Construtores

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— É a história mais estúpida que eu poderia ouvir. – Newt disse ao final da minha narração do ocorrido após me separar de Minho no dia anterior. Ele estivera com a mão no queixo enquanto eu falava, concentrado e sem fazer menção de me interromper, mas então desprezou tudo completamente.

Apenas ele, Thomas e Alby estavam no quarto comigo. Thomas me ajudou a contar o que havia acontecido e descobri que ele ficara preso lá pela mesma distração que eu, e que tivera tanto azar quanto. Precisou matar um Verdugo antes de me encontrar e por isso soube o que fazer quando o último apareceu. Ele se aproveitara de outro muro que se movia e encurralara todos os que estavam no corredor antes da passagem para o Penhasco, depois usou outra passagem para entrar lá e matar a coisa antes que eu caísse.

— E você foi estúpida, salvar o traseiro do Thomas para correr sozinha com aqueles malditos? Que mértila você acha que é? — Alby emendou.

— Não acho nada, eu só fiz. E não me importa o que você pensa disso. – repliquei.

— Você vai passar a noite no Amansador. — ele disse com a voz grave, apontando o dedo para mim.

— Não, não vai, seu mértila. Ela precisa tomar remédios e trocar os curativos. — Newt disse de braços cruzados. — Além disso, ela não entrou no Labirinto à noite, então não desrespeitou nenhuma regra.

Fechei meus punhos para não aplaudi-lo e encarei Alby, que revirou os olhos e saiu do quarto. Thomas o acompanhou, lançando-me um olhar singelo antes de sumir atrás da quina. Ele tinha me agradecido pelo que fiz ao deixá-lo escondido, mas Newt, Alby e Minho já tinham me convencido de que havia planos melhores.

— Jeff e Clint disseram que vai ter que ficar um tempo aí antes de voltar às tarefas. — Newt disse.

— Mas... e o nosso trato?! — exclamei.

— Já ficou mais que claro que você não tem que se meter nisso.

— Vai me dizer agora que acredita em destino?

— Nelly, não chateie, ok? Esqueça isso e procure outra maldita coisa com o que me importunar. Vamos poupar mais transtorno e fazer seu Conclave para ser escolhida por um Encarregado depois...

— Poupar transtorno? Acha que menos um adoentado na cama diminui uma centelha das nossas preocupações?

— Não sou eu quem decide isso. — disse com o tom sério e a expressão irritada. — Nós e esse lugar só estamos de pé por causa da ordem que mantemos, então não comece a querer desfazer isso, ou você vai sim passar bons dias no Amansador.

Mantemos o olhar por mais um tempo, impassíveis, até que ele se virou e saiu do quarto.

Passar cinco dias deitada numa cama sem poder fazer mais nada além de tomar remédios, comer e dormir tinha sido, em parte, gratificante. Apesar de saber que todos estavam do lado de fora esforçando-se ao máximo para levar a vida bem na Clareira, eu não queria sair dali se não fosse para ajudar com ferimentos. Dois garotos sofreram acidentes, um deles pela picada de um Verdugo, e a vontade reprimida de querer ajudar me esmagou. Os gritos que vinham do quarto pela Transformação não ajudavam em nada.

O corte teve uma melhora muito mais rápida do que eu havia imaginado e passei três dias seguidos pedindo a Newt que me deixasse sair para voltar aos testes. Eu ainda tinha dois dias para cumprir o trato dele e ignorei a voz na minha cabeça que dizia ser errado torcer para alguém se machucar.

— Certo... Certo... Ok! — ele disse por fim em meio ao meu milésimo discurso. — Caçarola precisa de ajuda para fazer o almoço.

Parei no meio do caminho para me levantar da cama e cruzei os braços, o fitando com os dentes cerrados. Newt passou a língua pelo interior da bochecha e correu os olhos para o lado.

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