Delírios sistematizados

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Eu odiava admitir, mas a resistência física de Herman era a mesma que a minha, e depois de toda a pressão psicológica com o Conclave e ter sido tão agredido, não foi surpresa ele ter cansado de me perseguir pela Clareira. Contudo, isso passou longe de me tranquilizar.

Não soube exatamente quando ele tinha cansado, eu passara tempo demais correndo sem olhar para trás. Mas entrei na Casa dos Mapas e me escondi no buraco na parede onde o Verdugo ficara escondido, sabendo que ninguém apareceria por ali até anoitecer novamente. O local fedia ao ponto de me deixar tonta e o cheiro de cobre da sala do lado de fora não ajudava. Além disso, minutos após me fechar ali com a estante na frente, vomitei tudo o que eu tinha comido, e foi mais um cheiro insuportável para me acompanhar noite adentro, sem contar o que eu já sentia, de gás de cozinha.

Recolhi-me para um canto e senti ter sentado sobre o que deveria ser a gosma do Verdugo. Encostei minha cabeça na parede e tampei o nariz para não fazer barulho com os soluços do choro. Eu respirava pela boca, o que me fez perceber que eu nunca engoliria melhor todo o inferno que estava sendo ficar na Clareira. O momento formidável com Newt parecia ter acontecido há meses. De repente eu estava sozinha, fugindo, num lugar deplorável, agindo por impulso e medo, sem a menor vontade de encarar o que havia do lado de fora. Não me importava o quanto era necessário, parecia ser o mesmo que me jogar numa cama de pregos de propósito.

Com o rosto banhado em lágrimas, meu peito doendo com o esforço para não fazer nenhum barulho, acabei adormecendo.

O quarto da Sede estava banhado por uma iluminação incômoda com o início da noite do lado de fora. Eu queria desesperadamente acender a luz.

Meu corpo suava e meus batimentos cardíacos me ensurdeciam. Não conseguia manter as pernas quietas com a tremedeira delas, nem queria. Queria correr para o mais longe possível. Alguma coisa ruim aconteceria. Alguma coisa extremamente ruim. A cor verde musgo correndo ao meu redor, dando a volta pelos meus braços e pescoço o tempo todo, enfatizavam meu mau pressentimento. Por que eu estava ali? Eu precisava sair dali.

O quarto começou a girar, mas aquilo não era possível. Não podia ser real, por mais que parecesse. Algo estava errado. Encarei meu reflexo no espelho na parede e nenhuma imagem me perturbaria tanto. Meus olhos estavam fundos e com marcas escuras ao redor, e eu estava pálida como a morte. "Acalme-se, pare com isso", pensei. Mas a forte sensação de um distúrbio na minha mente não passava. Por que não passava? Comecei a me sentir sufocada e tentei puxar o ar, mas ele parecia ter sumido completamente. Soquei a parede, na tentativa de fazer alguém ouvir e vir me ajudar. Acertei minha cabeça contra o vidro do espelho. Depois mais uma vez, e mais uma. Não aguentava me ver daquele jeito. "Apenas pare e respire", meus pensamentos eram como sussurros indiscerníveis. "Eu estou no controle, só precisa parar". Mas como fazia para parar?

O sentimento crescia cada vez mais. Eu não estava segura, alguma coisa ia me pegar e me levar, fazer algo realmente ruim. Eu queria me mexer, mas não conseguia.

— Acalme-se. – ouvi a voz de Herman dizer atrás de mim. — Acalme-se. Acalme-se.

Eu fechei os olhos com a raiva que tentava dominar. Minha respiração se tornou pesada. "Por que ele está pedindo isso? Ele é a causa.". O perigo estava ali, atrás de mim, palpável, e eu continuava sem conseguir me mover, apenas sentindo meu corpo inteiro tremer.

"Beba água". Como sempre, o instinto de Socorrista me dizendo o que fazer. Eu nem sabia como estava conseguindo pensar com um ataque de pânico daquele. Um copo com água estava na minha mão, e ela tremia tanto que todo o conteúdo expelia-se para fora. Que inútil... Movi minha mão bruscamente e o larguei, mas não o ouvi quebrar. Eu só queria ouvi-lo quebrar...

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