meu peito aperta e lagrimas brotam nos meus olhos, novamente. — Não foi só você que sentiu. - sussurro antes de passar pela porta.
Ainda com o corpo inclinado para baixo, Zach levanta o olhar até mim, sua expressão é de angustia, assim como a minha. Puta que pariu. Eu não estou conseguindo processar o que acabou de acontecer. Processar cada informação, cada sentimento, as reações do meu corpo ao toque de Zach. Eu nunca havia sentindo isso antes, nem com Carter, o cara que eu pensei que fosse a minha "alma gêmea", eu achava que aquilo que vivíamos era algo avassalador, que, o que eu sentia era surreal, único, porem não se compara ao que eu estou sentindo, ao que eu senti a meia hora atrás. Eu não posso estar sentindo isso, não de novo, não por ele. Isso não existe. O amor é um mito, história de criança. Eu não posso estar apaixonada por ele.
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O Despertar
RomanceVocê já escutou aquela frase que diz: "Nem todo mundo é quem diz ser"? Pois bem, assim é Jade Cooper, uma jovem adulta que se diz tão forte, extrovertida, cercada de amigos e feliz consigo mesma, e que na verdade é tão frágil e traumatizada. Ela bu...