União

119 16 0
                                    

Os questionamentos vieram de todos os lados quando Jorge pousou a aeronave muito antes do que supunham. Eu não tinha dito a ninguém mais sobre passar no laboratório em Denver antes e deixei a tarefa de explicar onde estávamos com os Clareanos que sabiam. Armada com um facão, entrei sozinha no prédio onde havia deixado minha bolsa e, graças a tranca e a barreira que consegui fazer do lado de dentro, ela estava a salvo. Depois fui floresta à dentro em direção ao laboratório, pensando em como faria para caber os utensílios que já pertenciam ao local.

O problema era maior quando cheguei, no entanto. As correntes que prendiam os Cranks estavam vazias e uma parte do laboratório pegava fogo. Havia muita coisa lá dentro para ser destruída. No fundo, eu já esperava que deixar a cidade não acabaria sendo apenas satisfação. Corri as unhas pelo cabelo enquanto encarava aquilo. Era quase impossível conter o nervosismo dentro de mim.

Não ia deixar tudo ali sem antes ao menos tentar salvar o que pudesse. Quebrei a janela com uma pedra e as chamas explodiram o vidro, abrindo uma passagem grande o suficiente para mim. Eu entrei, já me dirigindo ao armário poeirento em que havia tubos de ensaio e empurrando-os para dentro da bolsa. Precisei virar uma gaveta de ferramentas dentro dela, pois, por ser toda de metal, estava fervendo. Eu começava a sentir meu corpo suar quando fui até a despensa e tentei abrir a porta, e senti a maçaneta me queimar. Assim que lembrei ter deixado o material de limpeza lá dentro, houve uma explosão e a porta me arremessou para o outro lado do laboratório, por cima de uma bancada até uma mesa móvel. Suas rodinhas giraram de encontro à parede, eu bati a cabeça e escorreguei para o chão, atordoada.

Olhei para o espaço em chamas ao meu redor, sem saber direito o que pensar, sentindo sangue escorrer pela minha têmpora. Quis me desmanchar em lágrimas, entregar-me ao fogo. De repente pareceu ser demais ter que trabalhar na cura, construir uma vida com os outros, ver Newt acamado, correndo um sério risco de vida. Tanta coisa ainda poderia nos atrapalhar, como o incêndio agora. Não poderíamos impedir tudo, nem prever ou controlar. Nossa vida inteira havia sido assim, deveríamos estar desistindo, resolvendo as coisas do modo mais fácil e certeiro. Minha mãe estava em paz, meu pai estava em paz. Só o que eu queria era ficar em paz também.

Empurrei a mesinha móvel com um grito, mal sentindo as lágrimas que desciam, e agarrei a alça da bolsa antes de sair do laboratório. Ainda que não houvesse necessidade, saí correndo dali, esmagando a alça, pondo tudo de mim nas pernas para descarregar a adrenalina, como se minha vida dependesse disso. Passei direto pelo caminho até o Berg e invadi uma casa sem pensar, revirando a geladeira e o freezer atrás de qualquer coisa congelada. Minha raiva por Thomas ter puxado o gatilho ainda era a mesma, eu não podia simplesmente desistir de Newt e achar que estava tudo bem. Não estava. Anos atrás eu esperava o momento certo para fazer alguma coisa a respeito de tudo aquilo. Quis com todas as minhas forças que o sofrimento na Clareira acabasse. E perto de conseguir muito mais que isso eu desejava desistir? Deixava Newt num coma pelo resto dos dias? Não era justo. Eu era estúpida em pensar daquela maneira.

Após verificar outras casas e apartamentos pela região, voltei para o Berg com os braços cheios e gritei para que abrissem a porta de carga. Vendo-a descer sem problemas, percebi que os Construtores restantes haviam consertado o defeito.

— Que diabos... – Minho começou vendo a quantidade de casacos que eu carregava.

Larguei a bolsa e as roupas no chão, despindo aquelas que vesti para me poupar de peso, batendo a poeira de algumas. Depois dos clarões solares, Denver provavelmente não conhecia o frio há um tempo.

— Jorge disse que a viagem vai ser longa. Vamos baixar a temperatura do Berg para os congelados durarem, pois água fria não vai servir. – expliquei.

Socorristas  | Maze Runner ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora