O sol a despontar

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 O caminho até o aeroporto foi bem mais longo e complicado do que eu imaginara. Parecia haver ainda mais guardas do que pessoas nas ruas e foi sorte não ter precisado enfrentar nenhum deles, já que sempre escapava por um triz de ser vista. Não que me faltasse modéstia, mas tinha a impressão de que estavam ali mais por mim do que pelos outros Clareanos que fugiram; Gally não mencionara guardas que estivessem atrás dos meninos, mas cercaram-me na loja logo que cheguei. Eu questionava para mim mesma se realmente ia contra a vontade do CRUEL que todos nós escapássemos e víssemos o mundo real, com o risco dos não Imunes serem infectados e estarem mais ferrados que de costume. Afinal, sempre pareceu que os mais importantes para o Experimento eram os Imunes. Pensar nisso apenas me deixava com mais raiva e mais ansiosa para encontrar Newt, especialmente porque a ideia conhecida como "Chuck" começava a soar mais atrevida que nunca.

 Cheguei ao aeroporto e verifiquei no papel o número do Berg que pertencia a Thomas. Fiquei surpresa por não encontrar algum grupo gigantesco de guardas apenas esperando pelo retorno deles, mas não podia reclamar. Olhei para a porta de carga, depois dei a volta pela nave, aproveitando para verificar se não havia mais ninguém pelas redondezas. Com um suspiro, comecei a bater no casco do Berg.

  — Newt?! – bati em pontos em que o barulho era mais oco, mas alguma coisa já tentava me fazer desistir. — Newt, está aí?!

 Eu continuava batendo, incansavelmente, mal sentindo a dor que provocava. Aquilo me fazia pensar na minha persistência em ressuscitá-lo na Clareira. Aquilo tinha valido a pena.

 Minhas duas mãos agora faziam o trabalho involuntariamente e a vontade de fechar os punhos começava a me consumir.

 Apoiei-me na nave para engolir o nó na minha garganta e fechei os olhos, tentando me acalmar. Bati mais algumas vezes, até com os dedos, como se eu realmente acreditasse que o problema era não estar sendo ouvida.

  — Newt! – berrei com ainda mais vontade.

 Fui até uma das salas de manutenção do aeroporto e levei um pé de cabra até o vão da porta da nave, usando toda a minha força para tentar abri-la. O Berg criou vida com um barulho alto e ela começou a abaixar, mas não era possível que fosse pelo pé de cabra. Larguei o instrumento de qualquer jeito e entrei na nave assim que pude. O primeiro corredor estava vazio e com uma das lâmpadas quebradas.

  — Newt?

 Olhei para o corredor até a cabine do piloto e a encontrei vazia. Fui pelo outro lado, vendo a sala comum escura, mas além da próxima porta havia um quarto com as luzes acesas. Corri para lá imediatamente e estaquei na porta ao vê-lo de pé ao lado de um beliche. Newt. Ele suava muito e tinha o olhar cansado. Sua postura era de alguém que havia vivido uma noite no Labirinto por uma semana. Era de alguém doente.

  — Newt...

 Cruzei o espaço entre nós mais rápido do que pude acompanhar e o puxei para o abraço mais forte que já lhe dera. Entrelacei meus dedos em seu cabelo e seus braços levaram mais algum tempo até me cercarem. O coração dele batia descontrolado contra o meu peito. Podia sentir seu corpo todo tremer, como se o Fulgor procurasse qualquer brecha para sair e berrar.

  — Está aqui... – ele sussurrou, e como eu havia sentido falta da voz dele...

  — Você está vivo... Meu Deus... Está vivo...

 Lágrimas desciam pelas minhas bochechas como uma cachoeira e de repente a última coisa que quis fazer na vida foi soltá-lo. Queria que prendê-lo comigo impedisse todo o horror do mundo de atingi-lo; eu desejava mais que tudo que isso fosse o suficiente para ele ficar bem.

 Puxei-o para uma das camas de baixo, apenas para sentarmos e eu abraça-lo de novo. Já tinha prometido tantas vezes nunca mais ser afastada dele... E se acontecesse de novo, sabia que não o encontraria em tão boas condições.

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