Olha só pra você, sozinha nessa rua escura e fria. Envergonhada e amedrontada. Com os olhos marejados, inchados de tanto chorar, a cabeça dói, parecem estar fazendo uma obra dentro dela, ela martela repetidas vezes. Mas que merda, Jade! O que aconteceu? Por que você disse aquilo? Por que gritou igual uma louca e saiu correndo? Onde você ta agora?
Pensei que isso tudo tinha passado, bom, era pra ter passado. Já não basta eu ter medo de tomar banho, agora vem essa, medo de ser tocada, como vou viver com isso?! Eu nem fui atingida por balas em meio aquele tiroteio mas tudo que aconteceu, a morte de Steven, seu corpo quente sobre o meu, seu sangue gotejando em meu rosto e todo sequestro foram como se vários tiros tivessem me atingindo em cheio e hoje eu estivesse em um estado eterno de recuperação, cheia de cicatrizes que jamais sumiram. Estou arruinada por toda eternidade.
Passei meus braços pela jaqueta gigante jeans que Sebastian me entregara no momento em que eu surtei e sai caminhando, ele ainda tentou me seguir mas fiz um escândalo, provoquei um alvoroço e todos que estavam na rua, pessoas de elite, entre outras pessoas que caminhavam por ali pararam e ficaram a observar a cena. Algumas lembranças são como borrões em minha mente mas me recordo com dificuldade que alguns seguranças do nightclub o seguraram, sei la, eles devem ter achado que eu estava sendo assediada ou coisa do tipo, foi então que eu comecei a correr para longe, longe demais.
Eu bem que poderia pegar meu celular e pedir um uber, mandar uma mensagem, mas onde eu o deixei? Estou, definitivamente, literalmente e claramente perdida. Não faço ideia de quantas horas são mas, vendo pelo o horizonte, tenho uma noção do tempo e sei que está cedo, pois já vejo o alvorecer. Minhas pernas doem, meus músculos latejam como se eu acabara de correr um dia inteiro na esteira da academia. Olhei rapidamente para meus pés e em seguida para frente e notei um playground a uns vinte passos de onde estou, multipliquei os mesmos por dois por estar muito cansada. Bleecker Playground, é o que a placa diz, bom, não estou mais perdida, só não sei voltar pra casa. Me sentei em um das gangorras e relaxei minhas pernas.
O dia começou a clarear por completo, uma brisa gélida avançou sobre a cidade, as outras gangorras vazias se balançaram e as folhagens voaram com o vento. Abracei-me junto a jaqueta ridiculamente grande e senti o perfume do cara que eu havia envergonhado na frente de toda elite nova iorquina. Tirei meu tênis e o deixei de canto, pisei na areia grossa e, provavelmente, suja, deixando meus pés relaxarem.
É muito contraditório pra uma pessoa que tem medo de ser tocada dizer que quer um abraço, um colo, estar com alguém por um misero momento se quer? Todas as minhas células, cada pedacinho do meu corpo tem a plena certeza de que tudo seria mais fácil se uma pessoa em especifico estivesse aqui; com seu corpo quente, preparado para que, a qualquer momento, fosse envolver alguém, me envolver, me embrulhar como um cobertor fofinho, me protegendo do mundo, como aquela crença idiota e infantil de que os cobertores nos protege dos monstros que há debaixo da cama. Quando a gente cresce, a gente percebe que, na verdade, o "cobertor" são as pessoas que nos querem bem, são seus abraços nos protegendo dos "monstros" que é o mundo e tudo de ruim que ele carrega. Só quero sentir o calor novamente, a segurança de não ter que precisar de algo imaginário para me proteger.— Com licença, mocinha. - uma moça de avental parou na minha frente. Levantei meu olhar para ela e forcei um sorriso. — Ta tudo bem? - assenti.
— Só parei para descansar. - bufei. — Não tem problema eu me sentar aqui, né? - perguntei cautelosa.
— Não não. Não é por isso que vim até aqui. - meus ombros caíram em alivio. — Você é Jade Cooper, certo? - sua pergunta me intrigou. Meus olhos se arregalaram e eu a olhei com as sobrancelhas franzidas.
— Quem quer saber? - perguntei receosa. Que não seja mais um sequestro. Que não seja mais um sequestro. Mentalizei.
— Calma. Não vou te fazer mal. - soltou meia gargalhada. Continuei a encara-la, séria. — As pessoas estão te procurando. Você está em todas as manchetes. Você ta bem? - cada palavra que saia de sua boca me causavam um arrepio estranho.
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O Despertar
RomanceVocê já escutou aquela frase que diz: "Nem todo mundo é quem diz ser"? Pois bem, assim é Jade Cooper, uma jovem adulta que se diz tão forte, extrovertida, cercada de amigos e feliz consigo mesma, e que na verdade é tão frágil e traumatizada. Ela bu...