Terríveis finalmentes

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Imagine minha surpresa ao constatar o meu nível de loucura quando o alarme da Caixa que anunciava mais um trolho soou terrivelmente.

Sentei e tampei os ouvidos com as mãos, olhando ao redor para descobrir da onde aquilo vinha. Não havia alto-falante algum dentro do quarto e mesmo assim o barulho me ensurdecia completamente. Tagarela não estava mais ali.

Levantei-me num salto e corri para o banheiro, jogando a água fria no meu rosto diversas vezes. Apoiei-me na pia com a respiração pesada, minha cabeça recomeçando a doer por todo aquele barulho. "É claro que ele não está aqui...", pensei. "Você está bem... Você está bem...". Fechei os olhos e tentei me acalmar. Não era a primeira vez que eu dizia para mim mesma que não estava maluca.

Não fazia a menor ideia se o alarme era apenas coisa da minha mente ou não, então segurei fracamente a estaca de madeira e saí do quarto. Devia ser meio da tarde, e o corredor ainda era completamente escuro. Mais alguns segundos depois, o alarme parou. Olhei através da janela da porta do refeitório e nada ali mudara. Virei-me para o corredor do outro lado, à direita, e cerrei os olhos em desconfiança; uma luz branca vinha de lá. Talvez aquilo fosse uma forma de chamar a minha atenção para sair do quarto. Mas eu estava fraca demais para lutar contra mais um daqueles guardas, pior ainda com a falta de luminosidade.

Apertei a estaca com mais força e caminhei até lá com cautela. Prendi a respiração pouco antes de olhar para o corredor. Meu coração saltou por um segundo quando realmente vi alguém ali. Um homem estava sentado atrás de uma escrivaninha, a parede lustrosa logo atrás dele. Seus pés estavam esticados sobre a mesa, ao lado de uma lamparina, as mãos seguravam um livro, que ele lia atentamente. Depois de dez dias sem comer, sem companhia e sem uma faísca de esperança, só o que eu podia concluir era que era uma cena estranha.

Olhei ao redor enquanto me aproximava e o analisava com mais atenção. Ele tinha o cabelo escuro, mas as laterais repletas de fios brancos e a barba por fazer. Vestia uma blusa clara de gola alta, uma jaqueta de couro por cima, calça jeans e coturnos. Era ridículo, na verdade, considerando o quão velho ele devia ser. O som alto de motor ressoou e todo o lugar foi tomado por uma luz branca, como se alguém tivesse acionado um gerador. Cobri meus olhos e cambaleei para trás, sentindo-os doerem.

Pisquei algumas vezes e, ainda com os olhos cerrados e lacrimejantes, encarei melhor o homem. Era o mesmo que tinha me dado a senha para entrar no refeitório.

— O que é isso agora? – indaguei, continuando a me aproximar. Ele não mudou de posição nem me olhou. Eu estava prestes a falar mais alto, quando bati de frente com algo invisível a três metros dele. Massageando o nariz, dei alguns passos para trás e estiquei a mão, e toquei no que parecia uma parede de vidro morna, mas totalmente transparente, sem brilho nem reflexo alguns. Eu não diria que aquilo era real, até sentir cheiro de abacaxi e torcer o nariz em repulsa. Estiquei as duas mãos e apalpei-a energicamente, de cima a baixo, dos dois lados. Tornei a encarar o homem, que permanecia impassível, e bati no vidro. — Ei! Pra que precisa disso?!

Minha respiração começava a acelerar embaçando o vidro. Ele não ergueu o olhar.

— Aí! Eu estou falando com você! Que droga vocês vão inventar agora?!

Continuei socando e chutando o vidro com uma força que repentinamente me consumiu. A raiva voltara. Estava cansada daquelas palhaçadas, eu não aguentava mais. Fosse o que fosse desta vez, não me interessava.

— Seu trolho, qual o seu problema?! – gritei esmurrando a parede, meu corpo começando a doer. As lágrimas tomaram meus olhos. Eu só queria ver os Clareanos. Independente do que os Criadores estivessem planejando, queria passar por tudo com eles. Depois de tanto tempo fingindo para mim mesma que estava bem, deixei os soluços e os lamentos tomarem o lugar, enquanto eu tentava encontrar alguma força para quebrar o vidro com minhas próprias mãos; agarrar o pescoço do homem e fazer seu rosto ficar como o de Herman da última vez.

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