O tempo voa, mas você é o piloto

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Acabei cedendo e deixando que me ajudassem a tratar do ferimento, principalmente quando Mallory me mostrou remédios que realmente poderiam me ajudar. Não impediam que cicatrizes fossem formadas, mas pelo menos poderia usar sutiã sem que odiasse ser mulher por isso.

— Ainda não nos disse seu nome. – ela comentou atrás de mim, fazendo o mesmo tipo de curativo que Gally havia feito.

— Jordan. – respondi.

— E como sabia o que era aquele remédio? Em toda a minha carreira de cirurgiã, ninguém com menos de setenta ou oitenta anos sabe da existência daquilo. E você não deve ser tão velha quanto parece.

— Mamãe. – o garoto repreendeu da cozinha, virado de costas enquanto cozinhava alguma coisa para me dar privacidade.

— Ela não ficou ofendida. Não é?

— Não, não fiquei. – disse com um meio sorriso. A ansiedade para ir embora ainda me consumia, mas estava fazendo de tudo para mostrar algum sinal de gratidão. — Passei por uns maus bocados, devo parecer tão ruim quanto um Crank.

Mallory riu como se ouvisse a tentativa de uma criança de fazer piada.

— Viu o que ela fez? Tentou me ofender fingindo que esqueceu que vou me transformar numa daquelas coisas daqui um tempo. Prontinho, moça.

— Não foi o que eu quis dizer. – falei enquanto puxava a blusa emprestada e a vestia. O alívio de não ter mais as bolhas sendo judiadas era imenso, e eu me sentia cada vez pior que Mallory fosse se perder para o Fulgor um dia.

— Minha mãe sempre gosta de ser um pouco inconveniente. É como ela diz um "obrigada" a longo prazo. – o garoto disse, saindo da cozinha com uma panela, dois pratos e talheres. — Sou Kenan. – ele me estendeu a mão. Assim que a apertei, ele a segurou com mais delicadeza e beijou o dorso, sem tirar os olhos de mim.

— Tente de novo com um cabelo mais comportado, querido. – Mallory disse, pegando os pratos e me dando um.

Fiquei parada na mesma posição, ponderando sobre aceitar a comida. Eles estavam fazendo muita questão que eu ficasse. Eu olhava para a porta e as janelas como se esperasse um exército do CRUEL entrar a qualquer momento, e também checava se o revólver ainda estava onde eu havia deixado.

— Você trabalhava como cirurgiã? – perguntei com a voz fraca, sem poder evitar a lembrança de minha mãe enquanto me sentava na cama e me servia do caldo. Era verde, com algum tempero de cheiro muito bom.

— Ah, sim, era muito boa no que eu fazia. Sinto falta daquilo. Tratar os ralados de Kenan não é a mesma coisa, chega a ser um pouco frustrante.

— Obrigado. – Kenan ironizou.

— Você o chamou de Narsh... – comecei, confusa.

— Ele queria um apelido quando era pequeno e o irmão dele sempre foi o mais criativo da família... Teve a quem puxar. – ela moveu um ombro, convencida.

— Você tem um... – fui incapaz de encerrar a frase com o olhar que Kenan me lançou. Era abatido e infeliz, e me convenceu de que o assunto não deveria ser tocado. — Não tem emprego disponível para gente como você? – voltei-me para a mulher.

— Teria, se os elementos mais básicos de uma operação não estivessem sendo usados como proteção dos civis. – Mallory respondeu.

Eu parei para pensar, imaginando pessoas invadindo hospitais à procura de um meio de defesa.

— Bisturis? – qualquer chute soaria estúpido.

Anestesia. As pessoas têm injetado isso nos infectados para que não matem ninguém, e também não precisem ser mortos. E isso por causa do preço da Benção.

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