A pergunta ecoa em minha cabeça me impedindo de dormir. Do que adianta eu sair de um lugar buscando paz e me deparar com o oposto. Culpa minha, eu sei, ainda tenho muita mágoa e ressentimento devido a minha primeira e única experiência com o amor. Não queria ser assim mas essa é a realidade, a minha realidade.
Vince é uma pessoa tão boa, um coração tão puro, pena ser tão passional. Não tem nem um mês que estamos saindo e ele me vem com essa. Eu não quero magoá-lo, tirando que ele me pareceu bem chateado quando o questionei sobre o pedido não ser precipitado demais. Vince até tentou disfarçar sua insatisfação, disse que também achava muito cedo mas como eu havia "cobrado" uma postura dele, o mesmo não viu outra alternativa a não ser essa. Nem foi de coração, foi por pura pressão.
Não teve mais clima todo aquele piquenique. Logo depois que eu recusei o pedido, inventou uma desculpa de que precisava ligar para a mãe e saiu em busca de sinal. Até agora não voltou, e já são três da manhã.
Saio para fora da casa, enrolada em uma coberta na intenção de procurá-lo, ou, pelo menos, achar um sinal melhor pra enviar uma mensagem. Caminho até um hostel próximo ao litoral e meu celular vibra, indicando que encontrei sinal.Mensagem de Gwen (5)
onde vc ta?
vc n atende minhas ligações
passei na sua casa e vc n estava
como assim vc foi pra hamptons?????
pq n me levou???Mensagem de Número Desconhecido (2)
me perdoe por aquilo
n estava preparado pra ver vc com meu melhor amigoMensagem de Julie Mãe (3)
passe o tempo que for ai
mamãe te ama, filha.
se cuida, ligue quando puder.MENSAGEM
(VINCE)onde vc ta? »
« estou chegando,
precisava pensar
desculpa.Não respondo, volto para casa. O vento sopra forte contra meu rosto me fazendo tremer de frio, o dia ainda não clareou, óbvio, não são nem quatro da manhã. Ao me aproximar da casa, noto que o carro de Vince está parado ao lado. Entro e o vejo parado na sala, como uma planta, sem se mover. Talvez seu pedido tenha sido de coração, sinto que o magoei e me sinto péssima por isso. Fico imóvel, como ele, o encarando. Uma brisa forte entra por entre a porta aberta atingindo minha espinha, ele parece notar e vem correndo até mim para me esquentar.
— Desculpa ter sumido. Achei que estava fazendo o certo. - sussurra, eu o abraço forte.
Se não fosse pelo tempo e pela circunstância em que eu me encontro – ser uma covarde – eu teria aceitado o pedido de bom grado. Agora, além de suas palavras ecoando em minha mente, seu semblante triste irá me atormentar por um bom tempo. Que merda, Jade. Amaldiçoo Steven por ter acabado com a minha vida. Subimos até o quarto, Vince se deita na cama junto comigo e eu ficamos longos minutos nos encarando. A lua está mais brilhante do que nunca, nem há estrelas no céu, só ela.
— A gente não precisa ter nada serio pra provar que queremos ficar juntos - sussurro. Tentando amenizar as coisas — Isso daqui - gesticulo para mim e ele — pra mim basta, a gente se da super bem. Pra que querer apressar. - ele desliza sua mão em meu rosto, a acariciando. Vince se aproxima e me da um selinho, nos abraçamos e, por fim, dormimos.
•••
Optamos por almoçar no restaurante que fica a dez minutos de casa. Pedi um grande prato de frutos do mar e Vince, como uma criança, pediu batata frita e um belo filé ao molho barbecue. Pulamos o café da manhã, já que acabamos dormindo tarde. Fiquei viajando no barulho mar se chocando contra a areia e Vicent contando sobre o fracasso da vida em Boston.
A família Reed nunca foi de classe alta e por isso eles foram tentar a vida em outra cidade. Vincent quando pequeno sofria bullying por não se encaixar nos "padrões" da escola, do seu grupo de amigos. Seus pais eram donos de uma pequena floricultura, o que eles ganhavam davam pra toda família viver bem, em um lugar bom mas não era o suficiente para eles, para o pai dele, na verdade. O Sr. Reed sempre foi um cara muito ambicioso, só que tal ambição não levou ele muito longe. Vincent, no ensino médio se tornou capitão do time de hockey e a partir de então ele vem conquistando suas coisas, como o apartamento incrível e super bem localizado em Manhattam. Ele, também, ajudou a família a expandir o negócio e os ajuda quando pode fazendo entrega de flores, por isso a bicicleta quando nos encontramos. Um verdadeiro anjo na vida de todos.Nos programamos pra que, depois do almoço nós iríamos caminhar na praia, entrar no mar e fazer algumas atividades – surf, vôlei, slackline, etc – que os quiosques fornecem aqui em Main Beach.
Os dias correram como o planejado. Minha mente está muito mais leve, meus ombros não pesam mais como antes, longos banhos de mar me limparam por completo.
Eu e Vince estávamos praticando surf — tentando – quando Gwen chegou. Como estávamos fora, não a vimos chegar, só notamos quando voltamos pra casa. Ela estava deitada na beira da piscina, que fica nos fundos da casa, ela e Cheryl. Me surpreendeu vê-la lá. Fiquei bem feliz quando as vi, por mais que eu queria esquecer todo ar de ny, tê-las por perto me fazia sentir acolhida.Já não bastava ter ficado debaixo de um sol escaldante e no mar, me atirei na piscina pra fazer companhia a elas. Ficamos bebendo e conversando por horas, até, finalmente, anoitecer. Minha melhor amiga veio equipada com o que há de melhor; depois que Cheryl saiu junto com Vince pra comprar nosso jantar, eu e Gwen fomos até o deck pra fumar e beber nossa ultima garrafa de cerveja.
— Zach perguntou de você - ela deu uma tragada e logo soltou — ele ta todo estranho. - passou o cigarro pra mim.
— Ele é todo estranho. - falei, indiferente.
Eu não queria prolongar o assunto, eu já sabia que Zach perguntaria por mim, de praxe. Por mais que eu queira muito questiona-la sobre seu real sentimento por ele acabei deixando pra lá, sei que isso geraria muito pano pra manga e eu não estou afim de ficar discutindo sobre. Talvez nem ela mesma saiba o que está sentindo, ou não sinta nada e está apenas se divertindo com um brinquedinho novo. Não dou dois meses pra ela estar descartando-o. Contei a ela sobre o pedido inusitado de Vincent, ela ficou pasma e ao mesmo tempo encantada. De acordo com ela no meu lugar teria aceitado.
Desde que eu e Gwen nos conhecemos, pelo o que eu saiba, ela já teve vários relacionamentos, uns sete em dois anos, mas ela nunca consegue manter. A mesma diz que os homens, com quem ela se relacionou, nunca dava o que ela queria. Talvez eles transavam mal. Não da pra entender o que se passa na cabeça dela.Assim que Vince e Cheryl voltou da cidade, jantamos e ficamos sentados na areia vendo as estrelas, sem nenhum arranha-céu pra tampa-las. Dá pra ver perfeitamente. Vincent deitou sobre minhas pernas e por um longo instante ficou a me encarar, fingi não perceber mas sentia seus olhos sobre mim. Instantes depois as meninas saíram pra caminhar, alegando estarem de vela. Pensei que ele estava arrumando um jeito de tocar no maldito assunto do pedido de namoro novamente pois ele não tirava os olhos de mim. Não suportaria se ele ficasse remoendo isso. De uma ora pra outra Vincent se levantou, tirou a areia de sua roupa e alegou ter que voltar pra casa já que teria um jogo no sábado. Senti uma pontada de mentira em suas palavras, já que ele havia me dito que o treinador deu férias pro time decorrente as vitorias nos últimos jogos.
— Vou sair amanhã, logo cedo. - arqueio as sobrancelhas, intrigada. Não iria dizer nada pois não estou em posição de cobrar honestidade de ninguém.
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O Despertar
RomanceVocê já escutou aquela frase que diz: "Nem todo mundo é quem diz ser"? Pois bem, assim é Jade Cooper, uma jovem adulta que se diz tão forte, extrovertida, cercada de amigos e feliz consigo mesma, e que na verdade é tão frágil e traumatizada. Ela bu...