Perto das cinzas

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Não pude dirigir por tanto tempo quanto gostaria, mas a gasolina durou o suficiente para eu conseguir chegar a uma pequena cidade e pegar outro carro. Eu não tinha certeza se este estava mesmo abandonado na garagem pelos moradores, ainda que o péssimo estado da casa deixasse claro que haviam passado por maus bocados, mas a verdade era que não me importava tanto. Odiava pensar em prejudicar alguém, como o CRUEL fez por tanto tempo, e odiava ainda mais depender de uma desconhecida como Andrômeda para saber como os Clareanos estavam. Eu estava tão bem disposta a resolver as coisas logo, encontrar com eles e poder conversar decentemente, que roubar um carro parecia ser o de menos. Seria, afinal, dependendo do rumo que as coisas tomassem.

 Segui para a cidade de Denver, como Andrômeda havia me dito que eles estavam lá, e abortei o uso do carro ao perceber a atenção que ele chamava no meio das pessoas. Além disso, com ele seria mais fácil para um Berg me localizar a qualquer deslize que eu cometesse.

 Imensa foi a minha surpresa ao me deparar com o enorme muro na entrada da cidade. Não tive a menor ideia do porquê daquilo, pois nenhum outro lugar teve tal proteção, mas logo soube o tamanho do meu problema ao ver guardas revistando um grande grupo de civis do lado de fora. Aproximei-me o suficiente para ouvir e não ser vista.

  — Já disse, é trabalho de campo. Não precisaríamos vir aqui se um de nós estivesse infectado. – um homem usando óculos disse, mais a frente dos civis que eram revistados.

 Não pensei duas vezes antes de me meter no meio daquelas pessoas como se fosse uma delas, tentando imitar o jeito intimidado dos mais jovens. Um instrumento de tamanho médio, provavelmente um detector de metais, escaneou-me de cima a baixo e emitiu um clique seguido de uma luz verde, e então passou para o próximo. Meu coração batia bem alto, mas pelo menos não estava suando.

 Todos nós ultrapassamos uma porta no muro e estacamos perante um painel na parede seguinte, que descobri verificar nossa imunidade através de um braço mecânico, por cima do qual nos inclinávamos e um fio de metal nos espetava no pescoço. A seguir, entramos num corredor que detectava alguma coisa que talvez aquele instrumento não conseguia. Por fim, estávamos na cidade.

 O grupo explodiu em comentários e eu me afastei deles antes que fosse notada. A recuperação das memórias viera na hora certa, pois assim eu tinha conhecimento da existência de algumas poucas unidades do Braço Direito em Denver. Já estava mais que na hora de nos unirmos contra o CRUEL e eu mal podia esperar para ver rostos antigos e conhecidos. Alguns membros quase chegavam a me fazer falta agora. Minha família e eu passamos anos acompanhando o mesmo grupo de pessoas do Braço Direito, depois que deixamos de ser nômades, então, em outras circunstâncias, eu poderia dizer que possuía mais laços fraternais no destruído mundo atual do que parecia. Encantava-me a probabilidade de um reencontro.

 A chama de esperança começou a ficar menor, no entanto, quando chequei o primeiro bunker e não encontrei nada além de vestígios de que alguém um dia estivera ali. E se todos eles tivessem se separado e se espalhado? Eu lembrava o quão turbulento havia sido quando o fato de Herman e eu sermos caçados pelo CRUEL começou a afetá-los… A maioria temia que o simples fato de existirmos fosse um perigo para eles, o que acarretou na decisão do nosso líder de expulsar umas cinco pessoas para outra unidade.

 Entrei no terceiro apartamento que eu conhecia... Estava vazio também. Faltavam apenas mais duas unidades, depois eu precisaria procurar os Clareanos sozinha.

 Estava prestes a sair do apartamento, quando um som alto vindo do céu me chamou atenção e me obrigou a me aproximar da janela. Esquivei-me para detrás de uma estante ao reconhecer um dos Bergs do CRUEL bem acima do prédio. Ele voou até o topo da construção da frente e uma porta de carga se abriu, despejando vários guardas bem armados. Não demoraria muito até que entrassem no prédio em que eu estava.

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