"Alguns Cranks não gostam de gatos"

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 Quatro paredes brancas, como em boa parte da minha vida, cercavam-me com luzes claras, quase me impedindo de enxergar qualquer coisa. Apesar disso, podia sentir que havia muito espaço acima de mim, como se não houvesse teto. Minhas mãos estavam atadas a uma cadeira, tão firmes que eu mal as sentia.

 Com dificuldade, pude discernir um quadro translúcido preso na parede à minha frente, por cima da única porta do local. Era estranho, mas não questionei, especialmente se tinha a ver com o CRUEL.

 O Homem-Rato apareceu, vestindo um jaleco por cima das antigas roupas, virado para o quadro e escrevendo fervorosamente nele.

  — Eis o que você vai fazer. – ele disse. Largou a caneta que usava e se virou para mim, e de repente deu um tapa no vidro que fez, literalmente, as paredes tremerem. — Vai colocar a mão de Mike de volta! Vai fazer Tagarela uivar! Vai pegar todos os Cranks de Denver e reuni-los na Cozinha, para alimentá-los com gatos mortos e sopa!

 Sem tirar os olhos de mim, ele se aproximou, devagar.

  — Falhe na missão e todos serão mortos por parada cardíaca. E você será puxada Penhasco abaixo por aquele Verdugo. – avisou por fim, e o surgimento de outra figura perto da porta me distraiu. O Homem-Rato desapareceu, e minha mãe caminhava até mim, vestindo uma camisa social rasgada e suja, com calças folgadas e um estetoscópio pendurado no pescoço, o que não caía nada bem com as vestes.

 Ela parou na minha frente, encarando-me, inexpressiva.

  — Está só começando... não é? – perguntei, sem tirar os olhos dela, como se isso a impedisse de mentir.

 Minha mãe respirou fundo, seu olhar agora exatamente o mesmo dos Criadores enquanto me estudavam, até que ela baixou os ombros e sorriu ligeiramente.

  — Não precisa ser tão difícil quanto parece. – ela disse. Um brilho incomum tomava seus olhos. — Alguns Cranks não gostam de gatos.

 Abri os olhos ao ouvir passos soarem ao meu lado, mas não pensei em mais nada além do sonho, querendo guardar cada pedaço dele para mim. Assim que consegui decorá-lo, virei a cabeça e encontrei Thomas e Minho sentados numa cama ao lado, os olhos perdidos e a postura deixando claro que tinham tido uma conversa tensa. Olhando para Minho, lembrei de como havíamos deixado Newt naquele lugar. E então me lembrei do dispositivo.

 Apalpei meus bolsos com energia, as palmas das mãos já suando, com medo de que o tivesse perdido ao desmaiar na porta de carga, até que Thomas ergueu o aparelho para mim.

  — Acha que deu certo? – ele perguntou.

  — É claro que não. No meio daquela confusão, o guarda não ia ser dar o trabalho de chegar perto de Newt. – Minho disse com desprezo, olhando apenas para o piso.

 Eu sabia que era um pensamento realista, mas peguei o dispositivo, desejando acreditar, pelo menos por enquanto, que tinha dado certo e poderíamos encontra-lo depois. Minha prioridade agora precisava ser outra.

 Sentei na beirada da cama, sentindo meus machucados nas costas gritarem.

  — A cura... Como quer fazer isso? – Minho perguntou, levando algum tempo para me encarar. — Não entendi uma palavra do que escreveu naquelas folhas.

  — O mais importante que preciso conseguir é uma amostra do DNA de alguém infectado. Não precisa ser de alguém nos últimos estágios, mas é mais útil se o vírus estiver forte.

  — Newt. – Thomas sugeriu.

  — Era no que eu estava pensando antes de sermos rudemente mandados embora de lá. Agora quero aproveitar que preciso de mais algumas coisas e pegar essa amostra pelo caminho. E saber o que houve com Mike também...

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