Sob os panos

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Newt não tinha a menor intenção de entregar Nelly aos outros para que a banissem, mesmo que tivesse ficado extremamente confuso com o Conclave. Ele compreendia perfeitamente os motivos dela para ter matado a própria mãe e não se importar com o que acontecesse a Herman, mas, por outro lado, havia dois anos que estava vivendo à base de confiança e altruísmo, e o desejo intenso dela de vê-lo morto o assustava.

Mas o beijo... A intensidade no olhar dela e a energia de que emanaram transformaram-na subitamente em alguém inofensivo, que estava apenas com o mesmo medo que ele e todos os outros. Ele sentia um frio na barriga toda vez que se lembrava dos toques e não se considerava apto para julgar com os outros sobre o que fariam. Além disso, seguir a ordem e as regras de sempre parecia um absurdo agora.

Newt voltou à Clareira encontrando Thomas e todos os Encarregados reunidos em frente à Sede numa conversa tensa. Os outros Clareanos estavam espalhados, a maioria já dormindo ou conversando muito baixo sobre o ocorrido.

— Encontrou? – Alby indagou assim que o viu.

— Está escuro, é inútil procurarmos agora. – respondeu.

— Diga que ao menos tentou, mértila.

— É, ela pareceu esperar alguma coisa de você lá dentro. – Winston acrescentou.

— Se querem perder a noite procurando, vão em frente. Ela não tem para onde ir, a menos que entre no Labirinto de manhã e seja encontrada por algum dos Corredores. – Newt replicou.

Thomas umedeceu os lábios e remexeu-se sobre os pés. Ele tinha quase certeza de que ela era muito capaz de fazer isso.

— Vou montar um grupo de busca aqui dentro para amanhã de manhã... – Alby começou e se virou para os outros para lhes dizer o que fazer.

— Não, sem grupo de busca. – Newt descartou. — Ela pode fazer alguma coisa e piorar tudo ainda mais.

— Achei que tivesse me pedido para reconsiderar a decisão. Afinal, você acredita ou não nela?

Newt suspirou enquanto devolvia o olhar do amigo.

— Vamos nos reunir amanhã, só nós, como sempre, e ver o que fazemos. Menos você, Tommy. Foi uma péssima ideia ter envolvido todos nisso.

— Você acha? – Alby indagou em desafio. Ele sabia que o apoio de Newt em suas decisões estava minguando, pois tiveram sua opinião sobre reunir todos os Clareanos e mesmo assim ignoraram. — Até amanhã, trolhos. – disse asperamente ainda fitando Newt e saiu com os ombros aprumados.

Os Encarregados começaram a se dispersar, mas Newt, Minho, Thomas e Gally pareceram ler a mente um do outro, permanecendo onde estavam. Newt encarou o Construtor por longos segundos; ainda não gostava dele, não tinham nenhuma simpatia um pelo outro, mas reconhecia a tentativa dele de ajudar Perenelle antes que ela entrasse no Labirinto, principalmente quando deixara a intriga pessoal de lado para conversar com ele e Thomas sobre o Conclave e votara a favor dela. E mesmo com todo o caos na reunião, Newt não deixara de reparar no rapaz.

Poucos perceberam de imediato o ataque de Nelly sobre Herman em meio aos gritos, mas todos demoraram muito a se situar do que acontecia ao verem-na desferindo socos no rosto dele.

EI! – Alby berrou, mais para os dois irmãos do que qualquer outro, e Minho foi o primeiro a ir tentar tirar a Clareana de lá. Ele sabia que não fazia sentido algum ela dominá-lo com tanta facilidade, considerando a diferença de porte físico, mas aquilo era mais uma regra sendo quebrada em menos tempo do que jamais acontecera.

Gally empurrou uma cadeira para o lado com extrema força para se aproximar dos dois, seu sangue fervendo de tal maneira que ele mal sabia no que pensava; mas já imaginava Herman revidando, especialmente depois do modo que o ouvira falar dela. Um de seus colegas, que o conhecia muito bem para prever o que ele faria, apressou-se a empurrar seus ombros para longe e mantê-lo afastado da briga. Gally ainda não desviava o olhar furioso dos dois irmãos, apenas esperando que o Novato fizesse algum movimento e ele tivesse uma razão clara e tão boa quanto à de Perenelle para espanca-lo.

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