Nunca machuque outro Clareano

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Eu estava muito mais do que em desespero entre aquelas quatro paredes de concreto. Meu corpo inteiro tremia e suava, meu coração saltava a todo o momento. Minhas próximas horas dependiam muito do que os Corredores tinham visto no Labirinto e isso não me reconfortava nem um pouco, principalmente com a primeira reação de Alby. Eu estava completamente machucada, a blusa rasgada, e o corpo dolorido. Sem contar o cansaço. E, no entanto, recebi os Socorristas dentro do Amansador, acompanhados de dois garotos muito musculosos. Jeff e Clint me avaliavam como se eu fosse um animal selvagem prestes a voar no pescoço deles. Eles saíram muito rápido e só recebi os curativos quando Thomas trouxe alguma comida, horas depois.

— Thomas, você precisa me ouvir, não foi exatamente como eles viram...

— Talvez. Alby vai fazer um Conclave assim que Herman acordar.

— Acredita em mim, não acredita? – perguntei urgentemente. Perder a confiança de Thomas era uma das piores coisas que podiam acontecer dali em diante.

Ele deu de ombros.

— Você nunca pareceu gostar muito dele. – disse e saiu do Amansador sem acrescentar mais nada. Thomas mal conseguira me encarar.

Amassei o sanduíche na minha mão com o papel filme e os parti no meio. Joguei-os de qualquer jeito no chão, batendo o pé, grunhindo, quase desferindo um soco na parede. O gosto de sangue na minha boca me impedia de querer comer. Eu estava morta de cansaço, mas sabia que não conseguiria dormir. Só o que pude fazer foi andar de um lado para o outro pelo resto do dia, confinada e ignorada.

A janela era minha única referência de que o tempo passava. Consegui me acalmar o suficiente para dormir apenas à noite, mas não adiantou, pois pouco depois a porta abriu-se com o jantar. A imagem de Newt, que milhares de vezes fez eu me sentir melhor, agora encarava o chão com um prato e um copo de água nas mãos, a semblante tenso, parecendo conter a vontade de erguer seus olhos a mim. A camisa branca dele estava aberta, um dos ombros caído, deixando a regata alaranjada à mostra, a bainha cruzando seu peito. O rosto estava sujo, assim como áreas da pele à mostra, e foi a primeira vez que notei o quanto ele era realmente alto. Seu cabelo loiro escuro estava o menos despenteado possível. Encarei o chão ao perceber que estava reparando mais que o necessário.

Pela primeira vez, não me aliviou nem um pouco tê-lo perto. Eu chegava a me sentir envergonhada perante ele, mesmo sabendo que eu estava com a razão no que tinha feito.

— Não quiseram trazer nada durante a tarde. – disse e vi seus olhos repararem no antigo sanduíche despedaçado no chão. A cor amarela estava mais escura.

Quis falar uma montanha de coisas: respostas afiadas, pedidos, explicações, gritos... Mas não tive coragem. Tive a certeza de que se eu abrisse a boca, começaria a chorar. E a última coisa da qual eu precisava era me mostrar tão fraca para alguém.

Newt deixou a comida na minha frente, abaixando-se.

— Espero que tenha uma boa defesa. – murmurou. Depois se levantou e saiu. Acreditei que ele queria confiar em mim, mas eu ainda não tinha ideia de como me defenderia no Conclave, e odiei a ideia de tê-lo contra mim.

Antes que eu começasse a arrancar os cabelos, mordi o sanduíche, quase mordendo meu próprio dedo, e deixei que o tempo continuasse a passar.

Meu estômago estava embrulhado de medo e raiva pelo que acontecera. Eu tinha deixado Herman para ser picado sem sentir uma gota de remorso. Não hesitara, não tentara ajudar. Fizera com prazer. Eu não me julgava, mas sabia que todos os Clareanos fariam isso se eu não deixasse clara a parte em que ele tinha tentado fazer o mesmo; ainda mais se ele acordasse com certas lembranças. Talvez houvesse coisas sobre a minha relação com os Clareanos ou sobre mim mesma no passado que superavam o fato de eu ter atirado no que deveria ser minha mãe.

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