CAPITULO 9

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— O que você fez, Enrico? - pergunto assustada. Parece que ele nem percebeu o que disse, o problema foi eu ter escutado seu murmúrio. Meu pai está estático, sua respiração parece estar entrecortada. — Eu te fiz uma pergunta! - digo num tom mais alto.

— Nada, Jade! - diz sem me olhar — Antes se eu tivesse feito mesmo, aquele garoto foi, e é um erro pra você, devia estar preso por aliciação de menor, ou morto.- as palavras saem duras de sua boca. Sei que já disse isso muitas vezes mas não igual, carregado de ódio. 

Assim como mamãe, Enrico ficou muito abalado com toda situação. Ele carregou a família nas costas durante anos, e, ainda teve que conciliar com o trabalho, a mudança de prédio, tudo. Admiro a forma que ele se transformou em mil pra cuidar de nós, principalmente de Julie e tinha acabado de dar a luz e acabou tento uma depressão pós parto por minha causa. Eu me culpava por tudo de ruim que acontecia ao meu redor, fosse pelas noites má dormida dos meus pais, o choro histérico de Emma e até se o dia não fizesse sol, parecia tudo ser minha culpa, um castigo. 

— Isso me assusta também, pai. Só que não vai acontecer de novo, eu tenho vocês, eu tenho a Gwen e agora, um psicólogo.  - tento alivia-lo —  Vou superar tudo isso a ponto de não me assustar mais, Vou fazer da presença dele indiferente.  - pego em sua mão e sorrio fraco, papai leva minha mão até os lábios e deposita um beijo nos nós dos meus dedos.

Assim que piso na sala do Zach me deparo com seu sorriso largo e branco. Todos nesse lugar estão sempre felizes ou há algo de errado na água que eles bebem. Já não basta eu ter que aguentar os picos de felicidade da recepcionista que está sempre de bem com a vida. Pensei que chegaria e o encontraria zangado ou mexendo na porcaria da papelada. Meu pai deve pagar muito bem pra deixar seus funcionários felizes assim, acho que nem minha mesada é tão boa quanto. Olha que consigo viver bem dela. 

— Bom, por mais que você tenha nocauteado meu problema aquele dia, não ameniza o fato de você ser um estranho que cuida da minha vida mais que meu próprio pai.  - digo me atirando no sofá, ele ri baixo. Pego meu celular e me distraio com as mensagens e tweets

O sinto se aproximar só pelo seu perfume masculino amadeirado e o barulho de seus sapatos estupidamente lustrados. Bloqueio o celular e o jogo de canto, voltando minha atenção a ele. 

— Só me preocupo com você, Jade. É meu dever como profissional. - hm. Acho invasivo. — Isso é anormal pra você? 

Em questão de segundos parece que a sala se reduziu em um cubículo de mínimos metros quadrados, os carros da rua silenciaram, eu podia ouvir apenas meu coração acelerado e alto como um tambor. Por milésimos de segundos eu quis beija-lo, pois, naquele momento, parecia que todos os meus problemas e feridas iam ser solucionados e curados. Ninguém nunca foi tão direto comigo. Meus pais são meus pais, normal se preocuparem e Gwen é minha amiga, ela torna tudo mais leve. Ter alguém, um completo estranho se preocupando comigo é inusitado, bom até. O ar frio de Nova York se aqueceu, com minha respiração ofegante. Que diabos está acontecendo?! Com um bater na porta tudo voltou ao normal, a sala se ampliou, o barulho da rua era alto, o ar umidificou e meu coração reduziu suas batidas, desacelerando todo meu sistema. Será que eu estava tendo uma crise de pânico? O que rolou? 

— Entre. - pediu. 

Seu olhar se desviou dos meus e logo se levantou arrumando seu terno o abotoando. Sim, hoje ele está com o maldito terno. Me delicio com a cena mas rapidamente me vejo cometendo um erro, desculpe Gwen. Desculpa ética da psicologia, foi um deslize. Mas que merda! Quantas horas? Não faz nem meia hora que estou nessa merda de lugar e já quero sair correndo. 

O DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora