Mais que cumplicidade

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— Tragam um pano maior e gelo, agora! – ordenei aos gritos assim que descansaram Mike na cama, e eles partiram sem sequer erguer a cabeça.

Mike continuava inconsciente, mas pelo menos respirava. Eu virava nervosamente o tempo todo para a porta esperando que os garotos voltassem logo, todos os panos completamente encharcados de sangue, assim como minhas mãos. O cheiro de plástico queimado quase me sufocava.

Trouxeram o que parecia um lençol enrolado várias vezes em gelo e água e tirei algumas camadas do que já cobria o ferimento antes de coloca-lo. Pressionei os panos e respirei fundo, observando Mike com meus olhos ardendo.

— Diga que ainda temos analgésicos. – murmurei a quem quer que estivesse ali.

— Vou buscar. – Newt respondeu e o ouvi sair do quarto.

Sentei-me na beirada da cama sem conseguir desviar os olhos lacrimosos de Mike. Ele havia perdido a memória, a família, a vida toda... E como se não bastasse, precisaria continuar com menos uma parte do corpo. Sem contar o que da personalidade dele provavelmente iria embora. Eu já esperava qualquer coisa dos próximos dias. Não duvidava de mais nada que aquela vida poderia fazer a nós.


Os relógios começaram a marcar seus da manhã. Os Verdugos haviam levado alguém com mais precisão do que a noite anterior. Eu não fazia ideia do que acontecia do lado de fora daquele quarto, estava frustrada demais para me importar. Mike continuava desacordado, enquanto o sangue coagulava.

Horas mais tarde, a porta do quarto foi aberta, mas continuei sentada na cadeira, olhando para frente com a indignação me impedindo de ter alguma reação. Newt se aproximou do meu lado e pude ouvir outros passos o acompanhando.

— Alby está desacordado, com um corte na cabeça. – ele disse. Acompanhei com indiferença a linha amarela que fez um desenho no ar. – Winston o encontrou dentro da Casa dos Mapas depois que trouxemos Mike para cá.

Assenti com a cabeça em resposta, sem saber o que dizer que não ofenderia alguém. Mike moveu a cabeça para o lado e remexeu as pernas e me empertiguei instantaneamente, mas ele logo ficou imóvel outra vez, o peito subindo e descendo pela respiração calma. Uma parte de mim desejava que ele continuasse assim e não precisasse lidar com a perda ao acordar. Voltei a me encostar ao espaldar e o som de passos retornou. A porta se fechou e alguém passou por trás de mim, sentando-se no chão ao meu lado, encostado no criado-mudo.

— Ele vai ficar bem. – Thomas afirmou. – Você conseguiu, outra vez.

— Queria poder fazer mais.

— Não pode tomar conta de tudo o tempo todo.

— É um ótimo conselho! – retruquei enfurecida, encarando-o com o olhar duro. Thomas desviou o olhar, passando a língua pela bochecha, e encolhi-me contra a cadeira. — Desculpe.

— Conversei com Teresa depois que saí do Labirinto. Tivemos algumas ideias que podem nos ajudar a sair daqui, mas Newt contou o que aconteceu à noite antes que eu pudesse dizer.

— É, se tem a ver com os Mapas, já era. – comentei distraída com o nada. — E quem sabe se aquela nova cabeça pensante vale de alguma coisa.

— Ela me contou que vocês conversaram. E expliquei a ela o que aconteceu nos últimos meses, acho que agora as coisas vão ficar mais calmas entre vocês.

— Sei que confia nela por causa dessa sua ligação telepática e da paixãozinha que está crescendo aí dentro. – falei com o tom brando, completamente insípida ao encara-lo. — Mas tenho mais razões para não gostar dela do que para gostar.

— Você confiou em nós.

— Nenhum de vocês ficou parado enquanto eu era espancada.

Thomas suspirou e torceu as mãos nelas mesmas, olhando para o outro lado. Eu não queria parecer tão implicante assim, mas não suportaria ser enganada depois de tudo que já aconteceu, principalmente se a minha teoria sobre o incêndio da Casa dos Mapas estivesse certa.

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