CAPITULO 17

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Por mais que eu tenha ficado apavorada com a ideia de ser entregue ao meu pai, sei que isso iria contra a ética do manual de psicólogos. Um psicólogo não pode falar sobre o que é conversado nas consultas com terceiros, não precisa ser um gênio pra saber o mínimo. Sigo o encarando, esperando um esboçar, uma risada escarnia mas nada acontece. Não é possível que ele ta falando sério.

— Você sabe que quebra de sigilo entre paciente e psicólogo é antiético né?! - protesto. — Se bem que você não liga muito pra ética. - murmuro. Levo meus óculos ao rosto, cansei de piscar.

— A ética não se aplica quando minha paciente está tentando algo contra a própria vida. - revida. Merda! — Mas já que você não consegue ser honesta comigo, não terei outra escolha. - ameaça. Não vou cair nesse joguinho ridículo.

Sei que Zach não fará nada, ele está blefando. Uma pessoa quando quer fazer algo ela não avisa, ela pega e faz. Sei como é pois sou assim. Ainda mais em casos assim, quando ele começar atender outras pessoas, suicidas, terroristas ou sei lá o que, um aviso, ou melhor dizendo, uma ameaça não irá gerar bons frutos. Imagina ele ameaça um terrorista de contar tudo a polícia, em dois tempos ele é dado como morto. Não tem dessa. Me ajuda aí.

— É só isso? - indago. Ele suspira, impaciente. Você sabe que perdeu, Zach.

— Vem, vou te levar pra casa. - retiro meus óculos para encara-lo olho no olho. Só pode ta de brincadeira.

Me levanto pra beber mais água pois depois de todo esse show senti minha garganta fechar. Tudo gira no momento em que me levanto. Nunca mais misturo. Todos os barulhos da cidade parecem virar uma batida de música, meu corpo, automaticamente começa a se mexer no ritmo das batidas que meu cérebro inventa. Meus pés e pernas inquietas me fazem caminhar pela sala ignorando a presença de Zach ali. Repentinamente sinto meu corpo flutuar e algo forte me pegar pelas pernas, vejo o chão ficar distante dos meus olhos. Que maldita droga eu usei que está me fazendo alucinar?! Pareço estar voando.

Mal consigo raciocinar para onde estamos indo, sinto meu estômago dar piruetas e minha cabeça rodar a cada passo. Sinto novamente a terra firme, meus pés bambeiam quando piso no chão e sinto as mãos fortes de Zach me segurar pelo braço, rio com o ato. Nota mental: nunca mais misturar as drogas por diversão. Falarei isso com Gwen. Espera aí.

— Onde está Gwen? - olho para todos os lados numa tentativa tola de encontrá-la.

— Felícia a colocou num táxi. Uma ora dessas já deve estar em casa. — Agora venha. Consegue subir? - assinto. Retardei de uma hora pra outra.

Ele pega na minha mão e, com dificuldade, vejo sua moto. Lá vamos nós. Sento na garupa e me ajusto em seu corpo forte, sarado, gostoso...ai tão gostoso, meu Deus me permita usufruir desse homem antes que eu morra...olha esse tórax, esse peitoral, certeza que é grande...O rugir da moto me desperta de meus devaneios profanos. Santo Deus, ignora essa pobre alma e me dê muita sabedoria para lidar com a outra personalidade. Ela não sou eu.
Sinto a forte brisa cessar e Zach se deslocar de sua moto. Sinto-o tirar meu capacete e me pegar no colo novamente como um saco de batata. Ai merda! vou vomitar!
Escuto barulho de chaves e uma porta sendo aberta e fechada logo em seguida. Que habilidade. Passos e mais passos, minha visão fica mais embaçada e meu estômago revira a cada centímetro andado. Vou morrer. Meu corpo se choca com algo macio, dou um gemidinho e sorrio em aprovação. Não me importo onde estou, seja minha casa, cama de hospital, só preciso dormir um pouquinho e ta tudo certo.
Fecho os olhos e consigo sonhar por curtos cinco minutos até ser acordada pelos braços nus de Zach me carregando novamente.

O DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora