Sobre o dia estranho de uma menina

235 32 1
                                    

  — Onde está o seu cachecol? — Perenelle perguntou entre fungadas, afastando seu rosto do peito de Newt. Ela sabia que se arrependeria de saber o que acontecera a ele, principalmente o porquê do sangue nas mãos, mas ainda assim perguntava. Sua consciência não suportava ignorar que ele também estava carregando um grande fardo nas costas.

  — Arrancaram de mim, nada de mais. — Newt respondeu com uma das mãos na lateral do pescoço dela. Seus polegares limparam as lágrimas do rosto dela antes que fizessem ele mesmo chorar. — Vamos, acho que estão atrás de mim. — apontou para o túnel que se seguia, com uma luz amarelada apenas lá no fundo.

 Nelly não deixou de notar o quão sombrio estava o olhar dele. Independente do quanto as coisas estavam ruins, Newt sempre parecia se recuperar para conseguir ao menos viver mais um dia. “Ou ele confia muito em mim ou as coisas pioraram ainda mais”, ela pensou.

  — Newt, você...

 Ele deu um passo urgente na direção dela e cobriu sua boca com a mão. Ela estava ocupada demais com as próprias paranoias para ouvir os burburinhos do lado de fora, mas Newt virou a cabeça de lado e apurou os ouvidos, e ela prestou a atenção para entender por quê.

  — Vieram pelos túneis, não foi? — a voz do Cicatriz indagou. — Viu por onde eles fugiram?

  — Segui os mesmos passos deles quando me livrei do Leigo e aí encontrei vocês. – Ty respondeu.

 Newt baixou sua mão e segurou a de Nelly, e os dois começaram a recuar devagar, olhando para a entrada e quase prendendo a respiração. Quando julgaram estar escondidos o suficiente pela falta de luz, viraram-se e correram.

 Após algumas curvas, pelas quais, na maioria das vezes, Nelly guiava pelo seu senso de direção sugerir qual caminho os afastaria do armazém, eles pararam para recuperar o fôlego e ficaram em silêncio para tentar ouvir se alguém os seguia.

  — Por que está mancando mais? — ela perguntou ao se apoiar na parede de frente para ele, ainda puxando o ar com certa dificuldade. — Foi o Herman?

 Nelly chegou a pensar se o sangue nas mãos de Newt era de seu irmão. E Newt sabia que dizer isso traria alguma satisfação mórbida à garota.

  — Herman foi banido dos Pagãos. — ele respondeu, preferindo essa resposta por várias razões.

 De repente, ela recuperara todo o ar de que precisava e o encarava com mais atenção.

  — Está falando sério?

 Newt assentiu com a cabeça. Perenelle não sabia se a melhor forma de estourar a bolha de prazer em seu peito era rindo ou gritando, então preferiu apenas suspirar, pois assim teriam mais alguns minutos com a vida fora de risco. Matar Herman sempre pareceu ser a única maneira de sanar o ódio que sentia por ele, mas imaginá-lo vagando por aquele mundo, com toda a maldade que fizera impressa em cada esquina por que passasse, precisando se virar completamente sozinho, sem família ou lembranças, e talvez Imune, sem dúvidas levou-a a pensar que alguma justiça tinha sido feita.

  — Está machucado? — ela perguntou involuntariamente.

  — Estou bem.

  — Não, não está.

  — Você também não.

  — E aí?

 Eles se encararam em silêncio e com a expressão dura por longos segundos. Ambos queriam cuidar um do outro para não precisarem pensar no que havia acontecido, mas sabiam que se sentiriam muito pior em saber o que o outro tinha passado, então realmente era um dilema.

Socorristas  | Maze Runner ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora