Abordada pelos problemas

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Meu humor com certeza tinha melhorado depois da noite na fogueira, mesmo que eu tivesse acordado cansada no dia seguinte. Nos dias que se seguiram, ninguém além de Carl precisou dos Socorristas. Ele melhorava muito gradativamente, mas já surpreendia que uma doença como aquela, fosse qual fosse, pudesse ser curada com os poucos suprimentos que tínhamos. Eu havia feito a tentativa de pedir aos Criadores que mandassem remédios para os sintomas dele, mas em vão. Não desaminei, estivera certa de que não funcionaria.

Newt estava passando mais tempo como Socorrista, seguindo o estado de Carl com muita atenção e minuciosidade, ocupando o lugar de algum de nós quando podia. Duas vezes após ele ter saído da Sede, vi-o indo imediatamente falar com Alby; assim eu soube de quem tinha sido a ideia que ele ficasse mais próximo, só não tive certeza se o objetivo era observar Carl ou a mim, ou os dois.

O Novato não tinha desistido de tentar falar comigo. Eu tentava manter os olhos fechados para o quão incômodo era aquilo, pois pelo menos mais ninguém além de Mike parecia perceber as olhadas que ele me lançava. Eu o mandava sair da frente sempre que tentava falar comigo; dizia que estava ocupada ou com pressa, ou que não tinha tempo para "Fedelhos insignificantes". Ao menos ele aceitava de boca calada, e isso só me lembrava do quão desprezível e fraco ele era.

Psicologicamente, pelo menos.

Caçarola tinha me mandado ir até o Sangradouro para pegar a caixa com o porco abatido por Winston. Mesmo tendo aceitado o fato de que eu precisaria voltar ao Sangradouro quando necessário, chegar perto dos animais mortos ainda não era uma tarefa agradável. Pulei a cerca da entrada e procurei pela caixa onde ele tinha dito que estaria, mas não a encontrei. Adiando o momento em que precisaria entrar na pequena e grotesca casa, dei a volta nela, passando pela porta dos fundos fechada. Prestes a voltar à entrada, antes de cruzar a quina, alguém agarrou meu braço com uma força descomunal e me puxou de volta, para longe das vistas dos Clareanos que trabalhavam por perto. Girei meu corpo com a mão aberta e erguida, e por muito pouco não desferi um tapa ao ver quem era.

— Nunca mais... Nunca mais me agarre desse jeito, Fedelho. — falei com o dedo apontado para o Novato, distraída com os batimentos fortes do meu coração. — Não devia estar perto dos muros quando forem abertos? — indaguei cinicamente, sem a menor vontade de ouvir uma resposta.

— Eu estou. — respondeu e apontou para a entrada do muro às suas costas. Sua voz não me lembrava cor nenhuma, apenas um gosto extremamente azedo. Senti uma bolha de raiva pela petulância dele estourar dentro de mim. Por menos gentil que eu tivesse sido, a última coisa que ele possuía era direito de tratar alguém mal. — E acho que está na hora de você me ouvir.

Revirei os olhos em descrença.

— É hora de trabalhar, não faça corpo mole. — retorqui e dei-lhe as costas para sair. Senti seu braço passar rapidamente pela dobra do meu, cruzar minhas costas e segurar o outro com força, enquanto sua outra mão tampava minha boca. Tentei me debater, mas ele colou meu corpo ao seu. Fiquei totalmente presa e não pude deixar de me frustrar com a força física que ele possuía. Até aquele momento tinha se mostrado o mais patético da Clareira.

Comecei a ser arrastada na direção da porta dos fundos, ainda balançando a cabeça para os lados para me livrar de sua mão. Assim que percebi que ele me empurrava para eu entrar primeiro, avancei rapidamente. Ele fechou a porta e forcei-o contra ela, batendo minha cabeça contra seu nariz. O Novato grunhiu e mordi sua mão, acotovelando-o desajeitadamente para me livrar de vez.

Afastei-me dele quase correndo e voltei-me para encará-lo. Ele não poderia ter voltado a ser patético mais rápido, gemendo com as mãos sobre o nariz.

— Por que fez isso?! — exclamou. — Não vou machucar você!

— Não foi o que pareceu. — retruquei rouca.

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