Para a minha surpresa, quando o tal David nos conduziu pelo Berg para que comêssemos, tomássemos banho, tivéssemos cuidados médicos e roupas dignas, a primeira coisa que fiz foi chorar. Meus olhos marejaram no instante em que olhei para a muda de roupa nos meus braços. Tinha um cheiro floral estonteante. Percebi que, por um longo tempo, ainda que inconscientemente, eu tinha pensado que nunca mais teria aquilo.
— Ei... Qual o problema? – Thomas perguntou baixinho, aproximando-se de mim ao notar meu estado.
Eu balancei a cabeça e os ombros, sem saber pôr em palavras. Também não queria que mais alguém percebesse; dei graças que os funcionários do CRUEL ali estivessem ocupados com os outros. Olhei para Thomas e quase não o enxerguei direito pela visão embaçada.
— Eu sei. – ele disse com uma mão firme no meu ombro. Seus olhos se encravaram nos meus com tanta precisão que pude senti-lo lendo minha alma. Quis abraça-lo, mas não queria me mover.
— Sou humana, Thomas. Estou cansada. Mas o que vai acontecer quando eu acordar?
— Talvez esteja ferrada. – ele meneou a cabeça. — Se estiver, também vamos estar. Mas vamos dar um jeito nesse pessoal de uma vez por todas...
— Sempre dizemos isso. Dissemos no Labirinto, lembra? Depois perdemos mais da metade de nós.
— A diferença é que agora estamos vendo a cara deles. Vamos dormir sob o mesmo teto e não tem nenhuma parede invisível nos impedindo de chegar perto. Vamos resolver tudo isso, Nelly, eu juro. – ele apertou meus braços com as duas mãos, seu olhar mais alarmante. — Mas falharemos se tentarmos algo sem dormir antes.
Baixei meu olhar para o chão e respirei fundo, engolindo o nó na garganta.
— Prometa para mim que estará no mesmo lugar quando eu acordar, seu trolho. – falei com a voz embargada.
— Tem muito espaço. – Thomas olhou ao redor, o que me deu a impressão de que não queria me ver chorar.
O aposento era extenso, repleto de móveis diversificados com revestimentos coloridos. Aquele pessoal não perdia o cinismo.
— Tentamos dormir aqui, assim percebemos caso venham capturar um de nós. – ele concluiu.
Comprimi os lábios para não fazer uma careta. Era um plano tão idiota. Em circunstâncias normais, deveria funcionar. Mas era o CRUEL. Eu sabia que não ia.
— Certo. – concordei. Thomas não era estúpido, estava falando aquilo só para tentar me acalmar. E se eu não fingisse que acreditava no que dizia, ia surtar de vez. Eu estava mais que perto disso.
Seus lábios se repuxaram para o lado num sorriso forçado e ele apontou para a minha perna machucada.
— Precisa de ajuda? – indagou.
— Íamos perguntar o mesmo. – uma garota do Grupo B se aproximou, acompanhada de outra. Thomas fez um aceno desajeitado então e seguiu os outros para o banho. Corri os olhos pelo salão à procura de Newt, mas ele já devia ter entrado também, por isso passei meus braços pelos ombros das meninas para ir para o banheiro.
Assim que nos dispersamos para entrar nos boxes, cacei Brenda com o olhar. Logicamente eu não conversaria com Teresa sobre nada. E quando vi que a Crank não estava ali, dei falta de Mike. Ainda que ela fosse uma garota, era mais fácil falar com ele do que com ela. Após a confusão no Berg para Thomas escolher entre ela e Jorge, não prestei mais atenção em muita coisa. E se Brenda não estava conosco, com quem estava?
Agradeci às garotas e me sentei no banco comprido perto da parede, e fechei os olhos para afastar todas as teorias que invadiam minha mente. Caso começasse a pensar nisso agora, teria uma crise de ansiedade no meio da noite. Respirei fundo na tentativa de esvaziar minha mente, até sentir alguém sentar ao meu lado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Socorristas | Maze Runner ✔️
FanfictionEra difícil manter a confiança e o otimismo no dia a dia enquanto os Criadores massacravam o psicológico de cada Clareano. É claro que quando a única menina, com uma condição neurológica que a permite sentir o gosto de uma quinta feira e ver cores n...