Esse mundo não é feito para você

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Os três dias que se seguiram com Thomas passando pela Transformação foram basicamente iguais a todos os outros, ou pelo menos era como eu tentava ver. Foi assustador ver seu rosto e seus braços com as veias saltadas em vermelho e roxo, sua garganta soltando gritos praticamente o tempo todo. Era exatamente como minha mãe estivera antes de ser morta.

Toda noite, os Verdugos vinham e levavam alguém. Precisávamos consertar os estragos na Sede, cada um de nós com a esperança de que aquilo livrasse a própria pele. Fui agarrada pelo tornozelo por uma das pinças do Verdugo, uma vez, e me segurara no batente da janela quando fui puxada violentamente. Newt abraçara meu torso na tentativa de me puxar de volta para o quarto, enquanto outro Clareano acertava o braço metálico diversas vezes com um machado. Era sempre com esse atrevimento que tentávamos livrar uns aos outros, agindo como se fosse nós mesmos em perigo. Consegui ser libertada, mas o garoto foi levado no meu lugar. E de repente eu me dera conta de que nunca soubera seu nome.

Thomas ficava sozinho no Amansador, mesmo que Teresa insistisse toda vez para fazer companhia a ele. Newt temia que ele a atacasse e ela não tivesse por onde escapar durante a noite, então a Novata acabava na Sede conosco. Eu agia sempre sem pensar em algum momento de desespero durante o ataque dos Verdugos, mas sabia que, inconscientemente, fazia tudo com a esperança de que Thomas acordasse com todas as respostas de que precisávamos.

O anúncio de que a Transformação havia terminado me tirou o fôlego, enfim.

Thomas pediu um Conclave para contar suas lembranças e em pouco tempo todos os Encarregados haviam se reunido na sala da Sede. Teresa e eu esperamos no saguão do lado de fora, pois ninguém além de Thomas, Newt e Minho nos queriam perto.

Ainda não havia muita conversa entre nós duas e ela não parecia fazer questão de haver. Na verdade, Teresa não parecia fazer questão de nada. Dormia pacificamente durante as terríveis noites; não mostrava muita comoção com os sequestros nem quando algum de nós comentava sobre o que acontecia. Eu tentava confiar nela para esquecer o rancor das lembranças, mas estava me custando bastante esforço, que eu achava mais produtivo concentrar nos ferimentos dos garotos.

Estávamos em pé encostadas a paredes opostas, olhando para qualquer coisa que não fosse uma a outra. Eu já tinha tentado ouvir alguma coisa do Conclave, mas só o que nos alcançava eram murmúrios deles, às vezes protestos altos. Apenas após mais de uma hora a porta foi finalmente aberta. Newt segurava Thomas pelo braço para que saíssem.

— Precisa acreditar em mim, Newt... É a única maneira de sair daqui. – ele disse.

— Certo, adorei especialmente aquela parte em que você se ofereceu para ser morto.

— Como é? – Teresa e eu indagamos em uníssono. Newt me encarou por um tempo antes de apontar para eu e Thomas.

— Melhor vocês conversarem.

Sem dizer mais nada, ele voltou para o Conclave. Olhei para o Corredor à espera de explicações e por alguma razão ele me mediu de cima a baixo com o olhar.

— Vi você na minha Transformação. – disse simplesmente.

Arregalei os olhos e relanceei para Teresa, como se ela fosse ter uma reação relevante. Mas não teve.

— E? – instiguei com meu coração dando um salto repentino.

— Preciso sair daqui primeiro... – Thomas resmungou coçando os olhos, claramente cansado. O esforço ao qual estava se submetendo após a Transformação atiçava uma chama de fascínio por ele no meu peito.

— Vamos. – pus minha mão em suas costas e o guiei na direção da saída, lançando um olhar a Teresa que claramente dizia para que ficasse ali. A raiva ficou evidente em seu semblante, mas não me importei.

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