Fluorescente

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Diferente de tudo naquele lugar, o dia seguinte amanhecera estranho.

O sol havia literalmente sumido do céu acima de nós e fora substituído por uma fraca claridade cinzenta, trazendo uma comoção geral na Clareira. Eu me encontrava sentada num banco da entrada do Campo-Santo, observando todo mundo, fazendo uma trança com uma mecha do meu cabelo. Os Corredores foram os únicos que continuaram o trabalho normal, mesmo que todos parecessem perturbados. Somente Thomas tratava aquilo com tranquilidade, fazia parecer muito óbvio que o céu ali era artificial. Eu não conseguira ter nenhuma reação ao acordar e olhar para cima, e essa teoria dele fez eu me sentir desconfortavelmente mais calma. Não era o fim do mundo, mas a falta do sol prejudicava os animais e as plantas, então ainda assim estávamos ferrados.

Vi todos os Construtores reunidos em frente à pilha de destroços da torre de vigilância, falando alto e ao mesmo tempo para alguém que eu não conseguia ver. Prendi a trança ao rabo de cavalo e caminhei até eles, contornando a multidão. Gally era com quem gritavam e ele gritava de volta. Mike estava logo atrás dele, observando todos impacientemente e calado.

— O que foi? – perguntei ao parar ao lado dele e conseguir me dar conta da quantidade de rostos vermelhos que gritavam. Tive certeza que alguns ali nem eram Construtores fixamente.

— Gally está tentando fazê-los consertar essa mértila, mas ninguém quer fazer nada com o céu assim. – Mike explicou, fazendo linhas marrons girarem acima da cabeça dele, quase me distraindo.

Não soube dizer quem exatamente era mais idiota, mas já tinha tido briga demais em pouquíssimo tempo. Agarrei Gally pelo braço e comecei a puxá-lo para longe de todos, ouvindo os garotos protestarem.

— Calem a boca, imbecis! – Mike gritou com a voz extremamente grave e todos silenciaram por alguns segundos, até começarem a descarregar tudo nele.

A uma distância razoável, parei e me virei para Gally.

— É sério que vai querer piorar as coisas logo agora? – indaguei.

— Olha, o sol desapareceu. Certo. Grande coisa. Se dermos mole agora, esse lugar vai se acabar de vez.

— Gally, não é essa mais a questão. Os Corredores foram para o Labirinto como sempre, isso sim pode nos ajudar em alguma coisa. Agora, reconstruir uma torre de vigilância... – deixei a frase morrer e soltei um suspiro cansado, revirando os olhos. Mesmo depois da conversa e do ocorrido de ontem, era esquisito falar com ele sem precisar pensar numa resposta afiada. — Eu nem sei por que estou me dando o trabalho de dizer alguma coisa, na verdade. Mas vai ser menos estressante para todo mundo se você entrar na onda e ficar na sua.

Ele cruzou os braços e ergueu uma sobrancelha.

— É só um conselho, não estou te dizendo o que fazer. – acrescentei com outro revirar de olhos.

— Tá e a garota? Alguma novidade?

— Continua na mesma. Tenho que ir vê-la, até, não sei como esqueci... Pode segurar a vontade de dar ordens desnecessárias? – indaguei retoricamente, fazendo que me viraria para sair. Mas ele continuou extremamente sério e até estranho. Gally abriu a boca para dizer algo, então parei e acenei com a cabeça num incentivo. Seus olhos me mediram de cima a baixo. Não do modo que fez ao zombar de mim na primeira noite da fogueira que tive; ele parecia pensativo e distante, em vez disso. Senti cheiro de terra molhada e uma cômoda sensação de lar. Por fim, deu de ombros numa indiferença relativamente triste. Dei-lhe as costas e caminhei até a Sede, tentando entender o significado daquilo.

Eu ainda estava imersa em pensamentos quando uma discussão no quarto da Novata puxou-me de volta para a realidade.

—... e aí o quê? Ahn? Você está com cada ideia, cara, não sei o que tem acontecido... – Newt dizia. Eu estava me aproximando da porta, prestes a ter a certeza de que ele falava com Alby. — A última coisa de que a gente precisava era mais uma garota.

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