Narração da Marcela:
Eu entrei em choque, não tinha forças pra dizer nada a ninguém, eu apenas chorava silenciosamente nos braços do Bernardo. A sensação que eu tinha é que eu estava sem chão, com pernas bambas tentando se equilibrar em uma superfície que não existia.
Eu perdi completamente noção de que horas eram, de que dia era, de quem eu era e o porquê aquilo estava acontecendo com a minha mãe. Nosso bairro era muito seguro, nunca havia ouvido falar nada de violência e por isso escolhemos ele quando viemos de São Paulo. Não fazia sentido. Minha mãe não reagiria a um assalto, era uma história que não se encaixava com a realidade.
Fiquei quase uma hora apenas chorando lá e quietinha. Não podia imaginar que a minha mãe estava no hospital. E por um lapso de segundo eu me lembrei do Bruno, mas eu custava a acreditar que a maldade dele beirava isso. Eu precisava que o Bernardo me dissesse, ao contrário eu não acreditaria. Eu só acreditaria se ele me confirmasse, e eu sabia que ele não iria mentir pra mim, mesmo que doesse, mesmo correndo o risco de me perder para sempre.
- Foi ele? – olhei para o Bernardo. Algo no meu coração me dizia que o Bruno tinha alguma coisa a ver com isso.
Bernardo olhou no fundo dos meus olhos e assentiu. Eu senti mais dor ainda, era como se alguém pegasse meu coração e puxassem para fora. Eu jamais imaginaria que a maldade dele chegasse nesse ponto, que eram ameaças reais, coragem real de fazer maldade.
Além disso a minha mente ecoava que eu estava pagando por um passado que não me pertencia, não era minha história. Minha mãe estava pagando com a vida por algo que ela nem sequer tinha ciência.
- Me leva pro hospital, por favor – sussurrei pro Bernardo
- Eu vou te levar, amor, mas não agora. O Pedro está nos avisando sobre tudo, e vamos assim que tivermos informações concretas. Você está grávida, não se esqueça disso – ele disse e eu o olhava – Está mais calma? – ele perguntou e eu não conseguia responder – Ok, vamos pro quarto – ele disse me guiando pra dentro da casa.
- Quero ir pra minha casa – disse baixinho
- Ok, vamos – ele disse
- Minha casa, não a casa do meu pai – disse o olhando e ele parecia surpreso
- Não acho que seja uma boa ideia – ele disse – Deve estar cheio de polícia lá, perícia, investigações, eu não sei nem se pode entrar – ele completou. Não me importei, eu queria ir. Eu precisava ver com meus olhos o que tinha acontecido.
- Eu PRECISO que me leve, se não eu vou sozinha – disse soluçando e ele me levou pro carro mesmo contrariado.
Dirigiu em silêncio até minha casa, e assim que entramos na rua já conseguia ver muitas viaturas de polícia, e quando paramos na frente de casa vi tudo interditado. Desci do carro praticamente em movimento e fui correndo tentar entrar, porém, um policial me parou
- Não pode entrar, estamos fazendo perícia – ele disse e eu comecei a chorar
- Era a minha mãe, eu preciso ver... – sussurrei e vi o Bernardo se aproximar. O policial parou para responder um outro rapaz e eu saí correndo e entrei. Escutei seus gritos atrás de mim, mas não me importei, pois eu precisava ver.
Assim que entrei na cozinha tinham outras pessoas analisando mas eu pude ver as manchas de sangue no chão na cozinha, panelas no fogão, e a torneira aberta. Ela estava fazendo o jantar, com certeza, quando foi surpreendida. Senti que minha cabeça iria explodir de tanta dor.
- Eu entendo que ela era sua mãe, mas você não pode ficar aqui por enquanto. Assim que a perícia liberar, você vai poder voltar aqui – o mesmo policial disse pra mim – Eu sinto muito – ele parecia comovido e o Bernardo em silêncio foi me guiando para fora.
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Ninguém além de você
RomanceMarcela Cardoso é uma garota de 17 anos que foi criada desde que nasceu pela mãe, Jaqueline, e pelos avós maternos, já que fora abandonada ainda quando no ventre de sua mãe, pelo pai, o qual nem chegou a conhecer. Paulistana de carteirinha, sua vid...