Tudo pelo manquitola

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As pessoas por aquela cidade pareciam viver de modo aparentemente normal. Um trio de mulheres passou por nós conversando e carregando comida. Tinham as feições cansadas, mas saudáveis. Observaram-nos por longos segundos até sumirem numa esquina.

O hospital era a construção mais bem conservada, limpo até do lado de fora, com portas de vidro polidas e janelas blindadas. Da rua era possível ver pessoas armadas no telhado, como se protegessem o lugar. A recepção estava quieta e ocupada apenas por uma mulher rechonchuda atrás da bancada, concentrada em papéis ao redor de si. Naquele momento desejei que Mallory estivesse ali para falar; às vezes o medo de ficar no controle das coisas me assaltava. Mike e Kenan haviam insistido para que ela permanecesse no Berg e assim o Fulgor não fosse estimulado a agir muito rápido em seu organismo. Ela ficara apenas pelo pedido deles, eu sabia, e eu reconhecera em seus olhos o desejo de ter mais tempo com os filhos.

Discretamente, todos nós guardamos as armas e nos aproximamos da recepcionista. Gally pigarreou para chamar sua atenção. Sua roupa possuía um crachá no peito com o nome de Willow e, se não estivesse onde estava, pareceria apenas uma civil comum que achava necessário carregar uma identificação.

Ela olhou para cada um de nós como se procurasse uma doença.

— Sim?

— Tem algum chefe por aqui com quem possamos falar? – Gally perguntou, olhando ao redor brevemente antes de encará-la.

— Do que precisam?

— Um Inibidor. Uma máquina grande, costuma ser usada para... congelar cérebros, ou coisa assim. – ele tirou o desenho que guardara no bolso e mostrou a ela.

— Fazemos só atendimento básico aqui. E todos os Cranks foram removidos, por isso... – tirou um aparelho de trás do balcão e o ergueu. – vou precisar fazer a verificação.

Agora agradecia por Mallory ter ficado no Berg.

O aparelho me lembrava o do portão de Denver. Willow espetava nosso dedo com um alfinete e o sangue era colocado numa plaquinha com sensor azul.

— Podemos dar uma olhada no hospital? – perguntei, enquanto Sonya acabava de cobrir a ponta do dedo com o algodão dado pela mulher.

— Podem, mas é perda de tempo. Levaram essa máquina daqui. Está com nossos amigos mais receptíveis.

— Onde?

— Trezentos metros à frente. Há uma antiga fábrica de queijo, deve ter alguém por lá. A cidade é pequena, somos pouco mais de cento e sessenta habitantes ao todo, então é melhor pensarem bem antes de tentarem alguma coisa. Os vigias gostam de dar tiros em forasteiros que ficarem reunidos ou parados na rua por mais de dois minutos.

— Só estamos aqui pela máquina. – Harriet afirmou. Se eu estivesse no lugar da recepcionista, ouvindo-a dizer aquilo com tal seriedade, nunca acreditaria.

— Que bom.

Willow voltou ao seu assento, como se seu trabalho se resumisse em verificar Imunes todo os dias.

Saímos do hospital e seguimos pela rua. Pude ver os vigias no telhado atentos a nós, segurando armas grandes parecidas com Lança-Granadas. Do modo mais discreto que pude, deixei minha faca por dentro da manga do casaco, com o cabo na mão. Certamente aquela segurança toda era pelos Cranks, e eu não imaginava que utilidade o Inibidor teria fora de um hospital, mas já tinha visto o suficiente sobre que tipo de pessoas habitava o mundo agora.

Encontramos a fábrica, mas, assim que pude observar bem, parei de andar. Todos os outros fizeram o mesmo, certamente com a mesma dúvida que eu. Ela era ao contrário? De frente para a rua, uma parede lisa se erguia, com apenas uma pequena janela quadrada um pouco alta demais. Olhei para o que normalmente seria os fundos e vi algo parecido com uma varanda.

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