Quase normais

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O estrondo dos muros movendo-se me despertou do sono no dia seguinte. Assim que me sentei e olhei para frente, vi Minho entrando no Labirinto com o Novato. Levantei e segui para os chuveiros, forçando-me a não olhar para trás.

(...)

— Ei, acalme-se... Acalme-se... — eu dizia para Peter sentado no chão, que puxava a própria blusa desesperadamente. Ele balançava a cabeça para os lados, os olhos arregalados, sibilando com extrema dificuldade um "não consigo". — Consegue, consegue, sim. Apenas fique calmo e o ar vai entrar. Confie em mim, ele vai entrar. Concentre-se na sua respiração, devagar...

Comecei a inspirar e expirar lenta e teatralmente, tendo os olhos dele vidrados em mim. O garoto fechou os olhos e me imitou, sua mão ainda agarrando a camisa na altura do peito com força, seu abdômen contraindo-se com soluços. Eles ficaram audíveis, até rarearem e pararem completamente. Seu peito foi subindo e descendo devagar de acordo com a normalidade da respiração. Sorri de canto e ele abriu os olhos.

— Aí. — Jeff chegou ao meu lado correndo e batendo no meu ombro. — Carl está todo empipocado lá na Sede, melhor dar uma olhada.

— Tudo bem? — perguntei ao garoto sentado. Ele tinha seus olhos ainda arregalados, provavelmente com medo que não pudesse respirar outra vez. Mesmo assim, assentiu com a cabeça. — Bom isso. — sorri de novo e dei palmadinhas em sua perna antes de me levantar e sair às pressas com Jeff.

Havia um aglomerado de garotos ao nosso redor, pois ficaram alarmados com a crise de Peter no meio das plantações. Quando passei por Newt, ele colocou a mão no meu ombro para que eu parasse.

— Vai dormir como um maldito anjo hoje, não vai? — disse sorrindo, o rosto franzido contra o sol.

— É, acho que sim. — respondi risonha.

Desde o início do dia precisei agir como Socorrista e Helmy teve que lidar sozinho com quem precisava de ajuda nos outros trabalhos. Parecia ter havido um surto de mal estar da noite para o dia na Clareira. Não tomei café da manhã porque Max estava reclamando de dores no tornozelo; depois um garoto teve o pulso cravado por uma estaca quando tropeçou com ela na mão (o tratamento custou toda a hora do almoço); depois eu, Jeff e Clint precisamos correr por toda a Clareira procurando ingredientes para um chá que brotara na minha mente quando um garoto começou a sofrer de vertigem. Ficamos desesperados, pois ele começou com uma forte tontura, depois vômitos, disse que não estava ouvindo direito e então desmaiou. Fomos da Cozinha para os Jardins e até ao Campo-Santo à procura do necessário. Nossa dificuldade ficou tão evidente que Newt e mais outro Clareano resolveram ajudar. Agora um rapaz novo, um pouco mais velho que Chuck, começara a sofrer por falta de ar. Ficava impressionada que nós Socorristas não sofrêssemos por falta de ar, com aquela movimentação toda.

Jeff e eu subimos as escadas da Sede em direção ao quarto do adoecido. Assim que cheguei à porta e coloquei os olhos nele, estiquei os braços para os batentes da porta para me impedir de continuar.

— Uou, uou! — exclamei e senti Jeff parar bem perto de mim.

— Que foi? — ele perguntou.

Empurrei-o para trás e continuei a contemplar o garoto de longe. Seu rosto e seus braços estavam cheios de erupções vermelhas. Sua camisa estava molhada de suor, seu corpo tremia e seus olhos estavam inflamados. Soube de longe que estava com febre, mas não tive ideia de qual era o real problema dele.

— É contagioso. — foi a primeira coisa que me veio à cabeça ao pôr os olhos nele. Além disso, a cor vermelha era alarmante na minha visão, preenchendo o local.

— O quê? Como sabe?

— Você ainda me faz essa pergunta? Tem mais de uma doença que deixam as pessoas assim. Não chegou perto dele, chegou?

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