O cúmulo

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Nelly estava trêmula e tonta com a dor, e perdera o foco de pelo menos dez minutos do falatório de Garent por causa disso. O Sardento enrolara sua mão firmemente com um pano, mas estavam longe de parecer que se importavam com o ferimento. Estavam só garantindo que ela não desmaiasse e acabassem tendo apenas Gally para lhe dar respostas. Frequentemente ela sentia um tipo de arrepio subindo de dentro da carne restante até a sua espinha, e gemidos involuntários lhe escapavam quando acontecia. Mike teria que aguentar longas lamúrias dela, se saíssem vivos da fábrica.

A parede agora possuía um anagrama com "Perenelle" também.

— Ela vai parar com isso, não é? – o Ruivo questionou durante um intervalo silencioso de Garent quando ela soltou outro gemido.

Gally tentou falar, mas não conseguiu. Seu rosto estava coberto de hematomas e sangue. Garent havia tirado o raciocínio do Clareano também com toda a pressão psicológica feita aos gritos e acusações, humilhações e invasão de privacidade. Garent sabia metade da vida de Gally sem precisar de uma palavra do garoto, apenas a expressão corporal.

O líder sentou na cadeira, alternando o olhar entre os dois reféns.

— Seu pai não ia gostar de te ver como um derrotado assim, estaria pedindo para apanhar mais. E sua mãe não negaria ajud-

— Pare... - Nelly murmurou, interrompendo-o logo que ele se voltou para falar com ela. Sua voz estava fraca, mas a súplica era consistente o bastante para que ele prestasse atenção e a deixasse falar. Nelly inspirou rapidamente duas vezes para soar mais firme. — Nunca sentiu uma necessidade colossal de ajudar alguém, como se você estivesse em cheque? Como se isso superasse todos os pecados que já cometeu? Nunca sentiu que trocaria qualquer coisa... uma parte do corpo, uma vida, o que você sempre quis, só para voltar no tempo e fazer de tudo para não ter esse cheque? E a sua dor é tão grande e escura e abissal que você tenta culpar outra pessoa, crucificar mais o CRUEL do que ele já é, mas você...

Garent sacou a arma e apontou para a cabeça de Nelly, que segurou o ar para se calar.

— Diga mais uma palavra sobre isso e estouro sua cabeça. - ele ameaçou. Ele e Hilston se retirariam do local se já não estivessem habituados com a tal dor de que ela falava.

Gally começava a sentir que tanto ele e Nelly quanto os homens estavam andando em círculos ali. Achava que já tinham enrolado o suficiente para Thomas e os outros fazerem algo a respeito do sumiço deles. O antigo Construtor nunca torceu tanto pela imprudência de Thomas.

Gally olhou para o dedo sangrento de Nelly excluído no chão, já que ninguém se deu o trabalho de pegá-lo, e o viu tremendo ligeiramente sobre o cimento, talvez por causa da aproximação do trem no subterrâneo. Sua mente se iluminou.

— Nosso grupo soma mais de quarenta pessoas. – ele disse de repente, mas sem emoção, chamando a atenção de Garent. — Eu não gostaria de arriscar tanta gente reunida num lugar só.

Garent riu fraco.

— Nós nos garantimos. – respondeu.

— Só estou dizendo. Você precisou de concentração para tirar informações de nós dois. – Gally rebateu, sustentando com firmeza o olhar do líder.

Garent semicerrou os olhos para o Clareano, tentando decifrá-lo.

— Temos alguns anos de experiência a mais que vocês, isso ficou óbvio com a prematuridade do seu plano. Sabemos lidar com imprevistos, mesmo eles sendo tão desagradáveis. – o moreno replicou com um sorriso cínico.

Gally balançou a cabeça e desviou o olhar para dar mais tempo a si mesmo para escolher as melhores palavras.

— E quantos homens vocês perdem na batalha desse jeito? – indagou.

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