"Só me dê um maldito minuto"...

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Calculava já ser madrugada e ninguém dos tais Pagãos voltou àquela sala para falar sobre o acordo. Tanto Newt quanto eu estávamos aflitos com isso e olhávamos para a porta instintivamente quando ela fazia algum barulho, mas então descobríamos que era só alguém se batendo contra ela. Irritava-me que logo uma coisa daquelas estivesse nos atrasando para cumprir a meta dada pelo Cara-de-Rato e encontrar os outros.

Newt estava sentado no mesmo lugar, as pernas dobradas para cima e as mãos cruzadas sobre os joelhos. Fazia horas que não saía dessa posição. Eu me olhava no espelho estragado sobre a pia, analisando a tatuagem feita pelos Criadores no meu pescoço. "Reparadora... Era bem mais útil na Clareira", pensei.

A porta rangeu ao abrir-se novamente e eu me virei para ver. Um dos brutamontes de antes olhou para mim e Newt, e apontou o lado de fora com a cabeça.

— Por que... Por que eles? — a Mulher de Sutiã indagou, a voz fraca, um resquício do susto que levara quando a menina fora machucada.

— Cale a boca, meu irmão vai precisar de você mais tarde. — o homem disse e ela encolheu-se mais contra a parede, chorando silenciosamente. Eu odiava pensar naquelas crianças ali.

Eu estava perto da porta, prestes a seguir o Pagão, quando percebi que Newt havia parado em frente a Joe.

— Boa sorte, seus trolhos. — ele disse com um tom de graça escondido bem no fundo da garganta.

Newt continuou encarando-o, mas tive certeza que não via Joe, apenas os próprios pensamentos. Meu coração se apertou e se desfez em pó vendo-o tão triste.

Sem dizer nada, ele se virou e passou por mim para sair. Olhei para Joe uma última vez, meu pesar mais que impresso no meu rosto.

— Cuide dele. — Joe sussurrou com um aceno de cabeça.

Contendo lágrimas e um nó na garganta, dei-lhe as costas e fechei a porta atrás de mim. O brutamonte nos guiou subindo as escadas e entrando no curto corredor ao lado, que virava para a direita e seguia por alguns metros até uma porta no fim. Passei meu braço pelas costas de Newt e o abracei de lado enquanto andávamos, torcendo seriamente que o parto tivesse sido o suficiente para comover aquelas pessoas.

Seguimos o homem pela última porta e entramos numa sala pequena, as paredes revestidas com homens e mulheres armados, Herman entre eles, e, no centro, uma mesa de madeira com duas cadeiras desocupadas.

— Sentem. — o Cicatriz mandou, em pé atrás da mesa.

Não me agradava nem um pouco sentar perante eles e ficar de costas para alguns. Mas, vendo Newt obedecer logo, ainda cabisbaixo, poupei uma discussão sobre isso e fiz o mesmo. Ninguém disse nada por longos segundos. Eles apenas nos encaravam enquanto os encarávamos de volta.

— Então, o que têm a dizer? — o Cicatriz indagou.

Muitas coisas passavam pela minha cabeça, mas eu não sabia dizer quais soavam menos ofensivas. Felizmente, Newt se pronunciou antes que eu o fizesse.

— O parto correu bem. Só viemos aqui para fugir dos Cranks, não queríamos arranjar problema.

— Bom, você precisa concordar comigo que forasteiros chegando de surpresa num lugar que batalhamos tanto para conquistar soam um pouco ameaçadores. — disse o Cicatriz com um sorriso que deveria ser amigável.

— Mas não somos. Não estamos interessados em nada do que vocês têm.

— E no que estão interessados?

— Ir embora. Só isso.

— Mas aí é fácil demais. Como um líder, não posso desperdiçar dois jovens tão sadios do meu grupo. E ouvi dizer que são muito prestativos.

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