Delírio é equilíbrio

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Fui deixada sozinha num dormitório imenso daquele edifício. As paredes eram forradas com beliches, mesas e escrivaninhas, os cobertores eram de várias cores diferentes, assim como as cortinas e tudo o que era possível. Depois de tanto ter visto branco e cinza, aquilo me deixava tonta. Ou era apenas a sensação de ter sido arrastada para longe dos Clareanos outra vez e trancafiada sozinha.

— Devem se sentir completos imbecis por deixar um objeto de estudo escapar por entre os dedos, não é? – indaguei cinicamente enquanto dois guardas do tamanho de armários me puxavam, interrompendo a circulação do meu sangue nos braços com a força que usavam. Era só um modo falsamente indiferente de fingir que não estava frustrada por ter sido pega.

Debati-me enquanto andávamos, tentando me livrar deles, mas era uma atitude ridícula. Eles pararam em frente a uma porta de metal e um deles passou um cartão num sensor ao lado. Foi ouvido um chiado de vento e ela se abriu, e não levaram mais tempo para me empurrarem para dentro brutamente. Tropecei nos meus pés e caí de encontro ao chão, machucando a maçã do rosto. Assim que me levantei para tentar investir contra eles, fecharam a passagem.

Deram-me comida, água, roupas novas e artigos de banho. Quase me neguei a aceitar a boa ação, mas logo meu cheiro começou a ficar insuportável, e demorei o que devia ter sido uma hora debaixo do chuveiro. Sequei meu corpo ao sair, vesti a roupa, e estava secando meu cabelo na tolha com o olhar pensativo para o chão, tentando raciocinar o que eu faria para sair dali. As janelas possuíam barras de ferro, o que me fez entender o motivo das cortinas coloridas. Não havia um teclado digital do lado de dentro do quarto desta vez. Devia haver alguma coisa... Nem que fosse algo que eu pudesse usar para explodir aquele lugar.

Respirei fundo e baixei os braços cansados do esforço, larguei a tolha por cima de uma cadeira e a exaustão me consumiu. É claro, fazia pouco mais de vinte e quatro horas que eu não dormia de verdade, e depois de toda a confusão no complexo...

Eu não acreditava nem por um segundo que aquele bom tratamento era real. Estava bom demais para ser verdade. O aroma floral que me envolvia deitada na cama, meus músculos todos relaxados, a sensação de estar num quarto normal... Minha mente estava relaxando aos poucos, por mais que eu tentasse resistir. Não adiantaria. Não havia como escapar. E meu corpo apagaria em breve sem o meu consentimento.

Levantei da cama e fui até outro beliche, respirei fundo e o puxei com esforço até a porta, imaginando que eu dependeria disso para pelo menos não ter o quarto invadido durante a noite e ser levada para algum pátio de execução. Conseguir posicionar bem aquilo custou minhas últimas gotas de energia. Larguei-me na cama de qualquer jeito. Não demorou dois segundos. Fui envolvida pela escuridão do sono.

Uma massa de pessoas que mais pareciam zumbis me perseguia. Eu dava várias voltas no prédio tentando despistá-los, mas obviamente não funcionava. Era mais um teste do CRUEL. O teste final. Claro que me separaram dos outros, apenas eu merecia aquilo. Não sabia como eu sabia, mas eu sabia. O mau pressentimento que tomava conta de mim era muito claro: eu morreria em questão de minutos.

— Vem! – gritei ao passar por uma porta e puxar a pessoa que me acompanhava. Não tinha ideia de quem era. E não havia ninguém além de nós e aqueles zumbis no prédio todo.

Fechamos a porta e arrastamos uma mesa para frente dela, e, quando olhei de novo, havia uma pilha de poltronas e mesas bloqueando a abertura. Nós dois recuávamos aos poucos, de olho na porta e no movimento que as coisas faziam com o esforço dos zumbis do outro lado. O medo me consumia. O que faríamos se eles conseguissem entrar? Como eu tinha conseguido ser tão estúpida de entrar ali, depois de tudo o que eu já havia feito?

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