CAPITULO 28

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Recebo ligações frequentes da minha mãe, ela anda me informando sobre a busca dela e do meu pai. O acordo consiste em achar Steven e ajudá-lo se reerguer. Estou no aguardo. Palavras não enche barriga de ninguém, não sustenta nada até que se faça algo. No momento, eles pareciam bem arrependidos, acho que Julie se sensibilizou tanto com a vida que ele estava levando que fez a cabeça de Enrico, que, automaticamente, se sensibilizou também. Talvez ele tenha ficado assim mais pela esposa do que pelo real motivo.
O hotel em que eu estou é gigantesco, tem cinquenta e quatro andares e quinhentos e sessenta e quatro quartos. Moderno e cheio de charme, meu quarto tem TV a cabo, wi-fi de "graça", lençóis italianos e fica de frente pro Central Park. Sem contar o fato de ter cozinha e até sala de estar. Me sinto em um castelo, em que eu posso transitar nua e levar quem eu quiser pra lá. É, de fato, tudo o que eu estava precisando. Ficar sozinha. Sem pai, mãe, Gwen, enfim, ninguém.

O final de semana passou voando, e, como o habitual de toda segunda, eu tenho consulta. Sabia que Enrico não estaria por lá. Ele contratou dois detetives pra procurar Steven e o informar de qualquer coisa, enquanto isso ele está em algum lugar do mundo trabalhando. Minha mãe foi obrigada a contratar uma babá para Emma, como ela é mega desconfiada com as coisas acabou pedindo a Cheryl para olha-la, em troca ela pagaria uma boa quantia. Ela amou a ideia já que futuramente ela lidaria com muitas criancinhas.
Pego o elevador e subo em direção ao 12º andar. Entro na sala e estranho por não ver Zach ali. Aproveitando o momento em que ele não está, resolvo fuçar suas coisas. Fecho a porta e vou até sua mesa sorrateiramente. Até que enfim eu vou descobrir do que se trata a maldita papelada que ele não larga.

— Nem pense nisso. - Pega no flagra. Levanto minha cabeça com o sorriso mais descarado do mundo. Merda. — Bom dia, como você está? - muda de assunto. Excelente. Ele ainda não sabe o que aconteceu, não tive coragem pra contar.

— Bem. O final de semana foi bem intenso. - solto um ar pesado dos meus pulmões.

— Quer falar sobre? - essa é a pergunta que me tira o sossego. — Vamos tentar. Você está presa a algo desde de semana retrasada. Eu notei. - me distraio com meus dedos, buscando coragem pra falar. — Quando quiser. - isso é uma das coisas que eu mais admiro nele.

Beleza que ele é um psicólogo, sua função não é pressionar seus pacientes ou coisa do tipo, só que ele é, exatamente assim em QUALQUER ocasião e circunstancia. Só um pouco invasivo quando quer mas me forçar a falar algo, jamais.

— Preciso beber. - digo — Sã não vou conseguir dizer. - dou de ombros. Isso é difícil pra caralho.

Em passos largos ele vem até mim e me segura pelos ombros, não de uma forma bruta a ponto de me machucar. O olho assustada. De duas uma, ou ele vai me beijar ou me da um sermão. Senhor! Que ele me beije. Uma bitoquinha só. Um choquinho. Um misero selinho. Não suportaria ser xingada, massacrada por pedir algo pro meu próprio bem. Sei que álcool é nocivo e não pode ser usado como desculpa pra fazer algo mas me solto assim, alcoolizada.

— Por que você faz isso com você? - reviro os olhos.
— Você é tão linda, forte. Sim, você é forte, até demais. Pra que buscar amparo nessas coisas que acabam com você. Jade, você não precisa se entregar, você consegue lutar contra seus demônios. Me deixa te ajudar, deixe eu te libertar desse mal que te prende, que te impede de viver. Quando digo viver, é viver mesmo, ir a lugares sem ter que se entupir de substancias para que se sacie daquilo que você realmente busca, a liberdade, um despertar de todo esse pesadelo. - meu coração está a mil depois de tudo isso, minha boca se abre e fecha na tentativa falha de dizer algo. Eu não esperava escutar tudo isso. Não mesmo. Foi como um choque de realidade. Estou paralisada. Zach me puxa pra um abraço mas não consigo retribuir de tão estática. — Não quero perder você. - sinto meu rosto queimar e lágrimas jorrarem pra fora dos meus olhos. Meus braços que antes estavam atados se prender em seu corpo, como se fossem se entrelaçar e dar um nó.

— Atrapalho? - um pigarrear juntamente com uma voz desconhecida faz com que eu me afrouxe do corpo de Zach.

Antes dele se virar pra pessoa em questão, cuidadosamente, em um gesto afetuoso deposita um beijo em minha testa sussurrando "vá para casa", sorrio com aquilo e obedeço.
Não sei de onde ele tirou que vai me perder, sei que faço coisas impensáveis, as vezes, mas não faço a ponto de acabar com a minha vida, não mais. Sinto que esse medo dele de me perder se da ao fato dele ter sofrido algum trauma na infância, ou, algum trauma recente. Isso me fragilizou.

•••

Mensagem de Zach Montes (2)
bom dia
como vc está?

Acordo e resolvo ir a academia do hotel pela primeira vez. Eu e Gwen frequentávamos uma academia que ficava a duas quadras da nossa casa mas desistimos, não tínhamos pique pra exercício físico, tirando o sexo. Depois de meia hora correndo na esteira, paro pra tomar água e descansar um pouco. Me sento em um canto e fico observando os caras ricos, sarados e suados com seus aparelhos de ginástica. Meu olhar congela em um moço um tanto quanto familiar que está a me encarar, talvez por horas. Ele nem se quer pisca. Tento buscar na memória imagens que me façam lembrar quem é, talvez eu o conheça. Mas nada, não lembro. Deve ser um dos amigo do meu pai, sei lá. O homem não tira os olhos de mim. Deve ser algum tarado. Me assusto com o toque do celular. É a Gwen.

Ligação on:

Eu: Gweeenn!!
Gwen: Boas noticias! Minha mãe não tem previsão de ir embora.
Eu: Que ótimo! Como ela está?
Gwen: Avoada, preocupada. Normal. Mas só de te-la pertinho de mim já ta de bom tamanho.
Eu: Com toda certeza.
Gwen: Escutei ela dizer que está a procura de um cara. Será que ela ta atrás de algum pretendente?
Eu: Imagina, hilário
Gwen: Só queria ouvir sua bela voz. Espero que esteja bem. Passe aqui qualquer dia, já to sentindo sua falta.
Eu: Não estou em outro pais. Exagerada. Estou bem, obrigada.
Gwen: Ufa! Agora vou desligar, combinei de levar minha mãe pra conhecer o Zach. Ela parece estar empolgada
Eu: Que legal! Vai lá, beijos. Te amo.
Gwen: Te amo, se cuida!

Ligação off:

— Com licença - uma mão masculina toca meu ombro me fazendo virar rapidamente. É aquele homem esquisitamente familiar. Forço um sorriso. — Você é Jade Cooper? - pergunta. O olho intrigada.

— Depende. Quem é o senhor? - pergunto desconfiada. Pra uma pessoa vir, do nada, perguntar meu nome, é, no mínimo suspeito.

— Sou alguém querendo retomar a vida. - diz. O olho sem entender nada. — Escutei você falar com uma garota ao telefone, Gwen?! - me afasto aos poucos. Cara louco, escutando minha conversa.

— O senhor é um louco, maníaco. Deveria saber que é deselegante escurar conversas dos outros.

— Você não ta entendendo. - ele me pega pelo braço. — Sou Theodore Rivera II, o pai de Gwen.

O DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora