Sacrifício

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—... E não sei que caminho é esse para o Labirinto, - apontei o mapa em sua mão. — porque não foi por onde eu e os Clareanos passamos ao sair de lá.

— E por onde foi? – Gally perguntou, quase me interrompendo.

— A Caixa.

Nós três trocamos olhares que diziam tudo: que mértila. Nunca pensei que voltaria àquele lugar, muito menos pelo mesmo caminho onde tudo começou.

Tudo tremeu de novo e com muito mais intensidade. No fim de um dos corredores, foi mais um teto que caiu.

— Certo. – Gally puxou Andrômeda para mais perto de si, tirando-a do meu pescoço e a tomando inteiramente nos braços. — Mostre o caminho. – disse a mim, deixando claro que não permitiria alguma discussão sobre aquilo.

Voltamos a correr, Thomas se apossando da arma de Gally e ficando atrás de todos nós como cobertura. Vi a porta enferrujada que levava à sala de observação do Labirinto e ao próprio, mas sabia que usar o elevador e a Caixa nos economizaria muito mais tempo. Ultrapassamos a sala onde eu deveria ter recebido minhas memórias de volta com os outros, a princípio, até que, enfim, chegamos ao elevador. Ele se abriu no momento em que apertei o botão para chama-lo.

— Eu devia ir atrás dos outros. – Thomas disse do lado de fora do elevador, pondo a mão sobre a porta para impedi-la de fechar depois que entramos. — Teresa, Minho...

— Estão todos bem. – Gally afirmou, permitindo um descanso a si mesmo ao pousar Andrômeda no chão.

— Não... Ava pediu para que eu fosse atrás deles...

Seu último olhar pairou sobre mim, mas não encontrei o que dizer. Se bem agora eu fosse me preocupar com Ava, logo ela que sequer tinha se dado o trabalho de falar cara a cara com Thomas, nunca sairíamos dali vivos.

— Nos encontre aqui, se puder. – falei e ele se afastou da porta, deixando que ela fechasse.

À medida que descíamos, meu coração ia batendo mais rápido. Estávamos parados, esperando nada pacientemente pelo momento que poderíamos sair e voltar a responder à adrenalina no sangue. Era sufocante. Comecei a pensar em Newt, sozinho no Berg.

— Como pudemos deixar ele sozinho lá? – murmurei para o chão, tomada pela incredulidade.

— Preferia que um desses dois tivesse ficado? – Gally indagou após um tempo me encarando.

— Não pense nisso agora. – Mallory pôs a mão sobre meu ombro num encorajamento.

Comecei a respirar fundo para me acalmar, e então as portas se abriram. Andrômeda foi deixada ao lado da entrada para a sala da Caixa, muito pouco consciente. Tomei seu queixo em minha mão para vê-la melhor, mas não havia a menor chance de conseguir me responder. Não me agradava deixa-la ali sem ninguém como fiz com Newt, mas dali de baixo nem era possível ouvir as explosões. Preferi levá-la para um cantinho longe de mesas e armários na sala da Caixa.

Lá dentro, lembrei-me de quando Herman me espancara ali antes de eu ser enviada para a Clareira, e cheguei à conclusão de que, se alguém tivesse me dito antes da Transformação que o motivo dos meus hematomas era meu irmão, nunca teria acreditado. Nada poderia deixar sequelas tão impactantes quanto o Experimento.

Nós quatro entramos na Caixa e eu apertei um dos dois botões ao lado para coloca-la em movimento. As correntes bateram, o rangido e o tinido das polias encheram o espaço. A ansiedade crescia dentro de mim como uma bolha poderosa, tirando-me o fôlego. Eu tentava acalmar meu coração, convencer meu inconsciente de que estava ali numa situação diferente da primeira vez. Não funcionou. Eu me lembrava da impotência, do medo e do preconceito com todos aqueles garotos ao meu redor, zombando e totalmente indiferentes a como eu me sentia. Lembrava-me das dores, da amnésia, da minha vontade de ter ficado lá dentro do compartimento. Quanta coisa seria diferente se eu tivesse me negado a sair da Caixa naquele dia? Quanta coisa seria diferente se Newt e Minho tivessem me deixado entrar no Labirinto, e eu, sem a menor experiência e ajuda, tivesse sido morta pelos Verdugos? Talvez Mike não tivesse perdido a mão se eu não tivesse conversado com ele sobre o comportamento estranho de Alby; talvez Herman não tivesse ficado tão raivoso e muita coisa teria sido evitada; o menino que me salvara de ser levada pelos Verdugos não precisaria tê-lo feito; talvez Newt não teria conhecido os efeitos do Fulgor... Era demais pensar naquilo, mas, quando me dei conta, já tinha lágrimas nos olhos. Se eu não estivesse logo ao lado de Newt quando seu coração parou, será que ele não estaria melhor agora?

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